Às vezes, ficamos sabendo que um barco afundou, que as pessoas fogem da Síria por causa da guerra e da África por causa da fome e das perseguições, mas não sabemos nada das vidas por trás dessas notícias. Só entenderemos as dificuldades dos refugiados se conhecermos suas histórias FOTO_MASSIMO SESTINI
No rastro de Boubacar
Escutando os refugiados africanos na Europa
Mori Ponsowy | Edição 142, Julho 2018
Eu estava sozinha. Ele também estava sozinho. Nas mesas do bar havia casais e grupos de amigos que conversavam com aquela alegria extrovertida dos romanos. Ele e eu éramos os únicos desacompanhados. Assim que o vi, torci para que não estivesse esperando alguém; para que ninguém viesse se sentar nos bancos que nos separavam no balcão. Não sei bem o que me atraiu nele. Talvez tenha sentido algo parecido com uma premonição. Eu estava sozinha em Roma e aquele bar no Trastevere tinha virado minha segunda casa. Cada vez que eu entrava lá, a garçonete me recebia com um “Ciao, cara”. “Oi, querida.”
Não importa se fui eu que falei primeiro ou se foi ele quem tomou a iniciativa: assim que nos vimos, logo soubemos que juntos beberíamos muito mais do que uma taça de vinho. O que ainda não podíamos suspeitar era que aquela conversa seria não apenas a primeira de uma longa série, mas também o começo do que estou escrevendo agora, meses depois. Do que ainda hoje tem um final incerto, e que, embora traga apenas a minha assinatura, a rigor deveria trazer também a dele.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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