Nos cafés de Chaouen e na maioria de seus restaurantes, hotéis e pousadas, o consumo de haxixe é tolerado da porta para dentro. O ritual não muda: o freguês quebra um cigarro perto da base, separa o filtro e mescla o haxixe ao fumo. Depois enrola a mistura em papel de seda king-size, e gruda o filtro a uma das pontas. O resultado é um cigarro cônico de quase 15 centímetros FOTOS: SWIATOSLAW WOJTKOWIAK_WWW.NYGUS.INFO
Na rota do Kif
"Madame tranqüila", "reggae marroquino", "busca-vidas" são alguns termos da língua franca falada nas verdejantes plantações de maconha que se esparramam pelo norte do país. Oitocentos mil marroquinos
Guilherme Russo | Edição 25, Outubro 2008
No verão, quando bate o sol e sopra um ventinho leve nas baixadas da cordilheira do Rif, no norte do Marrocos, a fragrância que prevalece no ar é de maconha fresca. O povoado de Asar aparece à beira da estrada como a porta de entrada para os verdes campos da erva, que se esparramam por uma área de mais de 1 milhão de metros quadrados. O viajante que perambula ali está cercado por plantações da “madame tranqüila” por todos os lados. O apelido afetuoso mistura as duas línguas dos principais mercados consumidores, o espanhol e o francês. Fotos de satélite mostram que todo o norte marroquino está tomado pela planta.
A temperatura beira os 40 graus no início da tarde. Do banco de trás de um táxi compartilhado, o vendedor de tapetes Hassan, de 24 anos, ajeita o boné largo na cabeça. Sorridente, aponta um dedo para fora da janela do Mercedes velho, que acelera perigosamente pela estrada sinuosa. “Olha!”, diz depois de uma curva, arregalando os olhos redondos. “Todo o verde claro é kif“, afirma contente, diante de uma paisagem montanhosa imponente, de tirar o fôlego. Kif é a palavra que designa a maconha no Marrocos. Os milhares de pés da erva rabiscam o verde claro dos cultivos da erva, que aparecem entrecortados por campos de trigo e frutas. Até as encostas mais altas, onde o solo já começa a se esvair em pedras, chegam as resistentes plantações de kif.
Muitos dos campos de maconha não têm cercas, e a maioria das plantas começava a amadurecer. Hassan explicou que o uso de Cannabis sativa foi introduzido no Marrocos no século VII, quando a região berbere foi conquistada pelos árabes. Foram os muçulmanos que trouxeram a erva para o Ocidente em suas caravanas. Apesar de proibida desde 1956, quando o reino marroquino retomou seu território dos espanhóis e dos franceses, a maconha sempre foi tolerada. Aos olhos de Alá, é pior beber álcool do que fumar o kif. Pelo menos no Marrocos.
O haxixe é a resina extraída da planta da maconha. E o Marrocos, seu maior exportador. A seiva e o azeite da planta, misturados ao pólen dos florescimentos da maconha esmagada, é o que se fuma quando o haxixe é marroquino. O composto é concentrado. Estima-se que a cada 100 quilos de maconha se produza apenas 2 de haxixe. A extração marroquina colhe das plantas todo o tetraidrocanabinol, o THC, o princípio ativo da maconha. Quando está fresco, o haxixe parece uma pasta, com a cor entre o verde e o marrom. Pontinhos brilhantes de pólen crivam a resina recém-extraída. Picada ou esticada em cobrinhas, a droga é fumada pura, ou misturada ao tabaco. Há ainda quem coma o haxixe, que serve de ingrediente de doces excêntricos.
O efeito do haxixe marroquino é semelhante ao das mais fortes maconhas paraguaias fumadas no Brasil, mas bem mais poderoso. Surtos de alucinação podem confundir a vista em emaranhados psicodélicos. O fumante fica mais aceso, desperto. Mas quando o revertério chega, é arrasador.
