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    ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2013

esquina

Ndongo quer ser titular

A viagem e o sonho de um imigrante senegalês em terras gaúchas

Felipe Prestes | Edição 87, Dezembro 2013

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O meio-campista balançou a cabeça enquanto conversava em francês com o goleiro. A palavra Imbécile chamou a atenção de quem não entendia o idioma. Referiam-se ao treinador. O volante do time Clandestino começou a partida no banco de reservas, jogou metade do primeiro tempo, voltou ao banco no intervalo e depois entrou novamente – as partidas de várzea não respeitam convenções. “Assim é difícil”, argumentou, justificando sua má atuação.

Num sábado de novembro, o meio-campista Ndongo (pronuncia-se Nongo) Ndiaye sacolejou durante vinte minutos no velho Passat de Paulinho, um dos líderes do Clandestino, para chegar ao estádio do Esporte Clube Cruzeiro, na zona rural de Carlos Barbosa, município a pouco mais de 100 quilômetros de Porto Alegre. Mas a jornada do senegalês Ndongo até essa região de colonização italiana no sul do Brasil foi muito mais longa e aventurosa.

Ele juntou dinheiro durante três anos para sair de Cité Fadia, bairro na periferia de Dacar. Pagou não só as passagens, mas os coiotes que “organizaram” a viagem. Há cinco meses, deixou o Senegal de avião rumo à Espanha, e dali voou até o Equador. Depois, foi de ônibus até a fronteira do Peru com o Brasil, chegando a um campo de imigrantes no Acre, onde se juntou a centenas de haitianos, dominicanos e alguns africanos que aguardavam precariamente a oportunidade que outrora buscariam no Hemisfério Norte.

 

Por fim, Ndongo foi ao encontro de amigos senegaleses que já trabalhavam em Garibaldi, município gaúcho vizinho a Carlos Barbosa. Ali, produzem carne halal, de animais abatidos segundo os preceitos muçulmanos. No frigorífico em que se empregou logo após sua chegada, Ndongo mata cerca de 9 mil frangos por dia com um facão. São quarenta aves por minuto (num abate convencional chega-se até o dobro disso), numa jornada que vai das quatro da manhã às três da tarde.

A degola manual dos animais precisa ser feita de maneira incisiva, para amenizar seu sofrimento, conforme determina o Corão. Enquanto faz o trabalho, Ndongo tem que repetir as expressões “Deus é grande” e “Em nome de Deus” – em árabe, claro. O sangue das aves deve ser escoado totalmente, por ser visto como transmissor de doenças.

Das exportações de frango brasileiras, 45% vão para países de maioria muçulmana, especialmente do Oriente Médio. Diante da tendência, os abatedouros locais têm recrutado cada vez mais seguidores do Islã. Ndongo é contratado da Central Islâmica Brasileira de Alimentos Halal, braço operacional da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil, sediado em São Paulo e especializado nessa forma de abate.

 

Em Garibaldi, cidade com canteiros de flores nas avenidas e bem preservados casarões do início do século XX, imigrantes muçulmanos de vários países vêm chegando desde o início da década – os senegaleses já são uns vinte e poucos, segundo contagem dos próprios. As indústrias de laticínios, metalurgia e viticultura da região atraíram também trabalhadores haitianos e chineses.

Numa lanchonete de Garibaldi, me disseram que, se eu quisesse entrevistar imigrantes, bastaria sair à rua durante o dia para me deparar com “tocos de lenha preta”. Enquanto dirigia o Passat até a peleja, Paulinho contou que, aos poucos, o preconceito contra os seguidores de Alá vai cedendo. “As pessoas estão vendo que eles não bebem, não arrumam confusão, não roubam. Não sei se a religião deles é melhor, mas eles seguem muito mais que nós.”

 

Antes de rumar ao estádio, Ndongo narrou sua aventura em inglês, na casa alugada que divide com quatro conterrâneos. Em Dacar, o jovem de 24 anos intercalava o trabalho num supermercado com treinos. Passou por clubes pequenos da capital – o principal deles, o ASC Cambérène, joga na série B do Senegal. No Brasil, ele mantém a jornada dupla. Depois que encerra o trabalho no frigorífico, vai treinar no Garibaldi, que joga na terceira divisão gaúcha. Como ainda não conseguiu uma chance para estrear, mata a fome em jogos amadores.

 

O senegalês não considera os 930 reais pagos pelo frigorífico um bom salário, mas está mais satisfeito do que no seu país. “Dacar é bom, mas você trabalha duro e eles não pagam bem. No Brasil, você pode pagar aluguel, eletricidade, água e ainda mandar dinheiro para a família.” Pode também comprar um notebook, do qual ele não desgrudou durante a conversa. Parte do dinheiro vai para a mãe e a irmã, na África. O pai vive há cinco anos na Itália, onde passa por dificuldades.

Ndongo nem pensa em retornar ao Senegal, a não ser para visitar a família. Mas pensa, isso sim, em largar o emprego para se dedicar ao futebol. “Preciso do trabalho para sobreviver, mas meu sonho é ser jogador profissional.”

O campo do Cruzeiro, onde o Clandestino enfrentou o Falcatrua, fica ao lado de uma estrada de chão. Há uma pequena arquibancada e, atrás dela, o olhar se perde em morros e araucárias. Naquele sábado, os únicos jogadores negros eram Ndongo e Amadou, o goleiro camaronês de mais de 1,90 metro. O meio-campista senegalês mostrou ter cacoetes de quem já jogou profissionalmente. Mas errou passes bobos e usou os braços acintosamente na marcação. Ndongo tem a cabeça raspada, com um filete de cabelo ligando a testa à nuca, e sorriu orgulhoso quando alguém o chamou de Balotelli.

Na arquibancada, metade dos quatro torcedores presentes avaliou que Ndongo não se destacara entre os jogadores do final de semana. Mas ele não parece disposto a desistir do sonho de jogar profissionalmente. Na volta para casa, quase toda a colônia senegalesa da cidade conversava em torno de uma travessa servida no chão da garagem com carne, batata frita, azeitona, pimentão, cebola, maionese e ketchup. Cada um servia-se enfiando todos os ingredientes num pedaço de pão. Todos menos Ndongo, que mal chegou e já saiu para jogar futebol de salão.

Felipe Prestes

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