ILUSTRAÇÃO:BOB DYLAN_ENDLESS HIGHWAY 3_2015 / 2016_HALCYON GALLERY
Letras (1961─1974)
Bob Dylan | Edição 126, Março 2017
THE TIMES THEY ARE A-CHANGIN’[1]
Come gather ’round people
Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You’ll be drenched to the bone
If your time to you is worth savin’
Then you better start swimmin’ or you’ll sink like a stone
For the times they are a-changin’
Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won’t come again
And don’t speak too soon
For the wheel’s still in spin
And there’s no tellin’ who that it’s namin’
For the loser now will be later to win
For the times they are a-changin’
Come senators, congressmen
Please heed the call
Don’t stand in the doorway
Don’t block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There’s a battle outside and it is ragin’
It’ll soon shake your windows and rattle your walls
For the times they are a-changin’
Come mothers and fathers
Throughout the land
And don’t criticize
What you can’t understand
Your sons and your daughters
Are beyond your command
Your old road is rapidly agin’
Please get out of the new one if you can’t lend your hand
For the times they are a-changin’
The line it is drawn
The curse it is cast
The slow one now
Will later be fast
As the present now
Will later be past
The order is rapidly fadin’
And the first one now will later be last
For the times they are a-changin’
OS TEMPOS ESTÃO MUDANDO
Vem pra cá, pessoal
Por onde quer que vocês andem
E admitam que as águas
Em volta de vocês subiram
E aceitem que logo
Vão estar encharcados até os ossos
Se vocês acham que vale a pena salvar o seu tempo
Então é melhor começar a nadar pra não afundar como pedra
Porque os tempos, eles estão mudando
Venham, autores e críticos
Que profetizam com a pena
E fiquem de olhos abertos
A chance não vai voltar
E não falem cedo demais
Pois a roda ainda gira
E não há como saber quem ela vai nomear
Pois o perdedor agora vai depois vencer
Porque os tempos, eles estão mudando
Venham, senadores, deputados
Por favor ouçam o chamado
Não fiquem parados na porta
Não travem o corredor
Pois quem for ferido
Será quem tiver demorado
Há uma luta lá fora que está enfurecida
Ela logo vai sacudir as janelas e balançar as paredes
Porque os tempos, eles estão mudando
Venham, mães e pais
De todo o país
E não critiquem
O que vocês não entendem
Seus filhos e filhas
Não vão mais obedecer
Sua velha estrada envelhece veloz
Por favor saiam da nova se não conseguem dar a mão
Porque os tempos, eles estão mudando
A linha está traçada
A praga está rogada
A lenta, agora
Será mais tarde acelerada
Enquanto o presente agora
Depois será passado
A ordem está se apagando rápida
E o primeiro agora vai depois ser último
Porque os tempos, eles estão mudando
***
BLOWIN’ IN THE WIND[2]
How many roads must a man walk down
Before you call him a man?
Yes, ’n’ how many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand?
Yes, ’n’ how many times must the cannonballs fly
Before they’re forever banned?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind
How many years can a mountain exist
Before it’s washed to the sea?
Yes, ’n’ how many years can some people exist
Before they’re allowed to be free?
Yes, ’n’ how many times can a man turn his head
Pretending he just doesn’t see?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind
How many times must a man look up
Before he can see the sky?
Yes, ’n’ how many ears must one man have
Before he can hear people cry?
Yes, ’n’ how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind
SOPRA NO VENTO
Quantos caminhos há de um homem percorrer
Antes de se dizer que ele é um homem?
Sim, e quantos mares há de uma pomba branca navegar
Antes de adormecer nas areias?
Sim, e quantas vezes voarão as bolas de canhão
Antes de serem proibidas pra sempre?
A resposta, meu amigo, sopra no vento
A resposta sopra no vento.
Quantos anos há de uma montanha existir
Antes de ser levada pelo mar?
Sim, e quantos anos pode um povo existir
Antes do direito de ser livre?
Sim, e quantas vezes pode um homem virar a cabeça
E fingir que simplesmente não enxerga?
A resposta, meu amigo, sopra no vento
A resposta sopra no vento
Quantas vezes há de um homem erguer os olhos
Antes de poder ver o céu?
Sim, e quantos ouvidos há de um só homem ter
Antes de poder ouvir os gritos?
