Engenheiro, Wanderley Abreu Junior ainda trabalha com a segurança de sistemas de informática, inclusive para o PSDB, mas anda obcecado com a produção dos softwares para captar e transmitir imagens dos veículos aéreos não tripulados. Uma empresa de Gana foi a primeira cliente de seus drones FOTO: ANDRÉ ARRUDA_2013
O céu de Wanderley
Um ex-hacker entra no negócio dos drones
Paula Scarpin | Edição 81, Junho 2013
Wanderley Abreu Junior entrou correndo num estande da Feira Internacional de Defesa e Segurança, fazendo tremer as balas coloridas enfileiradas na vitrine e assustando um homem que avaliava um rifle. Um empresário de Gana e executivos da Companhia Brasileira de Cartuchos já o aguardavam ali havia quase uma hora.
“Sorry guys, I’m late”, disse, com um sorriso adolescente. Wanderley tinha arriscado entrar na feira pelo acesso VIP, mas foi barrado. A estratégia malsucedida lhe custou uma caminhada de mais de 1 quilômetro pelo estacionamento do Riocentro, o maior espaço de eventos da América Latina, no Rio de Janeiro. Seu suor já ultrapassava o terno cinza-claro, mas ele engoliu uma Coca-Cola em tempo recorde antes de subir para a reunião, a portas fechadas.
Na feira de 2011, o engenheiro de 35 anos fechou a venda de dez drones, ou Vants (veículos aéreos não tripulados), para uma empresa de Gana. Eram seus primeiros exemplares da espécie. Desde então, ele vem trabalhando para deixar cada vez mais sofisticado o software de controle das aeronaves, tornando-o capaz de reconhecer rostos e placas de carros. Na edição deste ano da LAAD – sigla em inglês de Latin American Aerospace and Defence, como o evento é mais conhecido –, Wanderley Abreu Junior mostrou as novidades para o representante ganense e para os executivos da CBC, que pretendem intermediar a venda do software para a Marinha brasileira.
Os drones – apelido em inglês que significa zumbido ou zangão – ganharam os noticiários do mundo depois que Barack Obama incrementou seu uso para localizar e assassinar supostos terroristas. Em janeiro deste ano, a Organização das Nações Unidas abriu uma investigação sobre as vítimas civis dos veículos não tripulados americanos. O estudo partiu de uma demanda do governo paquistanês, que estima que desde a posse de Obama mais de 3 mil pessoas tenham sido mortas no país por bombas lançadas dos aviões controlados remotamente. Entre os mortos, menos de 2% eram considerados alvos principais, segundo pesquisas das universidades de Nova York e da Califórnia. O número de civis atingidos oscila entre 400 e 900, dos quais ao menos 176 são crianças.
A aplicação militar dos drones divide opiniões. Seus defensores afirmam que o método é mais cirúrgico e causa menos baixas do que os embates no chão. Do outro lado, os críticos sustentam que os ataques são desleais por princípio, já que não há declaração oficial de guerra, os suspeitos são mortos sem direito a julgamento, e a vitória é definida por quem domina a tecnologia. No final de maio, ao anunciar mudanças de estratégia na guerra ao terror, Obama disse que restringirá o uso dos drones.
Mas não é apenas por causa de operações militares que os céus estão cada vez mais povoados de drones. Munidos de equipamentos para reconhecimento de terreno e transmissão de imagens, eles possuem o que no jargão da indústria bélica é chamado de “tecnologia dual”. Sua utilização civil suscita outro tipo de controvérsia, sobre a possível invasão de privacidade, e inclui ações de segurança pública, atividades econômicas – como a inspeção de linhas elétricas – e o monitoramento de propriedades particulares.
O tamanho e as características das aeronaves dependem do seu propósito: podem ter de poucos centímetros a vários metros de envergadura; sustentar apenas uma câmera e o sistema operacional ou suportar 500 quilos de carga; ter autonomia de meia hora ou viajar mais de dois dias sem parar.
Como muitos garotos que acompanharam de perto os primórdios da internet no Brasil, Wanderley Abreu Junior foi hacker na adolescência e passou a trabalhar com segurança de sistemas de informática depois de adulto. Inquieto, ele gosta de ser chamado pelo apelido de Storm, “tormenta” em inglês, que lhe foi atribuído, quando ainda era criança, por uma professora particular. Todos os seus amigos e até sua mãe preferem chamá-lo assim. Storm era seu nickname nos chats e, como não poderia deixar de ser, o nome de sua empresa, que tem clientes como a Globosat e o PSDB.
Por hobby, Wanderley começou a desenvolver sistemas de comando para aviões não tripulados em casa, e a testá-los com a ajuda de amigos aeromodelistas. Uma noite, ao comentar essas aventuras com um conhecido numa casa noturna, recebeu a proposta: toparia fabricar drones para o governo de Gana? “Claro que topei”, contou.
