Os espaços com as mercadorias eram cada vez maiores e mais bonitos, meticulosamente limpos, contrastando com o abandono do metrô e das escolas públicas. Um ano inteiro não bastaria para experimentar todos os tipos de iogurtes Foto: ANDREAS GURSKY_99 CENT II DIPTYCHON_1999_EXPOSIÇÃO “ARTS & FOODS”, MILÃO, 2015/RICCARDO BIANCHINI_ALAMY STOCK PHOTO
O presente infinito
No início do século XXI, a multiplicação de nossos rastros abolia a sensação do tempo que passa
Annie Ernaux | Edição 152, Maio 2019
Atualizado em 6 de outubro de 2022, às 9h47
A Academia Sueca anunciou nesta quinta-feira (6/10/2022) a francesa Annie Ernaux como vencedora do Prêmio Nobel de Literatura. Ernaux, de 82 anos, é uma pioneira na chamada autoficção, misturando em seus livros histórias pessoais com vivências coletivas. Autora de O Lugar, Os Anos e O Acontecimento, entre outros, Ernaux é publicada no Brasil pela editora Fósforo, que confirmou sua presença na Feira Literária Internacional de Paraty em novembro. A piauí publicou em 2019 este texto da autora francesa.
Tradução de Marília Garcia
O ano 2000 estava chegando. Era difícil acreditar que estaríamos vivos para ver a passagem do milênio. Sentíamos pena das pessoas que morriam antes. Ninguém imaginava que as coisas fossem se passar de maneira normal, um “bug do milênio” estava anunciado, um distúrbio em escala planetária, uma espécie de buraco negro que anunciava o fim do mundo, o retorno à selvageria dos instintos. O século XX se fechava atrás de nós com incontáveis balanços, tudo era repertoriado, classificado, avaliado, as descobertas, as obras literárias e artísticas, as guerras, as ideologias, como se fosse preciso entrar no século XXI com a memória zerada. Um tipo de tempo solene e acusador – como se devêssemos tudo a ele – caía sobre nós e nos desfazia de nossas lembranças pessoais, daquilo que nunca tinha tido para nós esse caráter de totalidade – “o século” –, mas constituía simplesmente um fluxo de anos mais ou menos relevantes de acordo com as mudanças na nossa própria vida. No século que se aproximava, as pessoas que tínhamos conhecido na infância e das quais não tivemos mais notícias, os nossos pais e os avós, todos estariam definitivamente mortos.
Os anos 90 recém-vividos não tinham um significado específico, eram anos de desilusão. Vendo o que acontecia no Iraque – onde os Estados Unidos matavam a população de fome e a ameaçavam frequentemente com ataques, onde crianças morriam por falta de medicamentos –, em Gaza ou na Cisjordânia, na Tchetchênia, no Kosovo, na Argélia etc., era melhor não se lembrar do aperto de mão entre Arafat e Clinton em Camp David, nem da “nova ordem mundial” anunciada, ou de Yeltsin em seu tanque.[1] Na verdade, bem pouca coisa valia a pena ser lembrada, talvez as noites nebulosas de dezembro de 1995, já tão distantes, sem dúvida, quando houve a última grande greve do século.[2] E, em segundo plano, a bela e infeliz princesa Diana, morta em um carro na ponte de l’Alma, ou o vestido azul de Monica Lewinsky, manchado com o esperma de Bill Clinton. Pairando por cima de tudo, a Copa do Mundo de futebol. As pessoas adorariam poder reviver, todas juntas em frente à tevê, as ruas desertas atravessadas somente por entregadores de pizza, as semanas de espera que nos conduziam, de jogo em jogo, até aquele domingo e aquele instante em que, em meio ao clamor e ao êxtase, poderíamos ter morrido juntos de tanta alegria por ter a França vencido – só que era o contrário exato da morte – e nos entregar a um único desejo, uma única imagem, uma única narrativa. Foram dias fascinantes, cujos vestígios irrisórios eram as propagandas da água Evian e da rede Leader Price com o rosto de Zidane, espalhadas pelas paredes do metrô.
Depois disso, não precisava haver mais nada.
O último verão – tudo era o último – tinha chegado. As pessoas se reuniam mais uma vez. Amontoavam-se nos jardins de Paris e iam de carro para o norte, na direção das falésias do Canal da Mancha, a fim de ver a Lua cobrir o Sol ao meio-dia. De repente, esfriou e começou a anoitecer. Tínhamos pressa de ver o Sol reaparecer e, ao mesmo tempo, vontade de nos abandonar naquela noite estranha, tomados pela sensação de estarmos vivendo em ritmo acelerado a extinção da humanidade. Milhões de anos cósmicos passavam diante de nossos olhos cobertos com óculos escuros. Os rostos cegos erguidos para o céu pareciam esperar a chegada de um deus ou do cavaleiro branco do Apocalipse. O Sol reapareceu e as pessoas aplaudiram. O próximo eclipse solar aconteceria em 2081, não estaríamos aqui para ver.
