José Dirceu, aos 61 anos, em dezembro: "Eu faço o que dá. Eu tenho que trabalhar. Não roubei, não tenho dinheiro guardado. Depois do que aconteceu comigo, não tenho muita escolha" FOTO: J.R. DURAN_2007
O consultor
A nova vida de José Dirceu, repleta de viagens, negócios, conversas, internet, nostalgia da política e xingamentos em restaurantes e aeroportos
Daniela Pinheiro | Edição 16, Janeiro 2008
José Dirceu de Oliveira e Silva escolheu uma mesa no fundo do restaurante de um hotel caro e discreto, localizado entre os bairros do Ibirapuera e da Vila Mariana, onde se hospeda quando está em São Paulo. Era o começo da tarde de um sábado de novembro e ele vestia uma calça escura, camisa pólo com o decote forrado por um estampado Burberry e mocassins sem as meias. Chegou atrasado, se desculpou e disse que desembarcou de viagem na madrugada, acordou quase em cima da hora e, quando ia sair do quarto, recebeu telefonemas urgentes. Atravessou o salão vazio encarando o visor do celular por cima dos óculos. As sobrancelhas arqueadas lhe davam um ar de espanto. Deu uma rápida olhada no bufê de saladas antes de se acomodar em uma cadeira estofada com tecido florido, de costas para a entrada. Explicou que um problema na coluna – produto das horas seguidas que passa na frente do computador – o obriga a optar pelas de espaldar alto. O garçom, que o tratou pelo nome, lhe ofereceu uma garrafa de vinho. “Nem pensar”, respondeu. “Não bebo mais no almoço. Tomo vinho no máximo duas vezes por semana. Tenho que perder essa barriga.”
Ele havia ido a um casamento na véspera, encontrado amigos e tomado espumante. Depois de descrever a festa, falou de seus negócios. Contou que tem uma carteira de quinze bons clientes, a maioria deles estrangeiros, aos quais presta consultoria. Os brasileiros lhe pagam entre 20 e 30 mil reais. Deu como exemplo de cliente de peso o banco Azteca, do empresário mexicano Ricardo Salinas, que quer se estabelecer no Brasil e, como faz em outros países, cobrar tarifa zero dos correntistas. Outro cliente é o também mexicano Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, que planeja implantar no Brasil a televisão a cabo com mensalidade de 40 reais. “Mas não sou consultor dele no Brasil”, disse. “Como defendo coisas contrárias ao interesse dele aqui, temos um acerto informal de buscar negócios em outros países da América Latina. Eu disse a ele: ‘Don Carlos, aqui não’. Podemos até trabalhar juntos, mas fora do Brasil”, afirmou. “Ele me chamou para ir à casa de praia dele, eu nem fui para não haver mal-entendido.”
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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