Phillip Grant, o conhecido que abordou Wanderley naquela noite, é filho do trader Stephen Richard Grant, cônsul honorário de Gana no Rio de Janeiro. Phillip sabia que o empresário ganense William Osei, dono da Kop Engineering, viria ao Brasil para visitar a LAAD e prospectar a compra de armamentos e drones para fornecer ao governo dele. “A gente só tinha que provar que conseguiria produzir em pouco tempo um avião para o que eles precisavam, e por muito menos grana”, disse Wanderley.
Quatro meses depois, o brasileiro apresentou o software capaz de monitorar as plataformas de petróleo do país africano e fechou negócio com o empresário. Pegou um empréstimo de 60 mil reais no banco, foi produzindo e enviando um avião por mês, desmontado, pela empresa de entregas expressas DHL. A transação lhe rendeu 300 mil reais de lucro, afirmou.
A Embaixada de Gana disse, em carta oficial, que não está ciente da negociação com a Storm. Wanderley, no entanto, contou ter ido pessoalmente até Gana, quando terminou de enviar as encomendas, para ensinar um tenente e um major do Exército a montar e operar o equipamento. Segundo ele, os militares chegaram a lhe perguntar se o avião poderia ser adaptável para uso bélico. “Eu disse que sim, que suportaria um explosivo plástico como o C4, por exemplo. Seria um kamikaze, explodiria junto com o alvo. Se eles quiserem explodir alguma coisa, nem precisam falar comigo.”
De acordo com a assessoria do Ministério das Relações Exteriores, as listas internacionais do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis incluem drones com carga a partir de 500 quilos e alcance superior a 300 quilômetros. “Os veículos aéreos não tripulados produzidos pela Storm não estão sujeitos a esse regime de controle (por terem carga e alcance menores)”, informou o Itamaraty. No entanto, segundo o Ministério, aplicam-se ao equipamento as diretrizes internas sobre exportação de material militar.
“De acordo com essas diretrizes, cabe ao Exército Brasileiro a prerrogativa de autorizar exportações de material bélico e de bens de uso dual destinados a emprego civil”, disse a assessoria, acrescentando que a análise leva em conta fatores como a geração de empregos no Brasil, a conduta da empresa exportadora e a existência ou não de sanções internacionais contra o vendedor ou o comprador. Os drones enviados por Wanderley a Gana não passaram por nenhum tipo de controle oficial.
No Brasil, o governo já utiliza drones de monitoramento. A Polícia Federal divulgou que tem usado o Vant israelense Heron em investigações bem-sucedidas na Tríplice Fronteira, e a Força Aérea Brasileira anunciou a compra de dois aviões da também israelense Elbit Systems por 50 milhões de reais – as aeronaves devem ser aproveitadas na segurança da Copa do Mundo e das Olimpíadas. A Marinha brasileira já usa a tecnologia para monitoramento há seis anos, mas optou por adquirir um modelo mais simples, projetado por uma empresa brasileira: o Carcará, da Santos Lab, vendido em kits com três aeronaves, pelo preço de 300 mil reais.
Em abril, a Santos Lab montou um dos estandes mais chamativos da LAAD. No final do corredor central do Riocentro, instalou uma televisão gigante que transmitia um vídeo em looping de pequenas aeronaves fazendo acrobacias. O estande da mais conhecida fabricante nacional de drones contrastava com o espaço amplo e iluminado da feira: o ambiente interno lembrava uma casa noturna, com som ambiente, uma hostess loira de salto alto, oito tevês de plasma passando os mesmos vídeos dos voos, e protótipos dos cinco modelos da empresa pendurados no teto. O administrador Gilberto Buffara e o designer Gabriel Klabin, donos da empresa, recebiam os visitantes.
Aeromodelista desde a infância, Klabin viu Buffara pilotando um aviãozinho no campo de parapente de São Conrado, no Rio, e puxou assunto. Os dois começaram a projetar juntos, e a publicar vídeos capturados pelos drones atravessando o túnel Rebouças e sobrevoando as praias do Rio de Janeiro.
Um representante da Marinha viu os vídeos no YouTube e se interessou pelo negócio. “Eles só precisavam fazer imagens aéreas, não tinham necessidade de reconhecimento de íris, leitura labial. Então projetamos o Carcará I”, disse Gabriel Klabin no estande, balançando o seu protótipo mais recente, o Orbis, híbrido de avião e helicóptero.
Todos os modelos da Santos Lab à venda são de aviões de monitoramento, mas Klabin e Buffara estão planejando um drone que funcione como uma antena de celular para áreas remotas. Até agora, nenhum cliente pediu uma aeronave para uso bélico, mas Klabin disse que não hesitaria em produzir. “O mesmo avião que pode levar comida para a África pode jogar bomba no Japão”, disse. Em seguida, refletindo um pouco mais, completou: “Eu faria sem nenhum problema para o Brasil, é o meu país. Mas se a Venezuela pedisse, por exemplo, nem pensar!”
