ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2016
No breu
Sem luz há quase catorze anos
Guilherme Novelli | Edição 119, Agosto 2016
Numa noite de julho, a única luz que iluminava o apartamento do ator Teodoro Nunes vinha de fora e penetrava no ambiente por uma cortina rasgada. Era o bastante para entrever o caos em que se transformara a quitinete de 30 metros quadrados: livros, jornais, revistas, pedaços de papel, DVDs, roupas sujas e caixotes de papelão habitados por traças e baratas se espalhavam pelo chão.
“Não pise em nada”, alertou Nunes, um homem magro de 44 anos e 1,75 metro de altura, com fronte avantajada e olheiras salientes. “Qualquer esbarrão vai tirar as coisas do seu contexto, da sua ordem.” Enquanto fazia a advertência, o ator pegou dois candelabros de vidro, acendeu as velas e os pousou sobre uma escrivaninha atulhada. Pôde, então, mostrar o teto da cozinha, destruído por ação dos cupins e de onde pendia um emaranhado de fios soltos. Vestígios do forro se esfarelavam pelo piso. “Quando tento recolher algo do chão, me dá uma espécie de câimbra, que não é física, mas espiritual.”
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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