Vestido conforme as regras do profeta – com a cabeça, o tórax e os joelhos cobertos –, Hassan disse que Asar sempre foi uma região seca, onde apenas plantas resistentes, como o kif, faziam frente à adversidade. Ao contrário do que pensa a maioria dos consumidores europeus, apenas no final dos anos 60 começou-se a extrair e a fumar o haxixe marroquino em larga escala. Antes disso, só se fumava maconha pura.
Todo o norte do país se desenvolveu muito por conta da produção e da exportação do haxixe. Depois de um boom nos anos 80 e 90, alavancado por europeus atraídos pela resina, as plantações de maconha chegaram a cobrir 134 mil hectares. A exportação de haxixe para a Europa chegou a mais de 3 mil toneladas ao ano. Em 2005, porém, uma forte seca fez com que a área cultivada caísse quase que pela metade. Ainda assim, a produção atual rende 1,5 bilhão de euros ao ano, o equivalente a mais de 10% do total de exportações marroquinas.
Há sete anos, chegaram à região as primeiras mudas paquistanesas da erva. Por ser alta e robusta, a maconha do Paquistão precisa de mais água para enfrentar o sol que bate no Rif, mas poços artesianos resolveram a equação. O haxixe extraído do original paquistanês tem mais sabor e um poder de alucinação maior do que o produto bruto. Hoje, o kif paquistanês divide a paisagem com as plantas marroquinas tradicionais, que, menores, têm aspecto mais duro e menos folhas.
Desci do carro e caminhei ladeira acima. Um quilômetro depois cheguei à plantação que Mustafá – um jovem atarracado, crivado de cicatrizes – cultiva nas terras do pai. De um barraco branco de alvenaria e teto de zinco, com três cômodos e o banheiro do lado de fora, o camponês controla seus 25 mil metros quadrados de maconha paquistanesa. Mustafá perguntou se eu tomara o café-da-manhã. Ao saber que não, abriu um sorriso com apenas a metade dos dentes na boca, correu para a cozinha e vestiu um avental.
De um cômodo vizinho saiu Ahmed, que se apresentou como ator de cinema. Ele mora em Casablanca e é o sócio capitalista da plantação. Ahmed se propôs a demonstrar o que é o “reggae marroquino” – procedimento que extrai a resina do haxixe da maconha. O “reggae” toma corpo, disse ele, quando dezenas de plantas são enfileiradas no mesmo sentido, em cima de um tecido esticado sobre a boca de um balde com pouco mais de 1 metro de diâmetro e 40 centímetros de altura. Sobre a instalação, é colocado um plástico resistente. As plantas são então malhadas com pedaços de paus parecidos com cabos de vassouras cortados. E o tecido funciona como um coador. “Tudo que entrar no balde, pode fumar”, explicou Ahmed.
Ele andou até a sombra de uma figueira à margem do campo com outros três conterrâneos. A brisa soprava suavemente, impregnada pelo odor doce da evaporação das plantações. Debaixo da árvore, Ahmed passou entre os presentes um embrulho com haxixe. Garantiu que ele tinha origem naquela mesma plantação, da colheita do ano anterior. Os três marroquinos deram uma demonstração de destreza e habilidade ao enrolar os baseados. Nessa parte do Marrocos, os cigarros não passam de mão em mão. Cada um enrola e fuma o seu.
Para atenuar o efeito da droga, mistura-se tabaco ao haxixe. O ritual é sempre o mesmo: o freguês quebra um cigarro industrializado perto da base, separa o filtro e mescla o haxixe ao fumo. Depois enrola a mistura em papel de seda king-size, e gruda o filtro a uma das pontas. O resultado é um cigarro cônico de quase 15 centímetros.
Hassan, o vendedor de tapetes, quis demonstrar a diferença entre os haxixes marroquino e paquistanês. Segurando duas porções nas pontas dos dedos, ele as aqueceu com um isqueiro. Surgiram bolhas nas resinas, como se elas estivessem fervendo. A amostra do haxixe marroquino borbulhou menos que a paquistanesa. “O que evapora é o azeite”, explicou. O azeite de maconha é uma gosma grudenta, que costuma ser passada no papel dos baseados para vitaminar a alucinação. O cheiro cru é meio químico, e a consistência parece a de um óleo de motor fino e bem grudento. Hassan explicou que a quantidade de azeite é que determina o poder do haxixe.