A hostess do estande interrompeu seu raciocínio para dizer que um senhor gostaria de falar com ele. Um militar com a farda cravejada de medalhas pediu para seu assessor bater uma foto dele conversando com Klabin. Quando voltou, o designer disse: “Engraçado, você tinha me perguntado disso agora mesmo. Esse cara era do Irã, ele ficou me pedindo para fazer uma fábrica lá, acredita? Eu disse que faria, claro. Mas tô fora!”
O sócio de Klabin, Gilberto Buffara, comentou que uma dupla de visitantes desdenhou dos modelos expostos, dizendo que eram só protótipos. “Claro que são protótipos. Mas voam, são iguais aos definitivos”, contestou. “Isso aqui é um ambiente muito competitivo. E os concorrentes brasileiros têm raiva porque a gente conseguiu.”
Herdeiro da construtora GB Armazéns Gerais, Buffara investe pesado na Santos Lab, e este ano entrou como patrocinador da LAAD, o que lhe rendeu logotipos da empresa nas placas de sinalização e um estande mais bem localizado. Perguntado sobre o trabalho de Wanderley Abreu Junior, ele respondeu de pronto: “É o quê? Jogador de futebol? Nunca ouvi falar.”
Ao contrário de Gabriel Klabin, Wanderley não desenha o avião em si. Enquanto não fecha contrato com um designer de aeronaves não tripuladas, ele testa seu software com protótipos SpyHawk da marca Hubsan, feitos de um isopor resistente. Numa manhã de março, Wanderley dirigiu até um sítio, na rodovia Rio–Teresópolis, para testar o piloto automático de seu drone. Além de Phillip Grant, agora seu sócio na Storm Defense, levou três funcionários envolvidos no projeto e o engenheiro aeronáutico Roberto Saeger, que já havia trabalhado com a Santos Lab e negociava a produção de aviões para a Storm.
Enquanto o grupo esperava a bateria recarregar, Wanderley e seus empregados brincavam de se comparar com os personagens da popular série americana The Big Bang Theory, que retrata o dia a dia de um grupo de garotos nerds. Todos concordaram que Wanderley seria o Sheldon, o mais inteligente e excêntrico da turma, e Phillip teria mais características em comum com Leonard, o popular entre as mulheres.
Wanderley Abreu Junior tem medo de voar de avião e não se interessa nem por pilotar remotamente o seu aviãozinho. Geralmente um funcionário familiarizado com o aeromodelismo se encarrega da função. Dessa vez, como queria testar justamente o piloto automático, Wanderley assumiu o computador e estabeleceu uma rota, retangular, que o drone deveria percorrer. Diferentemente do voo suave que um avião costuma fazer quando controlado por um piloto, a avioneta seguiu exatamente os comandos estabelecidos por Wanderley: subiu como um foguete até o primeiro ponto, mas, ao virar 90 graus para seguir para o segundo, sua asa quebrou e ela caiu no mangue próximo à pista.
“Droga, eu errei na programação do voo. Mas o piloto automático está funcionando direitinho”, disse ele. Roberto Saeger, que acompanhou pelo monitor as imagens enviadas pelo drone, parecia impressionado: “Eu nunca vi nada assim no Brasil. Nos voos da Santos Lab, você mal conseguia ver que era uma árvore ali embaixo. Nesse software, você consegue reconhecer até placas de carro, é impressionante.” Mais tarde, Saeger decidiu não fechar negócio com a Storm: a empresa não aprovou o orçamento proposto por ele. Wanderley agora negocia um trabalho semelhante com o designer de aviões Carlos Orion. “Eu digo quanto de carga ele precisa carregar, autonomia de voo, e ele desenha para mim.”
Ansioso para catapultar a produção de veículos aéreos não tripulados, Wanderley Abreu Junior recentemente começou a atacar em outra frente: os helicópteros. Dessa vez, quis manter a produção dentro da Storm, então contratou o amigo aeromodelista Ricardo Queiroz, o Montanha, que desenvolveu dois protótipos, um hexacóptero e um octocóptero, com seis e oito hélices respectivamente.
Ao contrário do avião, que tem autonomia de até noventa minutos de voo, os drones-helicópteros não conseguem ficar mais de meia hora no ar sem recarregar as baterias. Em compensação, suportam até 5 quilos de carga e fazem movimentos mais precisos com estabilidade – características que os habilitam para funções como transporte de mercadorias e filmagens aéreas.
Numa quinta-feira de maio, Wanderley fez uma demonstração do produto para o diretor de Novas Mídias da Globosat, Gustavo Ramos. No pátio ao fundo do prédio da empresa, na Barra da Tijuca, a equipe da Storm mandou os protótipos para o ar munidos de uma câmera de alta definição. Motoboys que vinham entregar o almoço dos funcionários paravam para observar os robozinhos barulhentos que voavam e paravam no ar. Ao perceber que Alberto Pecegueiro, o diretor geral da Globosat, tinha saído na varanda para olhar a novidade, Montanha guinou o octocóptero até a cobertura do prédio e filmou o sorriso curioso do executivo, que aplaudiu a manobra.
