ILUSTRAÇÃO: ANGELI
O Brasil é aqui
Na escola Acre, modelo de aprovação por conceito global na rede municipal carioca, professores e alunos espelham os limites das políticas públicas nacionais
Raquel Freire Zangrandi | Edição 53, Fevereiro 2011
O sino toca às 7h10 na escola Acre no dia 11 de agosto de 2010. Quem está no pátio nem se mexe. Passados cinco minutos, os primeiros alunos entram na escola. Mais um pouco e sobem a escada para o 2º andar, onde fica a sala. A maioria das meninas veste calça justa, colada ao corpo. Muitas usam acessórios em tons de rosa e lilás nas mochilas, nos cadarços de tênis e no esmalte das unhas. Umas têm os cabelos presos com enfeites coloridos e brincos enormes. Outras estão maquiadas com batom rosa-claro, gloss, blush e sombra. Os meninos calçam tênis espalhafatosos, capricham no gel para sustentar na cabeça os tufos arrepiados do corte moicano e, eventualmente, espetam vários brincos de strass na mesma orelha.
Eles se vestem como manda o figurino da Secretaria Municipal de Educação. Na escola Acre, como em toda a rede pública da cidade do Rio de Janeiro, o uniforme, de uso obrigatório, é calça jeans, camiseta oficial e tênis. Se fosse seguir as normas ao pé da letra, o aluno que aparecesse fora da linha teria que se apresentar com “justificativa fundamentada” e vestuário adequado, “dentro do esperado em estabelecimento escolar”. Mas ali, por cima das peças básicas, cada um usa o que quer. É mais ou menos como diz o aviso na sala da diretora: “Aki até a tristeza pula de alegria.” A escola Acre esbanja informalidade até na fachada do prédio: é rosa-choque. O pátio, verde. As paredes internas das salas, amarelas.
Reina na escola ampla liberdade de escolha sob o manto oficial da padronização. E não é por falta de ordens superiores. Desde que assumiu a Secretaria de Educação dois anos atrás, a economista Claudia Costin, doutora em administração pública, faz o que pode para entrar de cabeça no corpo docente. Mantém no ar, desde 2009, um blog regularmente atualizado com notícias de sua gestão. Tornou-se assídua no Twitter, onde tem mais de 11 mil seguidores. Em nome desses diálogos virtuais, acorda às seis e meia da manhã. Dá e recebe incontáveis “Bom-dia!!!”. Em média, dispara do gabinete dez e-mails diários, esmiuçando a política educacional vigente na Prefeitura. Sugere livros. Tira dúvidas. Corrige erros essenciais, como: “Explique, por favor, para o seu pai que ele escreveu para a secretária municipal e não estadual de Educação.” No início de 2010, o prefeito Eduardo Paes assinou com Claudia Costin uma carta, cumprimentando as famílias pela escolha da Acre. “É com muito orgulho e satisfação que nos dirigimos a você. Seu filho estuda em uma das 25 melhores escolas da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro”, anunciava o texto. Apesar da carta, dos e-mails, das mensagens e das diretrizes formais, a secretária reconhece que a rotina das escolas tem vida própria.
Nisso, a Acre é exemplar. Na sala da turma 1801, que corresponde ao 8º ano, dois cartazes mostram que, lá dentro, as normas viram sugestões. “Não custa nada trazer seu material de estudante”, diz um. “Não custa nada vestir a camisa da escola”, diz outro. Com luz fria e três ventiladores no teto, a sala é comprida, estreita e quente durante boa parte do ano. A turma tem 41 alunos, número que contempla a norma de lotação máxima: um aluno por metro quadrado. Compõe uma amostra da sociedade brasileira, pequena mas capaz de comportar quatro Matheus com “th”, além de Rayane, Dayane, Thayanne e Thayná.
As paredes da 1801 estão encardidas e rabiscadas a lápis: “Vai tomar no cu”, “Fodace”, “CV” (a sigla do Comando Vermelho), “Boiolão”, “Viado” ou “Valeu, Mano!” Há mancha de ovo no teto e marcas de bola na parede. Desde cedo, vindo da cozinha, um cheiro forte de comida frequenta a sala. Sente-se no ar que, naquela manhã de agosto, a merenda servida na hora marcada, às 9h40, será arroz, feijão e picadinho de carne. Em contrapartida, o material escolar foi servido com seis meses de atraso.
Se há uma coisa que não falta na rede pública é kit. Existe kit para quase tudo. Kit de saúde, kit esportivo, kit de apostilas com exercícios de português, matemática e ciências. No ano letivo de 2010, o kit escolar básico do município continha três cadernos pautados, um de desenho, três lápis, duas canetas, uma dúzia de lápis de cor, borracha, régua, tesoura, cola e apontador. Em agosto, quando chegou à escola Acre, o primeiro semestre já tinha terminado. Cada livro distribuído pela prefeitura pertence à escola, e não ao aluno. Na contracapa, o estudante registra seu nome e a data. No ano seguinte o livro será usado por outro aluno da mesma série. E assim por três anos consecutivos, desde que o exemplar sobreviva a essa corrida de bastões. Em geral, funciona.