Sim, e quantas mortes há de haver antes de ele saber
Que gente demais já morreu?
A resposta, meu amigo, sopra no vento
A resposta sopra no vento
***
LIKE A ROLLING STONE[3]
Once upon a time you dressed so fine
You threw the bums a dime in your prime, didn’t you?
People’d call, say, “Beware doll, you’re bound to fall”
You thought they were all kiddin’ you
You used to laugh about
Everybody that was hangin’ out
Now you don’t talk so loud
Now you don’t seem so proud
About having to be scrounging for your next meal
How does it feel
How does it feel
To be without a home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?
You’ve gone to the finest school all right, Miss Lonely
But you know you only used to get juiced in it
And nobody has ever taught you how to live on the street
And now you find out you’re gonna have to get used to it
You said you’d never compromise
With the mystery tramp, but now you realize
He’s not selling any alibis
As you stare into the vacuum of his eyes
And ask him do you want to make a deal?
How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?
You never turned around to see the frowns on the jugglers and the clowns
When they all come down and did tricks for you
You never understood that it ain’t no good
You shouldn’t let other people get your kicks for you
You used to ride on the chrome horse with your diplomat
Who carried on his shoulder a Siamese cat
Ain’t it hard when you discover that
He really wasn’t where it’s at
After he took from you everything he could steal
How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?
Princess on the steeple and all the pretty people
They’re drinkin’, thinkin’ that they got it made
Exchanging all kinds of precious gifts and things
But you’d better lift your diamond ring, you’d better pawn it babe
You used to be so amused
At Napoleon in rags and the language that he used
Go to him now, he calls you, you can’t refuse
When you got nothing, you got nothing to lose
You’re invisible now, you got no secrets to conceal
How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?
COMO UMA PEDRA QUE ROLA
Era uma vez um tempo em que você se vestia tão bem
Jogava uma moeda pros mendigos nos melhores dias, não é?
As pessoas ligavam, diziam “Cuidado, boneca, você há de tomar um tombo”
Você achava que estava todo mundo te sacaneando
Você ria
De todo mundo que estava por ali
Agora você não fala tão alto
Agora você não parece tão altiva
De ter que ficar pedinchando pra poder comer
Como é que é
Como é que é
Estar sem casa
Como uma total desconhecida
Como uma pedra que rola?
Você foi sim pra melhor escola, Senhorita Solidão
Mas você sabe que só ia pra ficar bêbada
E ninguém te ensinou a viver na rua
E agora você descobre que vai ter que se acostumar
Você disse que nunca ia se acertar
Com o vagabundo misterioso, mas agora percebe
Que ele não está vendendo álibis
Enquanto você encara o vazio dos seus olhos
E pergunta a ele, quer fazer um pacto?
Como é que é
Como é que é
Estar sem ninguém
Sem um caminho pra casa
Como uma total desconhecida
Como uma pedra que rola?
Você nunca se virou pra ver a careta de malabaristas e palhaços
Quando desciam pra se exibir pra você
Você nunca entendeu que não adianta nada
Que você não devia deixar os outros curtirem o seu barato
Você andava no seu cavalo cromado com o seu diplomata
Que levava no ombro um gatinho siamês
Não é duro quando você descobre que
Ele no fundo não estava onde devia
Depois que levou de você tudo que conseguiu roubar
Como é que é
Como é que é
Estar sem ninguém
Sem um caminho pra casa
Como uma total desconhecida
Como uma pedra que rola?
Princesa na torre e toda a gente bonita
Bebendo, pensando que chegou lá
Trocando tudo quanto é presente ou coisa preciosa
Mas é melhor você tirar esse anel de brilhante, melhor penhorar, amor
Você achava tão divertido
O Napoleão esfarrapado e a língua que ele usava
Vai falar com ele agora, ele está chamando, você não pode negar
Quando você não tem nada, não tem nada que entregar
Você agora é invisível, não tem mais segredos pra ocultar
Como é que é
Como é que é
Estar sem ninguém
Sem um caminho pra casa
Como uma total desconhecida
Como uma pedra que rola?
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Trechos do livro Letras (1961–1974), de Bob Dylan, a ser lançado em abril pela Companhia das Letras.
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[1] Em The Times They Are A-Changin, de 1964.
[2] Em The Freewheelin’ Bob Dylan, de 1963.
[3] Em Highway 61 Revisited, de agosto de 1965.