ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2013
Nasce um político
Álvaro Garnero e uma voz para os sem-iate
Daniela Pinheiro | Edição 80, Maio 2013
À frente do programa 50 por 1 (sábado, meia-noite, Rede Record), o empresário Álvaro Monteiro de Carvalho Garnero já tomou sangue de cobra no Vietnã, devorou pênis de leão-marinho na China, mergulhou com tubarões na África do Sul e apareceu em rede nacional besuntado em óleo de oliva numa luta típica na Turquia.
Nos últimos seis anos, ele viajou por noventa países, protagonizando diante das câmeras o que classifica de “mais de 2 900 experiências” – que vão das bizarrices gastronômicas aos micos homéricos –, para deleite dos mais sádicos telespectadores. Recentemente, sem alarde, chocou o público mais uma vez. “Não estou entrando para a política, estou entrando para os parques”, disse, enigmático, em um restaurante em São Paulo.
“O Brasil tem 112 parques nacionais e a maioria está praticamente abandonada. Minha bandeira vai ser promover o turismo e a defesa dos parques”, esclareceu. “Recebemos menos turistas do que a Argentina. É absurdo.”
No começo de abril, Garnero, 44 anos – milionário, bonitão, um poço de carisma –, se filiou ao Partido Republicano Brasileiro, cujas estrelas são o senador Marcelo Crivella, sobrinho do bispo Edir Macedo – da Igreja Universal do Reino de Deus –, e o ex-deputado Celso Russomanno, que ficou em segundo lugar na última disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Filho do empresário Mario Garnero, dono da Brasilinvest, e da socialite Ana Maria Monteiro de Carvalho, herdeira do Grupo Monteiro Aranha, Álvaro Garnero se reinventou na televisão.
Em 2005, foi convidado para estrelar um programa na RedeTV! depois que sua então namorada, Caroline Bittencourt, foi expulsa do casamento do jogador Ronaldo Fenômeno pela noiva, Daniela Cicarelli, enciumada por se tratar de uma ex de um ex dela.
Desde o início, o programa deu boa audiência. O casal ia a festas, hotéis, restaurantes luxuosos ao redor do mundo, mostrando as delícias dos prazeres exclusivos. Dois anos depois, já na Record, o formato se inverteu. Passou a explorar o regozijo popular diante de um ricaço vivendo experiências “reais”, como gritar de medo de altura ou se misturar à plebe com a surpresa de quem estava numa expedição dos irmãos Villas-Bôas.
Foi na emissora que ele conheceu o bispo Marcos Pereira, então vice-presidente da Record, e hoje presidente do PRB. Há anos, Pereira tentava levá-lo para o partido. “Fui ao Congresso e eles falaram: ‘Assina a filiação agora!’ Eu fui lá e assinei. Foi tudo meio em cima da hora, mas deu uma boa repercussão”, contou.
A decisão pegou parentes e amigos de surpresa. “Minha mãe estava no casamento do Felipe Nabuco e só se falava nisso. Ela ficou sabendo lá e me ligou preocupada”, contou.
Companheiros do jet set de longa data estranharam o pacote político no qual foi embrulhado o amigo. Primeiro, por ter se filiado a um partido ligado a evangélicos. Garnero justifica: “Os Monteiro de Carvalho Garnero têm como lema a amizade e a lealdade. E eu me comprometi com o Marcos Pereira, que apostou em mim na televisão. Se um dia me filiasse, ia ser no partido dele.”
Em seguida, brincou: “E, de cara, eu gostei desse nome, ‘Republicano’. Meu pai sempre foi amigo dos Bush e eu sou tarado pelo Ronald Reagan.” Ele se diz impressionado com a solidariedade dos evangélicos. “É um pessoal que, do nada, te quer o bem.”
Certa vez, um amigo evangélico lhe telefonou e, ao final da chamada, passou a ligação para um pastor, que queria orar por Garnero. Do outro lado da linha, estava o deputado Marco Feliciano, do Partido Social Cristão, acusado de homofobia e racismo, que hoje rebola para se manter na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. “Eu nunca imaginei que depois ia dar esse rolo com o cara. Mas ele foi dez, falou um monte no telefone. Só coisa boa. Eu acredito em tudo, lá em casa vai uma senhora benzer. Coisa boa, pode vir.”
Também causou espécie entre os grã-finos o fato de Garnero nem sequer ter cogitado ir para o PSDB, do amigo e senador Aécio Neves, potencial candidato à Presidência da República. Em um jantar recente, a socialite Ana Paula Junqueira chegou a provocar um debate à mesa. “Ela não entendia por que eu não tinha pedido para o Aécio. Mas eu não peço nada para ninguém”, contou.
Quando a novidade da filiação correu Brasília, Aécio Neves lhe telefonou. “E aí, Garnerinho? Você vai defender o quê?”, quis saber. “Eu falei que, com o programa, ficam falando essa coisa de ‘o homem mais viajado do Brasil’. A bandeira é essa aí. Disse a ele que ia defender o que eu entendo, que é turismo”, explicou Garnero. “Ele disse: ‘Beleza.’”
Instado a responder como se portaria no palanque de Dilma Rousseff, já que o PRB é da base de sustentação do governo, contra Aécio Neves, ele fez uma longa pausa. “Vamos ver isso mais para a frente.”
Caciques do PRB calculam que, se Garnero se apresentar como candidato a deputado federal, pode amealhar pelo menos 200 mil votos. Ele já pensa na plataforma eleitoral.
“O turismo no Brasil é uma piada. O cara vem para cá e não acha estrutura nenhuma. Chega aqui e quer alugar um iate, uma lancha. Não existe charter de barco aqui!”, disse, em tom indignado. Garnero se disse contrário ao monopólio das companhias aéreas no país (“Você quer ir para o Nordeste e tem que passar por Brasília, sei lá mais por onde, e ainda pagar o valor de ir para Miami”), e revoltado com a pífia oferta hoteleira. “Sabe quantos resorts de luxo tem no Brasil? Seis!”
Com a filiação, sua galeria de fotos no Instagram sofreu um revés. As soberbas imagens de festas, pistas de esqui, praias, jantares e recepções deram lugar a retratos de Garnero ao lado do vice-presidente Michel Temer, do deputado Zequinha Sarney e até do prédio do Congresso Nacional. Um de seus 129 mil seguidores comentou ao vê-lo sorridente ao lado de Temer: “Essa foto foi totalmente desnecessária!!! Continue postando os lugares maravilhosos, sua família… mas essa foi de doer!!!”
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