Às sete e meia da manhã, vinte minutos depois do horário marcado, começa a aula de português. No quadro-negro que hoje em dia é branco, uma aluna passa exercícios sobre classificação de predicados. O quadro tem um buraco de 30 centímetros de diâmetro bem no meio de sua superfície de fórmica. Está assim há algumas semanas, desde que um aluno o alvejou com um tubo de corretivo líquido. Durante a aula, uma professora de apoio entra na sala e chama treze alunos que precisam de reforço em matemática. Eles saem da classe atrás dela, e a aula prossegue com a professora titular, Maria da Conceição Vaz. Antes de tocar o sino, a coordenadora da sala de leitura, Elisa da Costa, aparece para anunciar que os alunos Thaís Souza, Lincoln Pedro e Renata Gomes foram selecionados para a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. A prova seria dali a um mês.
A escola Acre fica em Todos os Santos, bairro da Zona Norte carioca. É um colégio de médio porte, com 580 alunos e dezoito turmas do 1º ao 9º ano, divididas entre o turno da manhã e o da tarde. Seu prédio de dois andares foi inaugurado nos anos 40, durante a ditadura de Getulio Vargas. Herdada do Estado Novo e considerada até hoje uma escola pública de elite na cidade, a instituição tem boa pontuação nas provas do município. Ela figura entre as 25 melhores escolas das 1 063 unidades municipais do Rio de Janeiro. Lá dentro, as professoras atribuem esses predicados às virtudes da “clientela”. A maioria dos alunos vem dos bairros vizinhos, e não das favelas Santos Titara, Joaquim Méier e Curupaiti, que se espalham na vizinhança. Muitos alunos têm carro e “boa situação” em casa. Os funcionários incluem entre os trunfos da Acre sua diretora, que consideram aberta às novidades e com disposição fora do comum para o trabalho.
“Não conheço nenhuma forma infalível de administrar, mas conheço a forma infalível de fracassar: tentar agradar a todos.” A frase do presidente norte-americano John Kennedy figura como lema no mural que a diretora Elisabete Lima – ou simplesmente Bete, como é tratada por todos – exibe no gabinete. Na parede da sala há ainda um pequeno quadro da Santa Ceia, com um terço em volta. O espaço, pequeno e despojado, acomoda também a diretora-adjunta, Ana Lucia Rocca. À primeira vista, não se distingue a hierarquia entre elas porque ocupam mesas do mesmo tamanho.
Bete chega à escola a pé, mas se veste para o trabalho como se fosse a uma festa: vestido longo e colorido, sandália de salto, batom, colar, brinco de pingente e pulseiras. Tem 43 anos de idade e 24 de magistério. Não aparenta nem uma coisa nem outra, tal é o entusiasmo com que encara o dia a dia. Já chega dando abraço nos alunos e chamando todos pelo nome. Cumprimenta o faxineiro com dois beijinhos. Emociona-se com o Hino Nacional que, uma vez por semana, os alunos se enfileiram para entoar, e tem bom trânsito com professores e funcionários. “Eu nasci pra isso”, Bete afirma. “Se me oferecessem 10 mil reais pra trabalhar em outro lugar, eu não iria, e se eu tivesse 18 anos, faria tudo de novo.” É formada em pedagogia com especialização em administração escolar e deu aulas na rede pública por treze anos antes de se tornar coordenadora pedagógica da Acre. Candidatou-se a diretora em 2001 e está há dez anos no cargo, com salário de 5 mil reais. E lhe sobra entusiasmo para, casada, com dois filhos, não perder um show do cantor Ney Matogrosso. Nessas ocasiões, leva com ela a diretora-adjunta Ana Lucia. “Eu passo mal quando o Ney desce do palco e vem em direção à plateia. Uma vez eu botei a mão no suor dele”, diz Bete.
A primeira quinzena de agosto avança. Maria Lúcia Martins, professora de matemática da 1801, entra na sala como se tomasse uma trincheira: “Amanhã tem teste!” Em seguida despacha três alunas para a sala da diretora porque chegaram atrasadas. E avisa que só poderão entrar com autorização da secretaria. A turma é barulhenta e desatenta, e a professora tem que gritar para se fazer ouvir. Mas ninguém fica indiferente a uma aula sua. Ela provoca os alunos, comenta o futebol de domingo, procura falar a língua deles e usar a roupa que, sem o uniforme, eles provavelmente usariam. Combina a camisa vermelha com o relógio de plástico e capricha nos acessórios – xale de crochê com franjas, pulseiras prateadas, longo pingente na orelha e calça de cintura baixa. No segundo semestre de 2010 ela nunca repetiu roupa.