Em seguida, no escritório de Gustavo Ramos, Wanderley listou os usos que a empresa poderia fazer do equipamento, entre eles a filmagem de eventos esportivos e o transporte de material dentro do Projac, o enorme centro de produção da Rede Globo. “Ainda não existe autorização para o uso desses drones na cidade, é uma coisa muito nova”, lamentou. Ramos pareceu interessado, imaginou uma tomada de câmera aérea do Rock in Rio, e de campeonatos de surfe. Deixaram para agendar uma reunião mais para a frente.
Na sede da Storm, uma cobertura à beira-mar na Barra da Tijuca, não há nenhum sinal de aviões. O escritório, dividido em baias, poderia ser chamado de típico se não fosse pela agitação inusitada. Numa tarde no final de abril, Wanderley Abreu Junior empunhava um pirulito verde de isopor na sala de reunião, movendo-o para todos os lados. O monitor de tevê à sua frente refletia a cena como um espelho, mas um feixe de linhas se cruzava exatamente sobre a bolinha verde o tempo todo.
Ele explicou no que consistia a brincadeira: era parte do projeto de identificação de padrões, ou featuring, que ele precisa apresentar à Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, até o final do ano. Em setembro do ano passado, Wanderley ganhou uma licitação para desenvolver esse software capaz de identificar cores, placas de carros, rostos, objetos. “A ideia é que ele seja capaz de localizar qualquer coisa que o programador quiser: uma mala de um determinado volume, um cara gordo de vermelho e boné”, explicou.
Wanderley ainda não ganhou um único centavo da Otan. Segundo ele, essa é a regra da contratação de serviços de tecnologia de ponta. Como a empresa vencedora ganha a licitação com um projeto diferente de tudo o que ela já produziu até então, não há nenhuma garantia de que o serviço será entregue. O pagamento só é feito quando o trabalho fica pronto, e a contento do contratante. Se o seu software for aprovado pela Otan, Wanderley receberá 1,5 milhão de euros por um ano de trabalho, envolvendo vários funcionários.
Questionado se o investimento compensa, ele se levantou da cadeira. “Vem cá, você não tá me entrevistando?”, perguntou, ao mesmo tempo ofendido e desafiado. “Em alta tecnologia, quem fica rico é quem vende lá no fim. Quem produz não fica rico, com raras exceções. Mas o trabalho te dá horizontes mais amplos. Eu me sinto realizado em termos intelectuais fazendo o que eu mais gosto de fazer. Não vou virar um Eike Batista, a não ser que eu dê uma sorte, mas eu não estou pobre. Não é legal para caramba ir para o meio do mato ver um aviãozinho voando? Meu trabalho é aliciante! Eu só queria ser mais reconhecido.”
Wanderley não esconde sua vaidade. Lembra-se de quando apareceu num jornal pela primeira vez, no extinto caderno Vestibular de O Globo, em 1995, dizendo que queria ser engenheiro genético. Animado com o perfil na piauí, me apresentava para seus empregados e amigos como sua “biógrafa”.
O promoter e colunista social Bruno Chateaubriand é famoso pelas festas de Ano-Novo mais badaladas de Copacabana, organizadas no apartamento em que morava com o marido, André Ramos, no edifício Chopin. Amigo de longa data de Wanderley, ele faz de graça a assessoria de imprensa da Storm, em troca da segurança de seus sites.
“Eu não vou ligar nem um pouco se o meu filho for gay”, disse Wanderley. “Ainda mais se for bem-sucedido, admirado, que nem o Bruno. Filho gay não tem problema, eu não ia suportar ter um filho burro”, disse. No começo de abril, Wanderley me encaminhou o flyer da inauguração de uma loja de roupas masculinas no Shopping Leblon, cuja convidada especial seria a cantora Fergie, da banda Black Eyed Peas. O evento era promovido por Chateaubriand.
Casado há menos de um ano e pai de um menino de 6 meses, Wanderley disse que já foi mais assíduo nos eventos organizados pelo amigo. Em março, uma foto dele com a mulher, Aurora Rocha, num jantar oferecido pelo promoter, saiu estampada no site da colunista social Lu Lacerda. Autocrítico, o engenheiro julgou que a produção lhe conferia ares de bicheiro: uma camisa acetinada desabotoada até o peito, deixando à mostra uma corrente com pingente de crucifixo.
Na inauguração da loja de roupas, Wanderley optou por um terno básico. Não demonstrou interesse nem pelos itens em exposição nem por Fergie. Aurora, num tubinho de paetês prateados, não parecia que tinha acabado de ter um filho. Assim que chegaram à festa que se seguiu ao evento, ela me pediu para bater uma foto do casal com a piscina ao fundo, para pôr no Instagram.