Enfim, chegamos ao ano 2000. Tirando os fogos de artifício e uma euforia urbana previsível, não houve nada de especial. Ficamos decepcionados, o bug previsto era uma farsa. Seis dias antes tinha ocorrido outro evento, que logo ficou conhecido como “a grande tempestade”, surgida do nada. Foi à noite e, em poucas horas, ela derrubou milhares de postes, destruiu florestas, arrancou telhados, seguindo seu caminho de norte a sul e de oeste a leste, matando com delicadeza apenas uma dúzia de pessoas que estavam no lugar errado na hora errada. Pela manhã, o Sol iluminou pouco a pouco a paisagem destruída, com a beleza própria da devastação. Aqui começava o terceiro milênio. (Houve quem tenha pensado em uma vingança misteriosa da natureza.)
Nada mudou, exceto o insólito número 2 que agora ficava no lugar do 1, fazendo a caneta se equivocar ao escrever a data nos cheques. Após um inverno leve e chuvoso como os anteriores, a lembrança das “diretivas europeias” de Bruxelas, o “boom das startups”, e uma espécie de melancolia no lugar do entusiasmo esperado. Os socialistas governavam sem chamar a atenção. As passeatas diminuíam. Não íamos mais à manifestação dos imigrantes ilegais.
Com alguns meses de atraso em relação à chegada do século, o avião dos ricos, o Concorde, que ninguém que a gente conhecia pegava, caiu na região de Gonesse e rapidamente desapareceu da memória, passando para a mesma época do general De Gaulle. Um homenzinho gélido, de ambições impenetráveis, com um nome, enfim, de fácil pronúncia, Putin, substituiu o beberrão Yeltsin e prometeu ir atrás dos tchetchenos até o fim do mundo para “acabar com eles”. A Rússia já não transmitia esperança nem medo, apenas um sentimento de desolação perpétua. Ela abandonara nosso imaginário – que os americanos estavam ocupando mesmo contra a nossa vontade, como uma árvore gigantesca espalhando seus galhos pela superfície da Terra. Eles nos irritavam cada vez mais com as suas lições de moral, seus acionistas e fundos de pensão, a poluição que espalhavam pelo planeta e o nojo que tinham de nossos queijos. Apenas uma palavra era capaz de designar a pobreza de sua superioridade, fundada em armas e na economia: “arrogância”. Conquistadores sem ideais, exceto em relação ao petróleo e aos dólares. Seus valores e princípios – contar apenas consigo mesmo – não davam esperança a mais ninguém além deles, e nós sonhávamos com “um outro mundo”.
De início foi difícil acreditar naquilo – como mostraria depois um filme em que se vê George W. Bush, feito uma criança perdida, sendo incapaz de esboçar uma reação sequer à notícia –, foi difícil pensar e sentir qualquer coisa, e só conseguíamos ficar de olhos grudados na televisão, repetidas vezes, para ver as Torres Gêmeas desabando, uma depois da outra naquela tarde de setembro – era manhã em Nova York, mas para nós tudo terá ocorrido sempre à tarde –, como se, de tanto ver as mesmas imagens, aquilo acabasse se tornando real. Ninguém conseguia sair do estupor, que compartilhávamos com o máximo de gente por meio dos celulares.
Surgiam inúmeros discursos e análises. O acontecimento em si, em sua pureza, se dissipava. A proclamação do Le Monde nos revoltava: “Somos todos norte-americanos.”[3] Em um piscar de olhos, nossa representação de mundo tinha virado de ponta-cabeça, alguns indivíduos fanáticos, vindos de países obscurantistas, armados só com estiletes, tinham destruído em menos de duas horas os símbolos do poderio americano. O prodígio de tamanha façanha causava espanto. Nós nos repreendíamos por ter achado que os Estados Unidos eram invencíveis. Estavam se vingando dessa ilusão. Vinha à mente outro 11 de setembro e o assassinato de Allende.[4] Havia uma espécie de compensação. Em seguida, precisávamos ter compaixão e pensar nas consequências. O que mais importava era dizer onde, como e por intermédio de quem, ou de qual meio, tínhamos recebido a notícia do ataque às Torres Gêmeas. Os pouquíssimos que não souberam no mesmo dia ficaram com a impressão de terem faltado a um compromisso com o resto do mundo.
E cada um ia em busca do que estava fazendo no exato instante em que o primeiro avião tocou a torre do World Trade Center, em que os casais pularam para o vazio de mãos dadas. Não havia qualquer relação entre uma coisa e outra, exceto estarmos vivos ao mesmo tempo que os 3 mil seres humanos prestes a morrer, mas, quinze minutos antes, ignoravam o que lhes aconteceria. Lembrávamos que naquele momento estávamos no dentista, na estrada, em casa lendo, nessa estupefação da contemporaneidade percebíamos da mesma maneira precária o que separava as pessoas na Terra e o que as unia. E nosso desconhecimento do que se passava em Manhattan no mesmo segundo em que olhávamos uma tela de Van Gogh no Museu d’Orsay era igual ao que tínhamos do momento da nossa morte. Entretanto, no meio do fluxo insignificante dos dias, aquela hora, que continha tanto as torres do World Trade Center destruídas como um compromisso no dentista ou uma revisão agendada do carro, estava salva.