Cada aula dura cinquenta minutos e o turno da manhã tem cinco aulas. Mas convém descontar desse tempo as distrações lideradas pelos meninos, que são maioria na classe. Quem se senta à frente é silencioso e atento, embora raramente se manifeste quando a professora faz alguma pergunta. No meio de campo fica a massa de manobra, que ora segue o professor, ora adere à bagunça da turma do fundo – onde estão as maquiagens mais carregadas, os fones de ouvido ligados e os celulares sintonizados com o resto do mundo. E é lá que os polinômios, produtos notáveis e equações algébricas não chegam. Um dos quatro Matheus, o de piercing na sobrancelha, joga uma cobra de madeira nas meninas e gritos agudos respondem instantaneamente. Bolinhas de papel e tampas de caneta cortam o ar. Para não prejudicar sua concentração, os livros de matemática ficam fechados durante a meia hora de aula.
Mais adiante, ao ensinar figuras geométricas, a professora tenta trazer o assunto para um plano mais concreto: “Existe um aparelhinho, não sei se alguém tem, chamado transferidor, que é pra calcular o ângulo.” Lá do fundo, uma aluna pergunta: “Maria Lúcia, como é que faz esse aqui?” A professa responde: “Faz com lápis” – e sai da sala por alguns minutos. Alunos e professores se tratam por “você” e se chamam pelo nome.
Matheus aproveita para desfilar entre as carteiras com uma embalagem de preservativo na mão. Quando a professora volta, traz um copinho de café e a bronca na ponta da língua: “O que é isso? Quem rabiscou a parede?” Vira-se para o Baía: “Tua batata tá assando, hein?” Luiz Eduardo Baía é o primeiro nome que se aprende na 1801. Integra a ala dos alunos com brinco de strass e tem mechas douradas no cabelo. Tira notas razoáveis a ponto de não correr o risco de cair em recuperação. Nos últimos minutos de aula, Maria Lúcia passa exercícios para a próxima aula: “Podem começar agora.” Tarde demais. O sino toca, é hora do recreio.
Na volta do intervalo, a aluna Thaís Souza Clemente anota no caderno: “Comprar refrigerante com os meninos depois da aula.” Ela se senta numa das carteiras do meio da sala, ao lado de Emilly, sua melhor amiga desde o 4º ano. Sua voz é raramente ouvida nas aulas. As duas colegas praticamente só falam entre si e bem baixinho. No Orkut, onde conquistou 485 “amigos”, Thaís publica um pequeno autorretrato: Eu não sou modinha, não sou emo, não sou restart, não sou gótica, não sou cocota. Sou aquela menina sensível que se faz de durona. Só sorrio quando me fazem sorrir. Meu cabelo é ruim, não tenho calça prateada, não uso só roupas de grife, desculpa se o sapato tá furado, não sou produto e não vou ser rotulada.
Thaís tem 14 anos e estuda na Acre desde os 9. É fã de Harry Potter, Marcelo Adnet, Jonas Brothers e MTV. Não vai à praia, usa roupas discretas e sua única concessão ao estilo vigente é um bracelete de couro preto com taxas prateadas. O primeiro lugar que gostaria de conhecer é o Japão, de onde vêm os desenhos em estilo mangá de que gosta. Boa aluna em matemática, Thaís tem queda para ciências e pensa em ser veterinária. A escola não lhe apresenta desafios, ao contrário – sua mãe diz que em casa não vê a filha pegar no livro. No segundo semestre, faltou a várias aulas por causa de uma enxaqueca crônica, mas isso não aparece nas notas de seu boletim. Ela começa a se preparar para a olimpíada de matemática.
A adolescente mora com a mãe, a professora da rede pública Edna, e o irmão mais velho, com quem divide o quarto num apartamento de 80 metros quadrados no Cachambi, um bairro da Zona Norte. Em casa, ela e o irmão acessam a internet pelo notebook que a mãe ganhou no emprego. Edna dá aulas em duas escolas para ganhar 3 500 reais por mês. Thaís vai para a escola de ônibus, não ganha mesada e sua única despesa fixa é com o Curso Martins, que oferece aulas de preparação para o ensino médio. Tentará uma vaga no Pedro II, Cefet ou Cefeteq, escolas públicas de alto nível. Edna calcula que gaste com a filha mais ou menos 500 reais por mês, o que representa quase 15% do seu salário. Thaís traz vários Muito Bom e Bom no boletim. Mas numa turma em que os professores se queixam da indisciplina e os alunos se vestem de forma tão variada, os boletins surpreendem pela uniformidade. Quase todos primam pelo R, que corresponde ao conceito Regular. O I, de Insuficiente, é uma raridade na 1801.
– Thaís?
– Canguru.
– Thayná?
– Cobra.
Na chamada da aula de teatro, em 16 de agosto, ao ouvir seu nome cada aluno deveria responder com o nome de um animal, em vez de dizer “presente”. Ninguém pode repetir o que o colega já disse. É um artifício da professora para que eles fiquem em silêncio e atentos. A aula, no entanto, sofre com a falta de espaço para encenações. A Acre tem quadra coberta e amplo auditório, coisas raras nas escolas municipais, mas a quadra é reservada à educação física e o auditório está interditado há dois anos, como depósito de móveis quebrados. Centenas de cadeiras e mesas se empilham no salão. A burocracia escolar impede que os equipamentos imprestáveis sejam simplesmente jogados no lixo.