Um pouco antes de a babá ligar avisando que o bebê queria mamar, Chateaubriand puxou Wanderley para uma conversa particular. “O Bruno disse que um maluco andou comentando mal de mim no blog dele”, explicaria mais tarde. Em seu blog na revista Veja Rio, Chateaubriand publicou a nota “Negócios bilionários de um hacker”. “Exagerou no ‘bilionários’, né? Agora ele quer que eu veja se dá para rastrear quem tá falando mal.”
Wanderley Abreu Junior desenhou seu primeiro programa de computador aos 7 anos. “Eu projetei a vila em que eu morava de cima, uns quadradinhos representando as casas. E aí coloquei um foguetinho que saía da minha casa em direção às dos outros garotos”, contou, com um sorriso orgulhoso. “Com isso eu chantageava todo mundo, dizia que se eles não me dessem o dinheiro do lanche eu ia explodir a casa deles, matar a mãe. Eles acreditavam!”
Em 1985, pouquíssimas pessoas tinham acesso à tecnologia no Brasil, mas seu pai era engenheiro do Exército, e se valeu do contato com a IBM para conseguir um computador. Na vila militar em que viviam, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, só um tenente tinha outra máquina – mas, como seus filhos eram muito pequenos, Wanderley era a única criança do lugar com acesso à novidade.
“Era um CP400, uma maquininha do tamanho de um teclado que você plugava na tevê e transmitia dados pela saída de áudio. Você ligava num gravador, gravava numa fita cassete”, descreveu Wanderley.
Muito ligado à tecnologia, seu pai gostava de consertar sozinho os eletrodomésticos da casa, e Wanderley observava tudo de perto. Apontando para uma cicatriz na mão, contou que foi fruto de um choque do flyback de uma televisão. “É um aparelho que converte a tensão de 5 volts para 10 mil volts. Deu um tranco, uma queimadinha.”
Mais tarde, quando a família se mudou para Brasília, o pai de Wanderley comprou um computador novo, o MSX, “que era mais poderosinho, mas ainda conectava na televisão”. Foi nesse computador que o menino teve contato com um dos embriões da internet, um sistema chamado Videotexto, que era fornecido pelas companhias de telefonia. Vários órgãos oficiais começaram a usar essa rede para consulta de dados.
“Acho que eu posso te contar uma coisa sem ser preso, o crime já prescreveu”, disse Wanderley numa tarde de março. Num dia de ócio infantil, ele descobriu a senha da base do Detran. “Era detrandetran, algo fácil assim. E eu conseguia ver as multas, apagar algumas para os adultos que me pagassem um picolé.”
A Universidade de São Paulo foi uma das primeiras a aderir ao Videotexto, e Wanderley também aprendeu a tirar proveito disso. A USP oferecia um serviço que direcionava perguntas recebidas pelo sistema para pesquisadores da universidade, que respondiam em pouco tempo. “Uma vez um professor passou um trabalho sobre doenças sexualmente transmissíveis, eu devia ter uns 12 anos… perguntei lá pros professores da USP e aí foi só imprimir a resposta.”
Em seguida, surgiu um novo sistema ainda precursor da internet, o Bulletin Board System, BBS. A rede não se parecia em nada com a que usamos hoje: as ferramentas de e-mail rodavam uma vez por dia, os sites não tinham qualquer blindagem de segurança e, sem os mecanismos de busca, as informações ficavam soltas. Navegando por esse emaranhado de documentos, Wanderley se deparou com uma apostilinha eletrônica chamada The Hacker’s Hand-book, que explicava técnicas de burlar autenticações.
“Se você gerasse uma sequência de números seguindo uma lógica de cartão de crédito, o sistema não checava com a operadora se ele era válido. Aí você podia ligar para qualquer lugar do mundo. Eu ligava para a Hacker’s Heaven, uma BBS americana que tinha vários documentos sobre a vulnerabilidade dos sistemas.”
A primeira regra que os hackers aprendiam a burlar era o tempo de conexão. Quando a BBS estabelecia um período de apenas sessenta minutos diários para cada usuário, os garotos manipulavam o sistema para terem acesso ilimitado. E daí era um círculo vicioso: Wanderley e seus amigos remanejavam o sistema para ter acesso a mais informações sobre como burlar mais sistemas.
A lógica do hacker não é muito diferente da do pichador de muros. A ideia é mostrar poder, deixar sua marca transgressora. Wanderley se lembra de que invadiu, por exemplo, o site de comemoração dos 500 anos do Brasil, e publicou palavras de ordem como “O que estamos comemorando? Fora FHC!”. “Mas era só para aparecer, eu sempre gostei do PSDB.”
Oantropólogo e crítico cultural Hermano Vianna conheceu Wanderley Abreu Junior nessa época. No livro Galeras Cariocas, organizado por ele e publicado em 1997 pela editora da UFRJ, Vianna dedica um capítulo inteiro à história de um namoro de Wanderley que começou na internet, misturando entrevistas com o casal e análises antropológicas. Flávia, a namorada, dizia: “Ele era famoso. E a fama dele não era das melhores.” Vianna definiu: “A conversa de Storm é sempre exaltada. Ele próprio reconhece que algumas vezes seu ‘narcisismo’ se intromete com a realidade, ‘colorindo’ fatos e façanhas.”
