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    CRÉDITO: ANDRÉS SANDOVAL_2025

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O drible da vaca

Um time estritamente vegano chega à Copa do Brasil

Daniel Bergamasco | Edição 231, Dezembro 2025

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Depois de traçar quatro refeições veganas ao longo do dia, o centroavante Kaiky Silva dispensou a ceia noturna servida no Laguna, um clube de futebol potiguar. Na sede do time em Tibau do Sul, perto da Praia de Pipa, a regra é clara: nenhum alimento que contenha carne, leite, ovos, mel ou derivados pode ser consumido. A multa para quem entrar com algum item proibido é de até 40% do salário do mês.

Acompanhado de um cúmplice, Kaiky pediu um pastel de carne pelo aplicativo de delivery, a fim de devorá-lo do lado de fora do clube. Cometeria, porém, outra infração, pois já passavam das 22 horas, a badalada do toque de recolher obrigatório. Ele e o amigo saíram de fininho para apanhar a encomenda, mas foram azarados: o fundador e técnico do time, Gustavo Nabinger, estava passeando com o cachorro. “Na hora que me viram, saíram correndo. Falei: ‘Estou vendo vocês escondidos atrás do carro, eu não sou idiota’”, conta o cartola.

Multado em 100 reais por estar fora do clube no horário proibido, Kaiky lembra, rindo, do episódio: “Foi o pastel mais caro da minha vida.”

 

Meses depois, em agosto de 2024, Kaiky virou notícia por outro motivo: foi vendido para o Botafogo, em uma transação de 2 milhões de reais, anunciada como a maior da base do futebol do Rio Grande do Norte (ele está hoje de volta ao Laguna, por empréstimo). A aquisição chamou a atenção para o time fundado em 2022 e que, desde então, vem subindo degrau a degrau: foi vice e campeão da série B do Campeonato Potiguar, ganhou o bronze na primeira divisão e no ano que vem estreará tanto na Copa do Brasil quanto na série D do Campeonato Brasileiro.

 

Gaúcho de Porto Alegre, Gustavo Nabinger, de 42 anos, atuou como volante em clubes pequenos e treinou a base de outros, como os campinenses Ponte Preta e Guarani. Quando decidiu fundar a própria Sociedade Anônima do Futebol (SAF), achou que o estado do Nordeste era uma boa pedida, com um mapa de deslocamentos curtos para os jogos estaduais e praias lindas como atrativos para os talentos da bola.

A decisão de criar um clube com causa, como ele diz, foi natural. Nabinger admirava o espanhol Athletic de Bilbao, que, para reafirmar a autonomia do País Basco, costuma contratar somente jogadores bascos. De um vídeo sobre o time, o gaúcho pinçou uma frase que costuma repetir: “Decidimos vencer menos para ganhar mais.”

 

Anos atrás, ele conheceu o Forest Green Rovers, clube centenário da terceira divisão do campeonato inglês e vegano desde 2015. “Vi que era um time sustentável, que queria fazer um estádio totalmente de madeira. Aquilo me chamou muito a atenção.” Uma ONG apresentou um clube ao outro e propôs o amistoso herbívoro, mas o Forest avisou que não faz viagens de avião para reduzir as emissões de carbono.

O Laguna é adepto de boas práticas ESG (ambientais, sociais e de governança), mobiliza funcionários e jogadores para mutirões de limpeza das praias e proibiu os jogadores de ter contas em casas de apostas (o clube anunciou que nunca fará propaganda de bets).

Vegetariano desde 2003 e vegano desde 2020, Nabinger decidiu que a bandeira mais visível seria o banimento de produtos de origem animal da alimentação e, até onde for possível, de outros materiais (ele se incomoda, por exemplo, com a falta de certificação vegana para colchões, que podem conter proteína do leite usado na composição de malhas mais macias). No cardápio do Laguna, tem espaço até para churrasco, mas com linguiça de ervilha, espetinho de soja, hambúrguer de grão de bico e legumes na brasa. “Eles dizem que nem parece vegano”, afirma a chef Mirna Ribeiro.