Só o Departamento Geral de Infraestrutura da Secretaria Municipal de Educação, o DGIN, pode tomar essa decisão crucial para o ensino público na cidade do Rio de Janeiro. “Não depende da gente. Já veio um funcionário do DGIN para ver que nada mais prestava, deu baixa em tudo e agora o processo tem que voltar. Quando me chegar a autorização, eu tenho que chamar a Comlurb e aguardar eles recolherem tudo”, explica a diretora Bete. Na secretaria, há quatro impressoras e um aparelho de fax desligados e sem uso sobre um armário de arquivo.
Luciana Fernandes Dias dá aula de história em duas escolas públicas para dez turmas de adolescentes. Tem 180 alunos e corrige 540 provas por bimestre. Ganha em torno de 2 mil reais por mês, somando os dois empregos. No começo de setembro, preparou para a 1801 uma aula a respeito do “Brasil sob as regras do pacto colonial”. Luciana respira fundo ao entrar na sala. Sua aula é considerada pelos alunos como a melhor de todas, mas é difícil adivinhar como eles sabem disso porque poucos prestam atenção. Para poupar a garganta Luciana usa um alto-falante portátil, com microfone diante da boca e caixa de som na cintura: “Vocês não se mancam? Estão sendo observados por uma revista.” Sua voz amplificada não é páreo para a energia da classe. No fundo da sala, Baía naquele momento é todo ouvidos para seus headphones.
Sucesso para calar os alunos só com o método de Marta Serafim, a professora de geografia. Em meados de setembro, ela confere os trabalhos sobre o Índice de Desenvolvimento Humano de dez países africanos. Poucos trazem a pesquisa de casa e o resto copia os dados de quem trouxe. Marta repisa a matéria, explicando o que é e como se calcula o tal IDH. “Entenderam mais ou menos?” Aí, sim. Silêncio absoluto. Nem um pio.
Na aula da professora Luciana, o microfone à la Madonna não obtém o resultado desejado. Ela aguarda em silêncio que os alunos se acalmem, o que leva tempo. Só então retoma o Pacto Colonial e faz perguntas sobre o tema: “Por que isso aconteceu? E como foi? Entenderam? Esse ponto é fundamental, anotem.” Escreve no quadro: “Napoleão. Bloqueio Continental. Inglaterra.” Na penúltima fila, Thayanne repousa a cabeça no colo de uma colega, embalada pela música dos fones de ouvido. Há canetas e lápis do kit na lixeira, intactos. O rombo no quadro de fórmica branca aumentou. Era oval em agosto. Em setembro, tornou-se retangular. Mais cedo ou mais tarde o DGIN terá que cuidar disso também.
Quinta-feira, 9 de setembro, tem Hino Nacional, como acontece semanalmente. A caixa de som tem pouca potência e o som sai abafado. Em compensação, a maioria dos alunos acompanha a música e dá a impressão de saber a letra do hino. Em seguida, a diretora, sem recorrer ao microfone, infla o peito para proclamar em alto e bom som: “A descarga do banheiro está quebrada de novo. Eu troquei, comprei uma nova e no dia seguinte já quebraram. Será tão difícil puxar a cordinha sem arrebentar?” O banheiro é um dos poucos assuntos sobre os quais há unanimidade entre alunos e professores. É o ponto fraco mais ostensivo da escola. Tem mau cheiro, está sempre úmido e desprovido de papel higiênico. As meninas fazem sua parte: jogam os absorventes abertos na lixeira.
Três semanas depois, em fins de setembro, Bete reúne a escola toda no pátio para mais uma esfregada. Um aluno do 9º ano foi flagrado estrangulando “de brincadeira” um menino do 6º ano. Ela não deixa por menos: “Na semana passada, um pai me implorou pra eu não mandar o filho pra delegacia. Vocês não têm ideia do que é ficar numa cela fedorenta com outros homens. Se alguém do 9º ano for chamado novamente, vai ser expulso no mesmo dia, não vou dar nem advertência e não vou esperar acabar o ano. Das outras turmas, eu não renovo a matrícula de quem tomar advertência.” Bete aproveita para anunciar que comprou o quadro novo para a sala 1801 e em breve ele será instalado. A essa altura o buraco aberto no quadro já atinge 1 metro de comprimento. Sua goela serrilhada abocanhou noutro dia o braço da professora de inglês, e ela teve que arrancar mais um pedaço da fórmica para tirar a ponta solta.