Mustafá chamou para o café. A mesa estava posta no centro da sala onde sofás de tecidos felpudos e coloridos forram três das quatro paredes brancas. Havia ovos mexidos cobertos com um jorro generoso de azeite extravirgem – de oliva, diga-se –, pão e um bule de metal trabalhado com o tradicional chá marroquino: uma mistura de chá verde indiano com hortelã e muito, muito açúcar. Da televisão, no canto oposto, a MTV em árabe despejava a trilha sonora.
Apareceram alguns amigos de Mustafá. A cada quinze minutos, alguém enrolava um baseado. Ahmed pôs um saco de maconha seca sobre a mesa e informou que era legítima erva do Paquistão. As vinhetas da MTV eram incompreensíveis mesmo quando os atores não falavam. E o árabe dos presentes, falado de modo frenético e alto, confundia de vez a percepção.
O tempo passou e já era a hora do almoço. Todos tinham fome. Nos grandes pratos, com mais ovos mexidos e legumes temperados com especiarias orientais, os talheres eram pedaços de pão. Para beber, água do poço. Mustafá finalmente saiu da cozinha. Além de se esmerar nos dotes culinários, o camponês cuida das terras do pai, com a ajuda de dois empregados. Como muitos jovens da região, ele assumiu as terras da família e optou pelo negócio mais lucrativo: a maconha. Seu sonho agora é alugar para turistas uma pequena casa de sua propriedade, à beira de outra plantação.
O tempo continuou passando lentamente. O calor provocou sono, cochilos suados e tranqüilos. A paz preguiçosa foi quebrada pelo alerta esbaforido de Hassan: “Vamos embora!” Todos correram para fora da casa. “Pegaram tudo? Pegaram a carteira?”, ele perguntou. Um Mercedes velho – que parece ser o único carro que existe no Marrocos – estacionara na entrada da chácara. Atrás de grossos óculos escuros e precedido por uma pança enorme, o pai de Mustafá saiu do carro com ar enfurecido. A pergunta que o senhor de uns 70 anos repetia sem parar, em tom ameaçador – eu soube depois –, era o equivalente árabe ao nosso: “Que merda é essa?”
Pelo jeito, não será nada fácil a Mustafá convencer o pai que alugar um chalé para turistas é um bom negócio. Saímos sem nos despedir, evitando cruzar olhares com o patriarca bravo. Primeiro caminhamos apressados. Poucas dezenas de passos depois, corremos ladeira abaixo pela estrada de terra, até uma curva nos esconder da entrada da chácara.
Além de mais campos da erva, a paisagem revela camponeses ocasionais, recortando o horizonte com suas túnicas. Da estrada, se vê uns homens ajustando mangueiras de irrigação e mulheres de véu trazendo crianças da escola. Para evitar encontros com as autoridades, fizemos o caminho até a estrada principal pelo meio de plantações. Na região, não é bom para um marroquino ser visto com um estrangeiro. Hassan parou um táxi, embarquei, e ele ficou para trás.
A viagem terminou na cidade de Chefchaouen, ou Chaouen, a capital do haxixe no Marrocos, que fica na província do mesmo nome. Ali, traficantes transportam cargas de não mais de 500 quilos, em veneráveis Mercedes velhos, para chamar menos a atenção. Como a fiscalização na beira do Mediterrâneo é intensa e o carregamento, valioso, eles optam por mais viagens, levando quantidades menores a cada vez. Primeiro, recheiam porta-malas e mocós com a droga. De propina em propina, seguem até algum dos inúmeros pontos inóspitos da costa. Lá, carregam suas pateras – pequenos barcos de pesca, comuníssimos – e navegam até algum porto seguro do outro lado, na Europa.