No livro, Wanderley comparava a ação do hacker à filosofia: “É uma consequência natural da busca pelo conhecimento; chega um ponto em que você procura esse conhecimento onde não deve, mas não é para fazer mal a ninguém.”
Intrigado com o que Wanderley fazia, Charles Miranda, o dono da Inside, uma das redes mais populares no Brasil, convidou-o para conversar. Propôs que ele consertasse as intervenções que havia feito no sistema e o deixasse menos vulnerável a hackers como ele. Foi seu primeiro emprego.
“Eu ‘hackeava’ qualquer porcaria, era muito fácil. A galera entrava no IRC, que era tipo um webchat. O domínio de onde você estava entrando aparecia no nome de usuário, e o status do negócio era entrar com um domínio foderoso, tipo Nasa.gov, Pentagon.mil. Teve época em que eu tinha máquina em todos os top level domains: .br, .edu, .gov, .mil, .mil.br, tinha para mais de 10 mil máquinas hackeadas.”
Wanderley estabelecia metas cada vez mais complicadas, até que começou a mirar no BlueMountain, um supercomputador do governo americano. “Eu sabia que um dos caras do Flight Center da Nasa tinha acesso a ele. Então eu sniffei a rede, que é decodificar as senhas, e dei a sorte de ele se logar no BlueMountain. Aí eu fiz miséria”, contou.
Wanderley instalou no supercomputador um sistema chamado SETI@HOME, cujo objetivo era procurar extraterrestres. Ele não tinha nenhum interesse excepcional por ETs, só queria se fazer notar de alguma forma. “Esse programinha fica rodando na máquina, processando pacotes, e tinha um campeonato para ver quem processava mais. Só que um dia eu tinha mais pacotes rodando no BlueMountain do que a IBM inteira, e olha que a IBM tinha parte na iniciativa!”
Numa tarde de 1999, Charles Miranda, ex-patrão de Wanderley na Inside e dono do provedor que ele ainda usava, recebeu um telefonema de Kathlyn Jackson, uma agente do governo americano. “Ele me ligou morrendo de medo, dizendo: ‘Porra, cara, que merda você fez? Dei seu telefone, você se vira aí! Não quero perder a minha licença!’”
Wanderley tinha 19 anos na época, já era estudante da primeira turma de engenharia mecatrônica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Foi seu pai que atendeu a chamada da agente. Ela explicou o que o filho havia feito, e fez uma proposta: “A gente tem um programa para garotos como ele. Ele vem para cá, aponta quais foram as falhas que permitiram que ele invadisse os computadores, conserta o que fez. Mas também visita o laboratório de Los Alamos e Maryland, faz um curso e sai com um certificado da Nasa.”
Naquela noite, quando chegou da faculdade, Wanderley encontrou os pais atônitos. “Levei um esporro absurdo, meu pai disse que eu ia ser preso, ou pior, não ia poder entrar nos Estados Unidos para estudar. Minha mãe, então, gritou para caralho. Mas foi bom para mim”, contou, mostrando o diploma da Nasa na parede do escritório. “Mas quero deixar bem claro que antigamente não tinha nenhuma lei que dissesse: ‘Você não pode acessar esse computador.’ Depois criaram o Digital Millennium Copyright Act, que estabeleceu os crimes cibernéticos, teve o 11 de Setembro. Hoje em dia, se você hackear a Nasa, você vai ser preso.”
Wanderley jura que nunca hackeou um computador particular, apesar dos muitos pedidos de amigos. “Eu respeito muito a privacidade dos outros. Não vou fuçar no e-mail da minha mulher. Fora que quem procura acha.”
Ao mesmo tempo, ele gosta de brincar com a sua fama de hacker, e usa isso para demonstrar poder sobre as pessoas. Enquanto estávamos em contato para a reportagem, gostava de me surpreender com alguma informação sobre mim que eu não havia contado. Um dia, me perguntou o que eu estava achando do mestrado, que havia acabado de começar. Ao perceber que havia me assustado, justificou: “Foi um stalkingzinho básico no Google, eu não vou invadir o seu computador, fica tranquila.”
O verbo em inglês to stalk, que significa “perseguir, espreitar”, é muito usado no contexto da internet para se referir à cata de dados online sobre uma pessoa. Mas é inevitável pensar que Wanderley tem ferramentas para acessar qualquer arquivo, e o fato de que ele pode estar lendo este perfil enquanto é escrito não me parece uma ideia totalmente paranoica.
Em meados de 1996, as primeiras denúncias de crimes na internet começaram a chegar aos órgãos de controle no Brasil. O promotor aposentado Romero Lyra, que trabalhava no Ministério Público do Rio de Janeiro à época, lembra-se da dificuldade que teve ao tentar investigar a origem das fotos de pedofilia que chegavam até ele.