O ano letivo prossegue. Na segunda-feira, 4 de outubro, cinco turmas da manhã estão sem aula, soltas no pátio. A professora Jorgete de Carvalho, de ciências, não veio. Campeã de faltas, ela é também a professora mais querida da 1801 e, provavelmente, de toda a escola. No Orkut, há duas comunidades de alunos e ex-alunos dedicadas a cultuá-la. A comunidade “Jorgete, a melhor professora”, tem 213 alunos. Sua concorrente, “A Jorgete eh show!”, 81. Sempre vestida com cores vibrantes, Jorgete tem aparelho nos dentes e uma inconfundível voz grave. Dá aula há 38 anos, mas enfrenta a turma de adolescentes com fôlego de estreante. Alguns tópicos de discussão sobre ela no Orkut são: “A Jorgete dança na sala de aula?” Sim, 87%. “A Jorgete fala palavrão?” Sim, 53%. Na outra comunidade, um aluno descreve a chegada da professora em internetês: “Qndu ela entra na sala geral cnta: ‘glamurosa, rainha da acre, poderosa… se quiser flr d amor fale cm a Jorgete’ sem flr da prte do corpinho de sereia… rsrs.”
Em meados de outubro, Jorgete faz uma viagem de dez dias para os Lençóis Maranhenses, o Ceará e a Paraíba. A escola não designa um professor para substituí-la, mas a diretora desconta no salário as faltas. “Antigamente, a política do município era de que todo professor tinha direito a uma falta por mês. Era o ‘Dia do Mês’. Toda escola tinha isso, mas eu sou contra, porque o dia não é meu, é do aluno, e eu não posso dar o que não é meu. Se um professor faltar quatro vezes por ano, eu ainda seguro, mas passou disso, vai levar falta no cartão de ponto e ser descontado. O pessoal ficou mal-acostumado”, diz a diretora Bete.
Marta, a professora de geografia que conseguiu calar a turma com perguntas sobre o IDH africano, agora introduz aos alunos o filme Tiros em Ruanda, sobre o genocídio praticado pelos hutus contra os tútsis em 1994. Enquanto isso, lá atrás, Danielly diz a Thayná e Caroline que precisa arranjar uma fantasia de coelhinha para ir a uma festa. Pretende ir ao Mercadão de Madureira depois da aula para comprar o figurino. O aluno Marcelo faltou à segunda prova de geografia. A professora diz que o jeito será duplicar a nota que ele tirou na primeira prova. Thaís está de cabelo alisado. O buraco na lousa cresceu – agora já toma quase metade do quadro, abrindo no lado esquerdo uma cratera com mais de 1 metro de largura. Tudo o que se escreve nele tem que caber do lado direito, fora do buraco.
Domingo, 17 de outubro, começa o horário de verão. Na terça-feira, dia 19, o relógio da escola continua uma hora atrasado. O que não faz diferença, porque duas professoras faltaram e a turma está no pátio. Uma aluna tem o estalo: experimenta a chave de casa no cadeado do portão. Clic. A escola se abre para a rua. Quatro meninos escapolem sem ser percebidos. Como em todas as escolas da rede municipal, não há inspetores na Acre.
Mas a vigilância faz diferença, como atesta a sala de leitura. Quando encontram um tempo livre, muitos alunos vão para lá. É o lugar mais acolhedor da escola, com ar-condicionado e aparelho de tevê para a exibição de filmes. A professora Elisa da Costa, que coordena a sala, leva o trabalho a sério. Lá os alunos entram para estudar, pegar livros emprestados, tocar violão, jogar xadrez, ler, ouvir música, escrever no diário ou bater papo. Eles só têm acesso à sala na presença de Elisa, que também promove concursos literários e coordena as atividades extraclasse, como encaminhar alunos para maratonas estudantis ou acompanhar a seleção de bolsas de estudo fora da escola.
A matemática oficial do 8º ano compreende geometria, álgebra e trigonometria. Maria Lúcia geralmente dá a prova unificada do município – que só tem questões de múltipla escolha – e mais um teste ou trabalho em dupla, elaborados por ela. A nota final do bimestre é a média dessas avaliações. Em 21 de outubro, com o relógio da parede atrasado há quatro dias, os alunos fazem um teste. A professora passa três questões de cálculo de ângulo interno de triângulo, que os alunos devem responder em dupla e entregar no fim da aula. Em seguida, ela sai para buscar um cafezinho no andar de baixo. Maria Lúcia admite que na fórmula de múltipla escolha é mais fácil colar ou tentar a sorte, e acrescenta: “A prefeitura quer números, quer resultado.” E explica por que ela mesma não dá outra prova, mais completa, em vez de só dar teste em dupla: “Eu faço isso pra puxar a nota deles.” O mês acaba com a nova lousa instalada e o horário de verão finalmente atualizado no relógio da parede.
Na sala dos professores, Jorgete mostra às colegas em seu laptop as fotos da viagem que acaba de fazer pelo Nordeste. Com o bronzeado em dia, minutos depois ela apresenta para a turma a matéria sobre o sistema nervoso. Nessa hora, seu desempenho explica por que é tão popular. Jorgete não se contenta em ensinar. Ela representa a matéria. Gesticula, imposta a voz, rodopia, vira de costas, e vai mostrando com a mão o feixe de nervos ao longo da coluna vertebral. No pulso, o relógio verde-limão combina com a sandália rasteira e a estampa da blusa.