 

A piauí falou com quatro ex-jogadores e um ex-funcionário, ainda hoje carnívoros. Todos contaram que as refeições são boas, que se sentiam fortes e mais leves nos treinos. Alguns relataram que, na fase de adaptação, a microbiota intestinal sentiu o baque. “Tinha que ir toda hora pro banheiro”, recorda França Muniz, hoje no Porto Velho.

O consumo de carne fora da sede está liberado. Dentro, porém, a vigilância é rigorosa – e pode ter a ajuda de algum fofoqueiro. “Alguém contou pra gente que um jogador comia Nutella escondido no café da manhã”, diz Nabinger. Era Gabriel de Lima, que mais tarde trocou o futebol pela carreira de modelo. Mas ele diz que não foi nada disso: “Eu confundi vegetariano com vegano.” Tudo acabou bem, e Lima foi convidado a experimentar o creme de avelã sem leite de um dos patrocinadores.

Em um caso mais tenso, um jogador gaiato levou hambúrguer de carne bovina para uma das cinco cozinheiras fritar. Um dirigente viu a cena pela câmera de segurança. O atleta acabou demitido, e a funcionária, constrangida, pediu as contas.

 

O Laguna foi fundado por três sócios: Nabinger (que calcula ter investido 3 milhões de reais nos primeiros dezoito meses), sua irmã e um amigo. Neste ano, recebeu um aporte (de valor não divulgado) de um gestor de investimentos. Os patrocinadores (produtos vegetais), chegam a cobrir 10% dos custos nos melhores meses. No planejamento da expansão do soft power do clube havia o plano de fazer um documentário com ares de Ted Lasso – série de tevê que trata de modo bem-­humorado o ambiente futebolístico –, mas o projeto não foi adiante.

Foi pensando em conquistar fãs que o time escolheu um tom vibrante de cor-­de-rosa para o uniforme, o que rendeu ao escrete a alcunha de “algodão-doce”. Terá sido um tapa com luva de goleiro na masculinidade tóxica? “Vou ser sincero: a gente precisava ter uma camisa com uma cor neutra. Se eu fizesse uma camisa verde, quem torce pro Corinthians nunca ia ter. Se eu fizesse uma camisa vermelha, quem torce pro Grêmio nunca teria o Laguna como segundo time”, explica Nabinger. “Sobraram, então, basicamente laranja, roxo e rosa.”

Atento a um discurso mais tolerante, porém, o time fez questão de incluir no jogo de camisas o número 24, algo raro no futebol até poucos anos atrás. O escolhido para vestir o número foi o paraguaio da equipe. “No Paraguai não existe essa questão, né?”, diz o técnico, referindo-se à associação que se faz no Brasil entre homossexualidade e 24, que é o número do veado no jogo do bicho.

Das arquibancadas dos times rivais, os jogadores já ouviram coisas como “time de todes” e “churrasco de alface”, relembra Johann Buetes Arndt, que foi neste ano para o Juventus Jaraguá. Os atletas não se importam, mas não têm sangue de barata.

No futebol do estado, o Laguna tem relação amigável com o adversário chamado Alecrim e mantém uma rivalidade ferrenha com o QFC (nada a ver com a KFC, a lanchonete de frango frito). Em uma partida em outubro do ano passado, um atleta levou cartão amarelo por comemorar um gol além do tempo, e Nabinger acabou expulso da partida. Segundo a ocorrência registrada pelo árbitro, o então presidente do time gritou: “Apita essa porra direito, seu safado.” A carne é fraca – e o algodão é doce, mas não é mole, não.

Daniel Bergamasco
Daniel Bergamasco

é editor executivo do site da piauí. Foi repórter e correspondente em Nova York na Folha de S.Paulo, editor digital da Veja e diretor de redação da revista GQ Brasil

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