Aos 16 anos, Jejoen Bontinck, criado como católico, passou por um período de crise e buscou "alternativas para a dor". Acabou sendo mais um dos 400 belgas que foram lutar na Síria FOTO: NICOLAS MAETERLINCK/AFP/GETTY IMAGES
O caminho até a jihad
Como um jovem belga se converteu ao islã e decidiu lutar ao lado dos fundamentalistas na Síria
Ben Taub | Edição 111, Dezembro 2015
Em 2009, o belga Jejoen Bontinck, de 14 anos, residente em Antuérpia, apresentou-se à plateia do programa de tevê Dance como Michael Jackson. Vestia um cardigã de lantejoulas e em sua mão esquerda reluzia uma luva branca. Viajara até Ghent em companhia do pai, Dimitri, que, de paletó de risca de giz e óculos de sol gigantescos, identificou-se como empresário, preparador psicológico e assistente pessoal do filho. Diante dos jurados, Jejoen (pronuncia-se “ie-iun”) endossou sua fé no sonho americano. O adolescente exibiu a todos seu moonwalk, ainda na rodada eliminatória do concurso. “Isso é que é performance!”, Dimitri comentou com a apresentadora, a ex-Miss Bélgica Véronique de Kock. “Querida, você ainda vai ouvir falar desse garoto.”
Jejoen logo foi eliminado do certame. Quatro anos depois, quando tudo o que queria era ficar na moita, o jovem era o protagonista de centenas de artigos publicados na imprensa belga. Havia participado de um programa radical de formação de jihadistas que, com sede numa sala alugada de Antuérpia, inspirara dezenas de jovens belgas a emigrar para a Síria e pegar em armas contra o governo de Bashar al-Assad. Boa parte desse grupo acabou integrando o Estado Islâmico, que arregimentou mais de 20 mil combatentes estrangeiros para os conflitos na Síria e no Iraque. Hoje, o Estado Islâmico (EI) controla vastos territórios desses dois países. Com receitas superiores a 1 milhão de dólares por dia, em geral fruto de extorsões e impostos, o EI segue em expansão; em meados de maio de 2015, suas forças capturaram a cidade iraquiana de Ramadi, capital da província de Anbar, e pouco depois assumiram o controle de Palmira, na Síria.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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