Há headphones à vontade na 1801, mas ninguém na turma sabe dizer quem é Chico Buarque. Na aula de português, chamados a reescrever em prosa a letra de uma canção do compositor, a turma embatuca. A composição também não ajuda. É A História de Lily Braun, uma das menos conhecidas do autor.
Só uma aluna, Larissa, tem uma ideia de que Chico Buarque é um sujeito de olhos azuis. E o chute que resolve tanta coisa nas provas de múltipla escolha dessa vez não vai longe: “Com esse nome, deve ser careca. Acho que ele gravou aquele samba-enredo da Beija-Flor”, arrisca Marcelo, que quer ser músico e montar uma banda com Vinícius.
Mas não é isso que desanima Conceição, a professora de português. No intervalo, ela recebe da secretaria um envelope com seu contracheque: “Vou abrir o meu contrachoque. Nem dá vontade de voltar pra sala.” O valor que provocou desalento na professora é de 2 500 reais. Dias antes, o bule da cafeteira da sala dos professores quebrou e Conceição tomou a iniciativa de comprar um novo. Pagou por ele 20 reais e passou o chapéu entre as colegas para rachar a despesa. Jorgete, por sua vez, mostra o livro Noites Tropicais, de Nelson Motta, que trouxe de casa e vai emprestar à colega: “Amei! Li essas 400 páginas numa semana!” Os professores do município receberam em 15 de outubro, da Secretaria de Educação, um vale de 50 reais para a compra de um livro, como presente pelo Dia do Mestre.
Na aula de matemática da manhã seguinte, com o ano letivo praticamente no fim, Maria Lúcia avisa: “Tem gente que precisa tirar nota boa neste bimestre. São poucos os que já passaram de ano.” Isso feito, corrige no quadro exercícios de fatoração e cálculo da área de retângulos, com Thayná e Thayanne ouvindo músicanos fones de ouvido. A professora adverte: “Eu estou observando o comportamento de vocês em sala. Quem precisa de nota, mas corre atrás, não vai ser reprovado. Eu vou levar isso em conta.” Boa parte dos alunos não copia o que ela põe no quadro tinindo de novo.
No dia 30 de novembro, Conceição faz um exercício de interpretação de texto sobre o tema “Consequências do aquecimento global”. Cabe aos alunos mostrar que entendem uma notícia e resumir cada parágrafo em uma frase. O texto cita uma entrevista da revista Época com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, sobre as chuvas de abril de 2010, que devastaram vários pontos da cidade. No trecho escolhido por Conceição, Paes se exonera dos desabamentos: “O prefeito do Rio diz que não foi avisado da tempestade e conta o que deverá ser feito para que o desastre não se repita.” Sob a foto publicada com a reportagem, a legenda diz: “HERÓI. O prefeito Eduardo Paes visita um dos morros atingidos pela tragédia.” Conceição observa: “Se a gente vai acreditar ou não, aí é outro departamento.”
Pelo regulamento da rede municipal carioca, o Conselho de Classe decide a média final do aluno baseado em um termo chamado conceito global, que, além das notas, pontua aspectos qualitativos, como comportamento e participação geral nas aulas. É daí que saem os Muito Bom, Bom, Regular e Insuficiente dos boletins. Geralmente, esses termos não refletem a nota alcançada pelo aluno em cada disciplina. E em casos extremos, revelam distorções. Um aluno que tira zero em matemática, por exemplo, mas tem conceito global R, de Regular, no conjunto das outras disciplinas – inclusive artes e educação física –, tem chance de manter esse R no boletim e passar de ano. Nas escolas municipais do Rio a média por bimestre é a nota 5, mas o que realmente conta é o conceito global, que acaba salvando o aluno de tomar bomba.
Caminho de mão dupla, o e-mail é, em tese, o canal de comunicação do magistério com Claudia Costin. O professor pode enviar uma lista de sugestões e críticas aos representantes dos conselhos regionais, encarregados de mandar a mensagem para instâncias superiores ou diretamente para a secretária de Educação. No caso de Verginia Caruso Brigido, professora de matemática do 9º ano na Acre, o caminho se revelou de mão única. Com mais de três décadas de batente, ela discorda do sistema de avaliação adotado no município pela atual administração. Em 29 de setembro, decidiu que não dormiria em paz se não enviasse a seguinte mensagem, às dez da noite, para a representante de sua área: “Cara Talma, sou lotada na escola Acre, meu nome é Verginia, minha disciplina é matemática. Gostaria que você perguntasse à senhora secretária por que ela insiste em fazer esse conceito global permanecer, uma vez que ele só serve para beneficiar aqueles que não querem estudar. Ninguém mais se preocupa em realmente prestar atenção, fazer as atividades propostas, porque sabem que o conceito garante a eles na pior das hipóteses um R [de Regular]. Se não for pedir muito, gostaria de saber a resposta. Muito grata por sua atenção”. A professora nunca recebeu resposta.
