CRÉDITO: ANDRÉS SANDOVAL_2023
Habitação antissocial
Em São Paulo, apartamentos minúsculos garantem a garagem das coberturas
Ana Clara Costa | Edição 208, Janeiro 2024
Quem passava pela Rua Padre João Manuel, entre as alamedas Jaú e Itu, em São Paulo, raramente deixava de dar uma espiada em um palacete antigo cercado por uma folhagem extensa e uma grade acinzentada. Espremido entre um edifício residencial e o prédio do Instituto Madre Vicunha, uma associação católica, o casarão no bairro dos Jardins foi projetado pelo mesmo escritório que desenhou o Viaduto do Chá, cartão-postal da capital. De estilo arquitetônico eclético, era uma das poucas construções do início do século XX que ainda restavam na região da Avenida Paulista, onde quase nenhum passado se preserva.
Em 2016, o tombamento do casarão foi requerido pelo Departamento do Patrimônio Histórico de São Paulo. Os proprietários, herdeiros do empresário Alberto Alves Filho, ex-dono do Mappin, ficaram apreensivos com essa possibilidade, que reduziria drasticamente a atratividade do imóvel no mercado, uma vez que não poderia ser derrubado. Dois anos depois, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental arquivou o pedido de tombamento, alegando que não havia “sentimento de pertencimento” da coletividade em relação ao casarão. A pedido dos moradores, o Ministério Público do Estado de São Paulo recorreu, mas perdeu. Os donos se apressaram em vender a propriedade. Quem a comprou foi a Marquise Incorporações, por cerca de 50 milhões de reais, segundo consta na matrícula.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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