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    ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2016

esquina

I don’t speak english

Um tradutor gaúcho na Bahia

Paulo Raviere | Edição 124, Janeiro 2017

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Finalmente o gaúcho José Francisco Botelho, tradutor de Geoffrey Chaucer e William Shakespeare, teve a oportunidade de conhecer o Nordeste – um encontro que, por caminhos tortos, sua lida com os escritores da velha Albion já havia antecipado, como se verá adiante. “Quando resolvi traduzir Os Contos da Cantuária, obra-prima de Chaucer, sugeriram que eu o fizesse em prosa, porque hoje muitos associam a poesia a uma leitura difícil. Em vez disso, achei melhor me manter fiel ao original e optei por uma tradução que resgatasse o sabor do verso, esse prazer ancestral”, explicou Botelho, com marcado sotaque sulino, durante uma palestra no café do Teatro Vila Velha, em Salvador. Natural de Bagé, na fronteira com o Uruguai, o intérprete de 36 anos parecia se sentir em casa.

Àquela altura já dera duas entrevistas para a imprensa local, comera polvo, bebera cravinho, narrara a aventura de seu tataravô na Guerra do Paraguai, vira o pôr do sol na Baía de Todos os Santos e se ajoelhara na escadaria da Igreja de Santa Bárbara, seguindo o exemplo de Zé do Burro na peça O Pagador de Promessas. “Enquanto me debruçava sobre Os Contos da Cantuária, ouvia basicamente canções fronteiriças gaúchas, conhecidas como pajadas, e versos populares nordestinos – repentes, cordéis, toadas. Pela manhã, escutava A Morte do Vaqueiro, com Luiz Gonzaga, e me sentia inspirado a traduzir vinte páginas de uma vez.”

A estratégia funcionou. Sua versão do clássico de Chaucer, escrito no século XVI, saiu em 2013 e, um ano depois, conquistou o segundo lugar no prêmio Jabuti, a láurea mais tradicional do mercado editorial brasileiro. Também em 2014, Botelho recebeu uma carta manuscrita do medalhão Ivan Junqueira, que morreria em julho daquele ano. “Jamais passou por minha cabeça que se pudesse verter Chaucer para nosso idioma com tamanha fluência, elegância, concisão e inteligência métrico-rítmica”, derreteu-se o carioca, famoso por transpor poetas como Charles Baudelaire, T. S. Eliot e Giacomo Leopardi.

 

 

A palestra, no histórico teatro em que Caetano Veloso e Gilberto Gil fizeram suas primeiras apresentações, marcava o lançamento de uma nova tradução de Romeu e Julieta, concluída por Botelho em apenas quatro meses. “Percebi uma afinidade métrica entre o Sul e o Nordeste: o uso do martelo agalopado nos cordéis e nas pajadas”, disse, referindo-se aos poemas em que cada estrofe possui dez versos decassílabos. A seguir, com estalos da língua e batuques de dedos, demonstrou como se contam as sílabas poéticas. Um holofote fervia atrás dele. O gaúcho já estava sem o blazer, em mangas de camisa. Suava. “O Nordeste vive em mim desde então”, garantiu com dicção épica.

Gente das letras e do meio teatral integrava a plateia. Botelho falava com tal desenvoltura que dava a impressão de conhecer todos ali. “Traduzi Romeu e Julieta buscando um texto que soasse bem tanto nos palcos quanto fora deles”, esclareceu em ritmo agalopado, como se estivesse com pressa. “Adaptei detalhes muito específicos, para que funcionassem hoje. Por outro lado, tudo ainda precisava soar shakespeariano. Então, não pense que lá você vai encontrar palavras como ‘acarajé’ ou ‘aipim’”, frisou. O público achou graça.

“Também devo confessar que cometi a ousadia de alternar os decassílabos, nas partes mais rápidas, com os dodecassílabos, nas mais lentas”, prosseguiu. “Geralmente, escolhe-se uma métrica e segue-se assim até o final, mas por enquanto não vi ninguém reclamar do meu atrevimento.” Havia muitos jovens interessados na palestra. Uma trupe do Teatro Vila Velha iria encenar Romeu e Julieta dali a uma semana. “Se às vezes vocês não entendem o que digo, é porque me expresso em decassílabos, e vocês, da Bahia, em dodecassílabos.” A plateia riu com gosto do gaúcho acelerado.

 

 

No dia seguinte, Botelho se arriscou a provar dendê pela primeira vez. Foi no Porto do Moreira, um apertado restaurante do Largo Dois de Julho. Em companhia de ruidosos baianos, o tradutor mandou brasa nas moquecas de pescado amarelo e siri catado. Mas, poucas horas depois do almoço gorduroso, anunciou que estava tendo um “revertério” e que talvez não conseguisse sair do hotel.

À noite, por causa do trauma vespertino, o bajeense evitou consumir álcool ao visitar o Bar do Espanha, no bairro dos Barris. Na véspera, já havia ido lá e conhecera o barman Joseph Sleiman, libanês como os avós do tradutor. O balcão do Espanha se sustentava sobre caixas de cerveja empilhadas. As mesas ficavam na calçada. Botelho e o barman papearam algum tempo a respeito do Líbano. Quando afinal trocaram palavras em árabe, Sleiman desferiu, sem remorsos: “Não está bom. Você precisa estudar mais o idioma.”

Dono de feições características do Oriente Médio – barba negra, nariz adunco e olhar aquilino –, Botelho frequentemente é confundido com estrangeiro. Não seria diferente em Salvador. Saindo de uma taverna no Terreiro de Jesus, famosa praça do Centro Histórico, o tradutor se defrontou com um sujeito inquieto, que lhe fazia ofertas as mais diversas. “Exchange! Exchange!”, anunciou. O gaúcho seguiu adiante, em silêncio, como se o homem abordasse outra pessoa. O caça-turistas, porém, não se deixou abalar e soltou seu ás: “How many girls do you want? Three, four, five?” Nas frases, bem pronunciadas, ainda se ouvia um pouco do sotaque baiano. Sem interromper os passos, o expert em Shakespeare voltou-se na direção do rapaz, balançou o indicador negativamente e respondeu: “Sorry, I don’t speak English.”

 
Paulo Raviere

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