Verginia não se conforma. Miúda mas obstinada, ela parece crescer quando arqueia as sobrancelhas e parte para o corpo a corpo com esse modelo de conciliação que é o conceito global. Ele descende de resoluções normativas que fingem abolir a aprovação automática no Rio de Janeiro e, até agora, conseguiram pouco mais do que complicá-la. Em 1996, tinham o rótulo de “Diretrizes para a avaliação do processo de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos da rede pública”. Seus 33 artigos subdivididos em parágrafos e alíneas eram fruto do Núcleo Curricular Básico Multieducação. Já naquela época, pelo artigo 5º, os conceitos globais seriam “discutidos e atribuídos durante a reunião do Conselho de Classe”, levando em consideração “o perfil geral do aluno em todas as disciplinas/atividades”, “o desenvolvimento real e potencial do aluno”, “o desenvolvimento do aluno no decorrer do ano letivo” e “o trabalho escolar desenvolvido com a turma”.
Na prática, como se aprende na escola Acre, estão em vigor as normas de 1996, refrescadas há um ano no Diário Oficial pela secretária Claudia Costin através do Sistema de Recuperação de Aprendizagem, que anunciava, entre outras providências, a exigência de trabalhos de recuperação nas férias para os alunos que passassem com R. A medida não sobreviveu por mais de doze meses.
Tanto marketing normativo da cúpula da Secretaria leva a professora Verginia, lá embaixo, na vida real, a reprovar o conceito global. Ela considera “humilhante” para o professor atuar numa estrutura em que sempre vence o mau aluno. Nas reuniões da Acre, é Verginia quem confronta a direção. Recusou-se a participar do conselho final da escola, por não concordar com suas normas. E acredita que o ensino público vai mal por causa do assistencialismo que a política institucionalizou: “Tratam o aluno como coitadinho. Dão tudo e tapam o sol com a peneira. Depois que saiu esse ECA [o Estatuto da Criança e do Adolescente], eles têm todos os direitos, ganham tudo de graça e nada é exigido em troca.” A seu ver, enquanto o aluno for tratado como vítima, as diretrizes da Secretaria podem ir e vir à vontade, porque nada mudará na sala de aula: “Estão se contentando com a mediocridade. Os pais querem que os filhos sejam aprovados.”
Isso não significa que, na reunião com os professores em 10 de novembro, a diretora Bete não tivesse novidades da Secretaria de Educação para 2011: “Todo mundo vai ter que usar computador na sala de aula. Quem não sabe, vai ter que aprender. Esse projeto é o Educopédia. Em toda sala vai ter internet, caderno virtual, datashow, um netbook para cada aluno e um carrinho com computador para cada professor, com rede sem fio. O professor vai poder passar trabalho de casa virtual, as aulas vão estar prontas no computador. Se faltar um professor, nenhum aluno vai ficar parado em sala.”Alguns professores torcem o nariz para a notícia, outros escutam com atenção. De todo modo, o desenvolvimento escolar turbinado pela indústria da informática veio para ficar. Desde 2004, o Ministério da Educação comprou 834 mil computadores para uso didático em escala nacional. O governador do Rio, Sérgio Cabral, já distribuiu 60 550 notebooks para professores e alunos da rede estadual. A Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro fará, em 2011, a entrega de 128 mil computadores para as escolas da cidade. Se depender dos computadores, a escola Acre está a um passo da excelência.
Enquanto a rede de ensino público demonstra apetite voraz pela compra de equipamentos digitais, no Colégio Sion, tradicional escola católica particular na Zona Sul do Rio, as turmas do 8º ano não têm computador na sala de aula. Por opção. Ali prevalece o tradicional esquema de alunos sentados diante do professor e na parede uma lousa. Sem rombo. É uma escola que não está no topo do ranking no Rio de Janeiro, não atrai filho de artista e, encravada ao pé do Corcovado, entre as montanhas do Cosme Velho, fica longe da praia. Fundada no final do século XIX, a escola originalmente dirigida por freiras, que só admitia mulheres até 1972, hoje tem turmas mistas que vão da pré-escola ao pré-vestibular e mantém as aulas de francês e religião. O Sion ocupa um prédio imponente de quatro andares com vitral na fachada, arquitetura neoclássica e jardim interno. Nos fundos do terreno, guarda uma relíquia da mata que à sua volta o crescimento do bairro vai empurrando para cima das encostas.
As aulas do Sion podem ser analógicas, mas é comum os professores serem bombardeados com perguntas da classe, do tipo: “Se Napoleão sabia que dom João fugiu para o Brasil, por que invadiu Portugal? E por que não veio atrás dele?” Os alunos têm até espaço para interesses mais específicos, como na aula de anatomia genital, em que a professora de ciências ouviu: “E quando o cara bota o pinto no outro lugar?” No mural da sala, um gráfico informa o nome de quem não faz dever de casa, listado por matéria. Para passar de ano, o aluno tem que alcançar a média 6 por bimestre, um ponto a mais do que na rede pública.