Os profissionais do tráfico têm como concorrentes amadores a eclética galeria de mulas autônomas. São na maioria artesãos, músicos e estudantes europeus, dispostos a engolir até 500 gramas da droga, plastificada para percorrer o sistema digestivo sem causar danos. Milhares deles peregrinam a Chaouen todos os anos e, depois de circular um pouco pelo Marrocos, engolem a droga e a expelem em banheiros do outro lado do Estreito de Gibraltar. Vendendo o haxixe puro no varejo, passam vários meses de fartura. Quando misturam hena à resina, podem ficar até um ano despreocupados. As planícies do Rif abastecem de haxixe 80% do mercado europeu.
Quando chegam a Chaouen, os engolidores de droga são recebidos por tipos marroquinos à sua espreita: os “busca-vidas” – como são chamados no dialeto local aqueles caras que querem te vender de tudo e servir de guia para onde não se quer ir. Espalhados por todo o país, eles se concentram principalmente ao redor do porto de Tânger, em Tetuán e, claro, nas cidades mais turísticas. Em Chaouen, os busca-vidas servem de contato entre os produtores de haxixe e os europeus famintos de resina.
O sol que ardeu durante o dia aquece a noite de Chaouen. O povo está nas ruas, e os busca-vidas a postos para a caça de incautos. Mochilas grandes funcionam como antenas. Na maioria das vezes basta sorrir, agradecendo, evitando trocar olhares, e os busca-vidas desistem. Mas qualquer vacilo é imediatamente aproveitado. Quando um gentil cidadão não soube informar onde ficava uma determinada pousada na medina (a parte mais antiga da cidade), imediatamente um senhor grisalho surgiu do nada para oferecer seus préstimos hospitaleiros.
Vestido com uma camisa larga, de mangas até pouco abaixo dos cotovelos e calças do mesmo tecido leve, o homem se apresentou: Harun. Cumprimentou com um forte aperto de mãos e, conforme o costume, tocou o próprio tórax na altura do coração com o punho direito. Harun começou a falar sobre um dos assuntos preferidos dos marroquinos, futebol. Quando chegamos a um portal da medina, revelou sua verdadeira intenção, assumindo a postura típica do busca-vidas: quis saber quanto haxixe eu queria comprar.
Ele fez questão de ir junto até a pousada. Lá, o busca-vidas tirou do bolso uma mão cheia de “huevos” plastificados. A língua do tráfico em Chaouen é o espanhol. Por isso, as pelotinhas de haxixe são conhecidas como huevos. Harun explicou que as porções de goma prensada tinham 5 gramas e podiam ser engolidas com facilidade. Se a compra fosse pouca, o preço seria de 12 euros pelo ovo. “A partir de 100 gramas, o preço abaixa”, disse. “Bom negócio, bom negócio.”
Como é de hábito entre os busca-vidas, Harun não desistia nem a pau. Garantia toda a assistência para engolir a droga. “Você ganha até um pouco de ópio para fumar e ficar tranqüilo”, insistia. Mas deixava claro que o suco para empurrar os huevitos seria por conta do possível cliente. Muitos sorrisos e agradecimentos depois, constatando que não haveria negócio, Harun desapareceu.
A manhã seguinte começou com um surdo assobio à porta da pensão. Era o solícito Hassan, o vendedor de tapetes, cuidando para manter a aba do bonezinho sempre meio virada para sua esquerda, apontando em direção ao céu – deve estar na moda. Hassan anda sempre uns dez passos à frente, para evitar ser visto com um ocidental em Chaouen. Ex-busca-vidas, o rapaz já sofreu na mão da polícia, mas conseguiu voltar às ruas. Se tiver outra passagem, pode não ter tanta sorte. Por conta da ambição turística do governo, as autoridades endureceram nas punições aos busca-vidas. Depois de algumas surras da polícia, muitos deles desaparecem.
Apenas na mesquita velha de Chaouen – a dez minutos de caminhada por entre campos onde cabras e bodes eventuais vagueiam, ou até rebanhos inteiros de ovelhas pastam tranqüilos – Hassan relaxou. Sob uma figueira, definiu com orgulho o lugar onde nasceu e cresceu, a cidade construída por mouros e judeus que fugiam de reis católicos: “Chaouen! A cidade santa e misteriosa! Assim falam os avós. É também a cidade das sete portas.”
