MAHBOBA REZAYI_A artista afegã recriou em sua pintura mural a estátua de Buda no Vale de Bamiyan destruída por ordem do governo talibã em 2001
Imagens do mundo
Uma galeria de pinturas de artistas variados no muro de um canteiro de obras
| Edição 196, Janeiro 2023
Em março de 2021, quando o Brasil ainda sentia os efeitos sociais da pandemia, com a economia parada e o aumento do desemprego, Luciana Capobianco, fundadora e diretora da ONG Estou Refugiado, recebeu uma ligação do artista visual congolês Lavi Kasongo Israël. Ele era um dos refugiados atendidos pela entidade paulistana, e comentou por telefone que estava com dificuldades de encontrar trabalho. Para ajudá-lo, Capobianco sugeriu que Israël fizesse uma pintura no tapume da casa dela, que estava em obras. O artista topou. Ela fez uma live no Facebook apresentando a pintura e explicou que fazia parte de uma iniciativa da ONG para ajudar os refugiados – o projeto Cores do Mundo.
Com a repercussão obtida pela live, Capobianco decidiu fazer um vídeo com outros artistas, explicando a relação de cada um deles com a cultura de seus países. Também procurou empresas para propor que encomendassem trabalhos. A Chocolates Dengo foi a primeira que topou: alguns artistas, entre eles Lavi Israël, fizeram um painel de 30 m2 na sede da companhia. Depois, chegaram pedidos de construtoras de São Paulo interessadas em pinturas para os tapumes de suas obras. Logo, Capobianco começou a receber e-mails de pessoas que queriam comprar as pinturas feitas nos tapumes. As obras eram recortadas e levadas para as casas dos compradores. Ela mesma comprou um painel de Israël para colocar na sala da sua residência.
A empresa canadense Brookfield, um conglomerado de logística, infraestrutura e mercado imobiliário, fez a maior encomenda até agora: a pintura do muro de um canteiro de obras de 400 m2 de extensão, na Vila Leopoldina, na Zona Oeste de São Paulo. Como o espaço era enorme, Capobianco dividiu o muro em partes para que 15 artistas – sendo 10 refugiados, 1 argentino e 4 brasileiros – pintassem seus painéis homenageando 32 países. (Os brasileiros do projeto são: André Firmiano, Larissa Anne, Nene Surreal e Presto.) O trabalho coletivo foi inaugurado em dezembro passado e alguns deles foram fotografados para este portfólio da piauí.
Os muros e tapumes viraram as galerias desses artistas que não tinham onde expor seus trabalhos. Porém, segundo Capobianco, eles estão começando a deixar as ruas e a ganhar espaços em instituições, como o Istituto Europeo di Design, escola em São Paulo que já os contratou para algumas obras.
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