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Max Martins (1926-2009)
Max Martins | Edição 99, Dezembro 2014
VIAGEM
a C. S.
o rio que eu sou
não sei
ou me perdi
MAR-AHU
Não
é a ilha
Não
é a praia
E o mar
(de nos fazermos ao)
é só um nome
sem
a outra margem
TEU POEMA
Sonha-me! que te sonho: tenho esta viagem
que tua estrela crespa, Margaret, das axilas sopra
o herzoguiano barco (au fond
des golfes bruns)
se debatendo, bêbado
nesta garganta
Barco
que arrasto e sirgo selva adentro
(águas
caídas, ecos
da palavra madura, esperma, água sombrada)
e o meu Poema indo
ao léu das febres, ao
que almejo em ti – a Outra Margem
ESTA ÉGUA QUE PASTA A GEOGRAFIA
Esta égua que pasta a geografia
de meu túmulo
deu-me
o leite dos infernos.
Na emboscada do cio
seu fogo
fustigou-me o fígado
e fê-lo
estigma, lama. E a sina,
do verbo corrompido fez o signo-fruto
corroído
que ela enterrou e canto.
Seu coice foi infinito.
PEDRA DE MÚSICA
Os sons da água
nas bocas da pedra
Gozos da água
nos dentros da pedra
ISTO POR AQUILO
Impossível não te ofertar:
O rancor da idade na carga do poema
O ronco do motor numa garrafa
Ou isto
(por aquilo
que vibrava
dentro do peito) o coração na boca
atrás do vidro a cavidade
o cavo amor roendo
o seu motor-rancor
– ruídos
O CALDEIRÃO
Aos sessenta anos-sonhos de tua vida (portas
que se abrem e fecham
fecham e abrem
carcomidas)
ferve
a gordura e as unhas das palavras
seu licor umbroso, teus remorsos-pelos
Ferve
e entorna o caldo, quebra o caldeirão
e enterra
teu faisão de jade do futuro
teu mavioso osso do passado
Agora que a madeira e o fogo de novo se combinam
e o inimigo n° 1 já não te enxerga
ou vai-se embora
varre a tua cabana e expõe ao sol tua língua
tua esperança tíbia
o tigre da Coreia da parede
É lícito tomar agora a concubina
E despentear na cama a lua escura, o ideograma