A fundação oficial de Chaouen data de dezoito anos antes de a conquista cristã da Espanha se consumar. Sua arquitetura e cores aludem a uma convivência pacífica entre dois povos: as construções são árabes, enquanto o colorido externo é de um azul-celeste judaico. O interior da medina é decorado com tapetes, roupas e artesanatos de todos os tipos, expostos por artesãos e comerciantes ao longo das finas vielas. Apenas bípedes, burros, gatos, ratos e passarinhos entram na medina. A algazarra é total nas horas de comércio mais intenso, entre a noite e o início da madrugada.
Do alto do Café Dichkoro, se vêem as lavadeiras à beira do rio, trabalhando em meio à brincadeira das crianças. Apelidado de “Surrealista” pela tribo que vai a Chaouen desfrutar das belas paisagens, dos banhos nos hamams e dos sabores e cheiros exóticos, o Café só vende o chá. Em uma barraquinha ao pé do morro, os clientes fazem seus pedidos. Ganham cadeiras e um banquinho para apoiar os copos fumegantes, servidos em minutos pelo dono do local. Daí é só escolher um bom posto entre as inúmeras clareiras cavadas na encosta, sentar, enrolar e fumar. Também nos outros cafés, assim como na maioria dos restaurantes, hotéis e pousadas de Chaouen, o consumo de haxixe é tolerado. Só não pega bem sair fumando pela rua.
Concentrado na confecção de seu baseado chaoueniano – que só difere dos cigarrões fumados nas plantações pelo tamanho da seda, que é menor na cidade –, Hassan estava com os olhos baixos. Sob os ramos de uma parreira, o calor é espantado com o chá quente (muito, muitíssimo doce) servido em um copo alto, no qual bóiam folhas de hortelã frescas. “É o uísque marroquino”, explicou Hassan. Atraídas pelo excesso de açúcar, abelhas se aproximaram. O jovem tirou de seu copo umas folhas de hortelã açucaradas e as pôs em cima de um banquinho. “Um pouquinho de doce para elas”, disse.
A rota mais curta dos engolidores de haxixe é em direção à Espanha. Coincide com o principal caminho do tráfico da droga para a Europa. Os riscos são conhecidos e a história está coalhada de desaparecimentos e mortes de jovens que se aventuraram no tráfico autônomo.
Em táxis compartilhados, chega-se à fronteira entre a África e a Europa. Do lado marroquino, centenas de táxis – os Mercedes velhos de sempre – se aglomeram. Cercando o grande estacionamento, a pobreza africana se faz notar de forma contundente. Do lado espanhol, a próspera colônia de Ceuta recebe viajantes, recheados de haxixe ou não, para embarcá-los rumo ao continente. Inúmeras porções da droga também chegam ao outro lado escondidas nos bolsos, malas e partes íntimas do corpo. E há, ainda, viajantes aparentemente insuspeitos, mas com fundos falsos em malas e roupas.
Em Ceuta, o preço do haxixe ainda é baixo, talvez devido à proximidade com a fonte produtora. Quando chega às ruas da Andaluzia, o grama é pelo menos dez vezes mais caro do que o preço pago pelos traficantes à beira dos campos.
Apesar dos parcos 50 centavos de euro que ganham por grama do haxixe que extraem de sua plantação, Mustafá e Ahmed planejavam juntar mais de 30 mil euros, com os 60 quilos que lhes rendeu a colheita deste ano. Cada um ficaria com o equivalente a pelo menos mil euros por mês, já descontados os gastos com os ajudantes. Uma renda dessas sustenta uma família com pai, cinco filhos e duas esposas no Marrocos. Mas nem todos os cultivos são tão extensos como o dos dois amigos do povoado de Asar, e muitos camponeses vendem a maconha seca para outras pessoas extraírem a resina, obtendo rendimentos menores. Mais de 800 mil pessoas vivem exclusivamente da produção e da comercialização da maconha e do haxixe no norte do Marrocos. Entre busca-vidas, traficantes, policiais e doidões, a vida segue pacífica e possível nas baixadas do Rif.