“Ouvi até gente lá dentro dizendo: ‘Se o crime é virtual, não existe!’, como se aquelas fotos não fossem de crianças reais”, contou por telefone de Orlando, nos Estados Unidos, onde mora hoje com sua família. Lyra trabalhava também como professor de direito na PUC, e foi na faculdade que ouviu falar de Wanderley Abreu Junior. O hacker tinha acabado de voltar dos Estados Unidos e sua fama de “o garoto que invadiu a Nasa” já havia rodado a faculdade.
Fã de Wanderley, Romero Lyra preferiu enviar por e-mail um resumo romanceado da história da parceria dos dois. Na mensagem, disse que o hacker, na época um rapaz “branquelo e franzino”, encarnou o “exército do bem” contra o “exército do mal” que produzia filmes e fotos de violência e abuso sexual de crianças indefesas.
“Olhei no fundo dos olhos dele e pude ver a alma dele. Era ele! Em poucos minutos o garoto demonstrou o que era capaz de fazer com os ‘mais seguros’ sites de bancos e administradoras de cartões de crédito. Imediatamente o convidei para chefiar a coordenadoria que eu estava criando. Wanderley foi o ‘hacker do bem’ responsável por todo o trabalho de inteligência e investigação na rede que deu origem à maior operação de combate à pedofilia na internet brasileira, em todos os tempos: a Operação Catedral-Rio”, escreveu o promotor.
Numa tarde de março, em seu escritório, Wanderley Abreu Junior explicou no que consistiu o trabalho: ele rastreou os IPs (Internet Protocol, espécie de impressão digital de cada computador) de origem das fotos e travou contato com os usuários. “Eu fingia que era pedófilo, pedia mais fotos. Ficava todo mundo atrás de mim assistindo à conversa”, disse. Depois, Wanderley perguntava como poderia ter acesso às próprias crianças. “Era como se estivessem vendendo, sei lá, um mouse, um teclado.”
Numa das vezes, indicaram-lhe intermediadores em Catu, na Bahia, e ele partiu com a equipe de investigadores para a cidade. Chegando à casa do intermediador, pediu para ver as fotos no computador, deu um jeito de inserir um disquete e rastreou todos os contatos. “Em um ano, mais ou menos, apreendemos cerca de 120 máquinas, com desdobramentos para fora do Brasil. Veio até o FBI.”
No final de 1999, quando as denúncias vieram à tona, a foto de Wanderley saiu estampada nos principais jornais e revistas nacionais, identificado como o “hacker do bem”, responsável por desbaratar a rede de pedófilos. Wanderley garante que foi entrevistado até no programa da americana Oprah Winfrey nessa época – mas não tem gravação da participação, e a produção do programa respondeu que não tinha registros de todos os convidados de tanto tempo atrás.
“Foi rapidíssimo, mas eu fui lá! Tava até aquele ator Matt Damon… a Oprah pediu para ele comentar o caso, ele disse que era um absurdo, que era importante ter gente como eu investigando.”
Ao fim da Operação Catedral-Rio, Wanderley decidiu ficar no Ministério Público apenas como consultor. Aos 22 anos, queria realizar o sonho antigo de abrir uma empresa de segurança na internet. Vários de seus amigos hackers na adolescência tinham sido “cooptados pelo sistema” e trabalhavam em grandes empresas como Ford, Globosat, Bradesco, Furnas. “Consegui de cara vários clientes”, contou.
Na época, ficaram famosas as grandes empresas tocadas por jovens no Vale do Silício, na Califórnia, e Wanderley queria fazer um escritório descontraído como os do Google e da Cisco Graphics. “Coloquei fliperama, golzinho.” Wanderley define essa primeira Storm como enorme no tamanho e no gasto. “Eram quase quarenta funcionários, e eles não estavam trabalhando”, disse. Fadada à falência, a empresa foi vendida para uma multinacional de telefonia que começava a atuar no Brasil.
Como de praxe, o contrato de venda impunha a Wanderley um período de lock-up, um tipo de quarentena: ele não poderia trabalhar no mesmo ramo durante quatro anos, por questões de concorrência. Com o dinheiro que sobrou das rescisões de contrato dos funcionários, ele fez um plano de aposentadoria, começou a construir sua casa num antigo terreno de seus pais e entrou como sócio na boate Sky na Lagoa. “Eu só tinha 3%, era só para pegar mulherzinha”, resumiu.
Durante seis meses, passava as noites ali, e preenchia o resto dos dias jogando pôquer na internet. “Até que eu criei vergonha na cara e me inscrevi para um mestrado no MIT.” Ao fim de um ano lá, entregou um projeto sobre criptografia quântica, que resume assim: “É um jeito diferente de você ver a informática. Hoje tudo o que trafega é definido por 1 e 0, ou seja, sim ou não. Na computação quântica, existem vários estágios diferentes para um mesmo ponto. Você conseguiria compactar, criptografar mensagens muito grandes. Um filme que hoje tem 1 gigabite poderia ser compactado em 500 quilobites. Mas são máquinas teóricas, ainda não existem.”
