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    ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2008

esquina

Exéquias

O último adeus aos amigos fiéis

Dafne Sampaio | Edição 24, Setembro 2008

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Dois dos três tenores – Pavarotti e Plácido Domingo – estão lá, enterrados bem perto de três companheiros de cantoria da pá virada: Prince, James Brown e Janis Joplin. A poucos metros está o pugilista Maguila, seguido de Sócrates – o filósofo, não o jogador – e da princesa Diana. Não faltam celebridades nessa necrópole. Estão cercadas de uma multidão de anônimos que entraram no mistério insondável da morte carregando nomes mais prosaicos: Lassies, Snoopys, Scoobys e, claro, uma dezena de Laicas (por um estranho acaso do destino, não há um único Rex no local).

No Jardim do Amigo, o maior cemitério de animais do país, localizado a 35 quilômetros de São Paulo, tudo é planejado com respeito e marketing, em memória aos 8 mil bichinhos falecidos. O terreno, arborizado, por onde corre um doce riacho, é dividido em setores que levam nomes arcádicos, como Colinas e Pinheiros. Fechando os olhos, é quase possível ouvir liras plangentes tangidas por pastores de toga e sandália. As lápides, todas iguais, brotam da terra, dispostas nas alamedas do Carinho, da Lua, da Brisa e do Amanhecer. A poesia está em todo lugar. O preço é menos etéreo. Uma cova varia conforme o porte do animal e a localização. Em lugar nobre, um chiuaua enterrado em Pinheiros sai a 914 reais, contra 982 para um dogue alemão. É razoável, levando-se em conta a diferença de massa canina. Já para hamsters e coelhos, a tarifa cai para 190 reais. O pacote VIP, que inclui transporte e velório para animais de grande porte, gira em torno de 1 300 reais. O Jardim do Amigo está bem preparado para o cliente recalcitrante (e desalmado) que porventura vier a hesitar diante do preço salgado: um panfletinho na recepção usa dos melhores argumentos para amaciar qualquer dureza de espírito. Lá, se lê: “Não permita que seu animalzinho tão querido seja incinerado junto com restos hospitalares.”

 

O Jardim do Amigo foi inaugurado há quinze anos como filial brasileira do Jardín del Amigo, de Buenos Aires. A proprietária dos dois, a argentina Adriana Kreuzer, fora lançada na atividade funerária na década de 80 pelas artes do acaso. O imenso desamparo que sentira após a morte de seu bichano só não foi maior do que o espanto de descobrir que não havia lugar digno para enterrar seu companheiro de tantos anos. Depois de muito chorar, ela bateu na testa e teve a idéia: bumba! A iniciativa deu certo e, em tempos de Mercosul, Adriana resolveu expandir seus negócios para o Brasil. Hoje, a equipe do Jardim do Amigo enterra por mês sessenta bípedes, quadrúpedes e demais criaturas do reino animal – 80% dos finados são cães, 15%, gatos, e o resto é formado por chinchilas, doninhas, lontras, tartarugas e um galo chamado Pintinho. Após o sepultamento, o cliente se compromete a pagar uma taxa anual de manutenção, que vai de 160 a 330 reais. O uso de caixões, sempre solicitado, foi abolido por atrasar o processo de decomposição.

 

Numa manhã de julho, a aposentada Ligia Damasceno, mãe dos gatinhos Léo, falecido em maio aos 16 anos, e Dolly, que morrera naquele mesmo dia, após anos a seu lado sem nunca lhe faltar, viera ao cemitério para a despedida final. Ligia tomara conhecimento do cemitério por intermédio do veterinário: “Não sabia da existência disso, mas sempre pensei em enterrá-los, assim como minha mãe foi enterrada, e como eu serei.”

Informada de que a pequena cova na alameda da Brisa está pronta, Ligia vai até o carro, pega Dolly, que está enrolada num cobertor xadrez, e a leva à sala de velório. O pequeno cômodo está abarrotado de mensagens, brinquedinhos, fotos, desenhos e imagens de são Francisco de Assis, o santo que falava com passarinhos e é o protetor dos animais. Delicadamente, Ligia põe a gata branca sobre uma mesa, e chora: “Sinto falta de uma cerimônia religiosa para os bichinhos. Não ia fazer mal nenhum.” Após dez minutos de soluços, ela se dirige ao local do enterro.

Um funcionário cobre o fundo da cova com um plástico, envolve Dolly numa manta branca de algodão e deposita o corpo a três palmos do chão (Léo, o outro gato, está um pouco abaixo, a sete palmos). Uma pá vai lançando terra sobre a gata. Ligia joga duas pequenas flores na cova e é invadida por uma imensa empatia por todos os animais: “É muita maldade o que se tem feito aos bichos, muito abandono e judiação.” O barulho pungente que quebra o silêncio a cada novo punhado de pó e cascalho que atinge o corpinho é daqueles que Ligia guardará para sempre na memória.

 
Dafne Sampaio

é jornalista em São Paulo. Colabora atualmente para veículos como a Forbes Brasil, a Revista Monet e a BBC Brasil, mas já contribuiu para a revista Pesquisa Fapesp, o portal Drauzio Varella, o jornal Folha de São Paulo e a revista Trip

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