"O mundo está cheio dessas feiras de exposição em que médicos ganham Big Macs e fondues de chocolate, se empanturram de brindes, gastam horas ouvindo discursos publicitários, recebem afagos psicológicos de aduladores profissionais e brincam com embalagens que salvam pacientes virtuais" FOTO: LEOPOLDO PLENTZ_2015
Intoxicado de ofertas
Pesquisador visita congresso médico, tenta sobreviver ao marketing da indústria farmacêutica e sai com uma parafernália de brindes
Olavo Amaral | Edição 108, Setembro 2015
29 DE ABRIL, QUARTA-FEIRA_Na escuridão de sua cela, Paula espera por mim. Para salvá-la, atravesso os corredores da prisão, permeados de objetos ameaçadores criados por computação gráfica. Desvendo enigmas, cujas respostas são indicadas por letras em negrito, e escolho as portas que me levarão a seu cativeiro: a cela da depressão. Quando a encontro, Paula está de costas e não nota minha presença. Mas não há mais charadas. Só resta uma saída para despertá-la.
O representante do laboratório Libbs me sussurra o desfecho. “Doutor, agora basta um gesto para libertar a paciente.” Ele aponta a caixa de Reconter® (escitalopram 10 mg) sobre a mesa. Apanho a embalagem, passando-a em frente a uma câmera. Em segundos a cela desaparece e surge um campo verdejante. Ainda que o rosto computadorizado de Paula não seja tão atraente como parecia na foto mostrada no início do jogo, sei que meu gesto a salvou, e isso basta. Ou quase.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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