João Willemes é professor de geografia do 8º ano no Sion. Ele dá aula em duas escolas públicas e duas particulares, para um total de 425 alunos, espalhados por dezessete turmas no Vidigal, Gávea, Cosme Velho e São Conrado. Em outubro, fez uma cirurgia para a retirada de calos nas cordas vocais, acumulados em 25 anos de magistério. João corrige mais de 400 provas por mês, que podem chegar a 800 páginas se cada prova tiver mais de uma folha, o que geralmente ocorre. Com os quatro empregos, seu salário chega a 7 mil reais.
Bom conhecedor das duas redes de ensino, ele acha que no ensino público só falta vontade de mudar a fundo.“Investem mais na propaganda. Volta e meia tem uma campanha nova: ‘Hoje o aluno não compra livro, a escola dá o livro’; ‘Agora tem computador na escola.’ Mas estão investindo no lugar errado, não investem em eficiência nem em pessoal.”
No 8º ano B do Sion, Lucas Pavanelli, de 14 anos, é o aluno dos sonhos de todo professor: silencioso e ligado. Suas credenciais de bom aluno não o isolam dos colegas. Ao contrário, eles o tratam como fonte de consultas por telefone em véspera de prova. Lucas mora com os pais num apartamento de quatro quartos no Flamengo, costuma andar a pé pelo bairro e nunca pegou ônibus ou metrô sozinho. Faz aulas de espanhol, inglês e piano. Ao contrário de Thaís, a boa aluna da Acre, vai para a escola em condução particular. Como Thaís, Lucas não ganha mesada – mas tem plano de saúde, celular, internet banda larga e poupança no banco. Seus pais gastam por mês 2 mil reais com o filho, ou 10% do salário que ganham juntos. Em termos proporcionais à renda familiar, a mãe de Thaís gasta mais na formação da filha.
Em 2010 os funcionários da escola Acre não ganharam o bônus do 14º salário que a Secretaria de Educação reserva às equipes que superam suas metas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb. Em 2007, a escola obteve 4,6 pontos no segmento relativo ao 8º ano, mas em 2009 sua nota caiu para 4,2 – ainda assim, acima da média carioca, que é de minguados 3,5 pontos.O Brasil ocupa o 53º lugar no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos, que testou 65 países em 2009. E o Rio de Janeiro chegou em penúltimo entre os estados brasileiros no Ideb, à frente do Piauí e empatado com Alagoas, Amapá e Rio Grande do Norte.
Em uma reunião com professores em 10 de novembro, Ivana Ribeiro, a coordenadora da Acre, anuncia que em 2011 haverá mais visitas de fiscalização da Secretaria Municipal. Eles querem que os professores que não dão resultado “se adequem”, ou sejam trocados de turma e função. A notícia não agrada.
Na administração anterior, não havia caderno pedagógico, nem descritivo detalhado, nem prova unificada. Cada professor desenvolvia o conteúdo a seu modo e sem se reportar a ninguém. Hoje alguns professores são refratários em lidar com a enxurrada de normatizações disparadas pela Secretaria Municipal. “Com a Claudia Costin, a atual secretária, todo dia tem novidade e o professor tem que ficar muito ligado”, informa a diretora Bete Lima.
Na véspera do conselho de classe final, chegou a suas mãos a circular que reitera a Resolução SME nº 1078, de 27 de maio de 2010, fixando novos parâmetros para a aprovação ou reprovação de alunos, e reforçando o critério do conceito global na avaliação decisiva. Daqui para frente, o aluno só será reprovado sumariamente se não atingir a média 5 em cinco disciplinas, em vez de quatro, como na norma anterior estabelecida pela mesma secretaria. Ficou mais fácil passar de ano.
E assim o ano acaba bem. No último dia de aula na Acre, os alunos cumprem o ritual de grafitar as camisetas dos colegas. Alguém escreve com discernimento nas costas de uma amiga: “Mantenha essa bunda sarada. Ass: Gatão.” Entre si, os meninos se contentam com lembranças do gênero “KOÉ, VIADO!”. Thaís é homenageada com um “Feliz Natal. Continue a ser meganerd, ha, ha. Beijos”.
Thaís Souza defendeu as cores da Acre na Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas, assim como Lucas Pavanelli foi selecionado para representar o Sion na categoria das escolas particulares. Nenhum dos dois foi premiado.
A festa de encerramento da Acre começa às dez da manhã, na quadra coberta da escola. Um DJ comanda a música com caixas de som e amplificadores: baladas românticas, bate-estaca, música eletrônica e funk. Liberadas do uniforme, as alunas capricham nos shorts apertados, vestidos justos e salto alto. A diretora Bete e a coordenadora Ivana ensaiam uns passos de dança na roda de alunos. Entre os meninos, rolam doses de cachaça camufladas em copos de refrigerante. E aos primeiros acordes do consagrado funk Um Tapinha Não Dói, as garotas que estavam no pátio correm em revoada para a pista de dança. No auditório da escola, a sucata que inviabiliza as aulas de teatro ainda aguarda a autorização do DGIN para ser retirada.
No Sion, um aluno foi reprovado no 8º ano B porque não alcançou as notas que precisava. Na turma 1801 da Acre, somente uma aluna foi reprovada. Por falta.
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