Em seguida, um amigo do Colégio Militar o indicou para uma vaga na empresa portuguesa Critical Software, que prestava serviços à Agência Espacial Europeia. Wanderley foi contratado para trabalhar com projetos de segurança e criptografia. Na época, a empresa resolveu participar de uma licitação da Otan para um projeto de drone. “Foi meu primeiro contato com o negócio”, contou. A Critical Software não ganhou a concorrência naquele momento, mas, quando a Otan abriu uma nova licitação, no ano passado, seus ex-colegas o convidaram para concorrer em nome da empresa. É nesse projeto que ele trabalha agora.
Encerrada a quarentena, Wanderley voltou para o Brasil sem nenhum dinheiro. A construção da casa de seis quartos que tinha deixado sob a fiscalização de seu pai chegava ao fim, e ele se mudou para lá. O pai lhe ofereceu uma loja em Ipanema para recomeçar o negócio, e ele retomou contatos com os antigos clientes.
Com o tempo, passou a alugar a cobertura onde hoje funciona a Storm Security, pelo valor mensal de 16 mil reais. Para não misturar as coisas, Wanderley abriu uma segunda empresa, chamada Storm Defense, que trabalha apenas com os drones e o software relacionado a eles. Phillip Grant é seu sócio apenas nessa nova empresa, que tecnicamente não tem empregados. Mas os projetos se entrecruzam, e cada item desenvolvido por um funcionário pode servir a vários clientes. Parte da pesquisa para o projeto da Otan, por exemplo, lhes rendeu um contrato de monitoramento para a Infraero de Cuiabá, fechado em março deste ano.
Ao fim de uma reunião na Storm, Wanderley anunciou: “Agora eu tenho uma surpresinha. Até para você, Fábio”, disse a um funcionário. Abriu então no seu computador o aplicativo do Telecine Play, que desenvolve para a Globosat. O programa é uma versão nacional do americano Netflix: uma espécie de locadora de filmes online. O assinante dos canais Telecine pode escolher qualquer filme do acervo e assistir pelo computador, celular ou tablet quando quiser, sem fazer download, por um processo chamado streaming.
Wanderley então cruzou as mãos sobre a mesa de vidro, criando um momento de suspense. “Qual é, cara?”, pressionou Fábio. “Repara no cursor”, disse Wanderley. Como mágica, a seta do mouse na tela acompanhava o movimento da sua cabeça. “Tava de bobeira no fim de semana e fiz isso”, contou. No futuro, ele pretende deixar o sensor da câmera preciso a ponto de identificar até o movimento dos olhos do espectador. Em seguida, começou a listar os possíveis usos para o mecanismo, desde o aproveitamento óbvio por tetraplégicos até a capitalização do olhar do telespectador.
“Imagina se eu conseguir vender a informação de quantas pessoas prestaram atenção numa propaganda no canto do gramado durante a transmissão de um jogo de futebol”, disse. Ao perceber o funcionário boquiaberto, Wanderley começou a bater na mesa e gritar: “Seu chefe é foda! Pode falar, Fábio” – e foi prontamente atendido.
Wanderley ainda estava em Portugal quando o amigo Arnon de Mello, filho do ex-presidente Fernando Collor, o contatou. A Loops, empresa de Arnon, estava coordenando o conteúdo online da campanha presidencial de Geraldo Alckmin, em 2006. Mesmo à distância, Wanderley fez um frila de segurança. “Quando tinha algum e-mail de ódio, ou um blog ameaçando, eles me procuravam para descobrir a origem”, explicou.
Em 2010, a segurança das campanhas de José Serra à Presidência e de Antonio Anastasia para o governo de Minas Gerais já foi coordenada pela Storm Security – e ele toma conta até hoje dos sites do PSDB mineiro e de Aécio Neves.
Numa tarde de março, Wanderley dirigia rumo ao escritório da Globosat quando a música que tocava no rádio foi interrompida por uma chamada de seu celular, conectado por bluetooth. Um aviso no painel dizia “A. Neves”. “Ih, é a titia”, explicou. Do outro lado da linha, no viva-voz, Andréa Neves, irmã de Aécio, agitada, cobrava mudanças que havia encomendado no site. “Já está tudo em ordem, deixa comigo!”, respondeu Wanderley com intimidade. Fã de Andréa, o hacker gostaria que fosse ela a candidata à presidência. “Mas política não é assim, ela é dos bastidores, nunca vai querer se candidatar”, disse.
Ele, por sua vez, tem ambições políticas e sonha com uma Secretaria Especial de Ciência e Tecnologia – “com status de ministério”, deixa claro. Na falta de Andréa, Wanderley fecha com Aécio. “Se ele for disputar com a Dilma, vou ficar na minha. Mas se o Lula entrar na parada, eu hackeio urna eletrônica!”, disse, sério. Ao fim de uma pausa dramática, riu: “Tô brincando, claro.”