No fim de sua viagem, Sophia de Mello Breyer escreveu: “Aquilo que no Brasil é português comove-me, mas aquilo que no Brasil é universal exalta-me, como progresso para um novo humanismo” CREDITO: ACERVO PESSOAL
No centro do reino de Ártemis
A viagem da poeta Sophia de Mello Breyner Andresen ao Brasil
Eucanaã Ferraz | Edição 159, Dezembro 2019
“Tomando banho de mar em Copacabana a famosa poetisa portuguesa Sofia [sic] de Mello Breyner Andresen, ora no Brasil, a convite do Itamarati [sic].” A nota no diário carioca Tribuna da Imprensa, coluna Fatos e rumores, assinada pelo eminente jornalista Hélio Fernandes em 10 de junho de 1966, dá a ver algo bem mais prosaico do que as imagens extraordinárias de versos como: As ondas quebravam uma a uma/Eu estava só com a areia e com a espuma/do mar que cantava só para mim. Em vez da solidão absoluta, ao mesmo tempo silenciosa e ritmada, desponta a orla ruidosa de Copacabana, nome inscrito no imaginário brasileiro e mundial como símbolo de urbanidade, com seu glamoroso hotel e sua calçada de pedras portuguesas. Sophia terá percebido que as ondas calcárias em preto e branco repetiam de Lisboa o desenho Mar Largo na Praça do Rossio? Não é difícil imaginá-la de maiô, chapéu, óculos escuros, a reservada poeta de Coral, que decerto se supunha anônima ali, mas cujo banho de mar convertera-se em carioquíssima nota social.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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