O 11 de Setembro repelia todas as datas que tinham nos acompanhado até então. Do mesmo modo que dizíamos “depois de Auschwitz”, passamos a dizer “depois do 11 de Setembro”, um dia único. Aqui começava alguma coisa que não sabíamos o que era. O tempo também se globalizava.
Mais tarde, ao nos lembrarmos dos fatos que, com hesitação, situávamos em 2001 – uma tempestade em Paris no final de semana de 15 de agosto, um massacre no banco Caisse d’Epargne de Cergy-Pontoise, o Big Brother, o lançamento do livro A Vida Sexual de Catherine M. –, ficaríamos surpresos que todos eles tivessem ocorrido antes de 11 de Setembro e impressionados ao constatar que nada os distinguia dos fatos que se passaram depois, em outubro ou novembro. Todos eles tinham retornado ao estado flutuante do passado e retomado sua liberdade em relação a um acontecimento que – agora era preciso admitir – nós não tínhamos realmente vivido.
Sem ter tempo de refletir, entrávamos em um estado de medo. Uma força obscura tinha se infiltrado no mundo, disposta aos atos mais atrozes em todos os pontos do planeta. Envelopes cheios de um pó branco matavam seus destinatários, o Le Monde dava a manchete “A guerra que se aproxima”. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, filho insignificante de um mandatário anterior, eleito de modo ridículo depois de intermináveis recontagens de votos, proclamava a guerra das civilizações, do Bem contra o Mal. O terrorismo tinha um nome (Al Qaeda), uma religião (o islamismo) e um país (o Afeganistão). Não podíamos mais dormir, era preciso ficar alerta até o fim dos tempos. A obrigação de endossar o medo dos americanos esfriava a solidariedade e a compaixão. Fazíamos troça da incapacidade deles para capturar Bin Laden e o mulá Omar, que tinha fugido de moto.
A imagem do mundo muçulmano virava do avesso. Aquela nebulosa constituída por homens de vestido e mulheres usando véu como santas virgens, homens conduzindo camelos pelo deserto, danças do ventre, minaretes e muezins passava do estado de objeto distante, pitoresco e atrasado, para a condição de força moderna. As pessoas se esforçavam para unir modernidade e peregrinação à Meca, moças usando burcas e preparando uma tese na universidade de Teerã. Não dava mais para esquecer os muçulmanos. Um bilhão e 200 milhões de pessoas.
(O bilhão e 300 milhões de chineses sem crença alguma além da economia que turbinava a fabricação de produtos baratos destinados ao Ocidente eram apenas um silêncio distante.)
A religião estava de volta, mas não era a nossa, na qual já não acreditávamos, que não quisemos transmitir e, no fundo, permanecia sendo a única legítima, a melhor, se fosse preciso julgar. Dela, guardávamos, no museu da infância, as dezenas do rosário, as cantigas e o peixe das Sextas-Feiras Santas, “sou cristão, eis minha glória”.
A distinção entre os “franceses de raiz” – isto é, que fazem parte da árvore, da terra – e os “provindos da imigração” não se alterava em nada. Quando o presidente da República evocava, em um discurso, o “povo francês” era claro que se referia a uma entidade – generosa e acima de qualquer suspeita xenofóbica –, que continha Victor Hugo, a Tomada da Bastilha, os camponeses, os professores e os padres, o Abbé Pierre e Charles de Gaulle, Bernard Pivot, Asterix, Mère Denis e Coluche,[5] as Maries e os Patricks. Mas essa entidade não incluía Fatima, Ali e Boubacar, aqueles que realizavam suas compras nas imensas seções de alimentos halal e faziam o Ramadã. E menos ainda os jovens dos “bairros desfavorecidos”, cujos capuzes cobrindo a cabeça e o jeito desleixado de andar seriam sinais evidentes de sua dissimulação e preguiça, de que certamente não representavam nada de bom. De modo obscuro, eles eram os nativos de uma colônia no interior do país sobre a qual não tínhamos mais o controle.
A linguagem construía constantemente a divisão entre “nós” e “eles”, circunscrevia-os em “comunidades” nos “bairros”, em “territórios sem lei”, entregues ao tráfico de drogas e aos estupros coletivos. A linguagem os tornava selvagens. Jornalistas declaravam: “Os franceses estão preocupados.” Segundo pesquisas – que ditavam as emoções –, a insegurança era a principal fonte de preocupação das pessoas. Ela teria a forma inconfessada de uma população morena e de bandos velozes que roubavam o celular de pessoas honestas.
A mudança para o euro foi uma distração, por um breve momento. A curiosidade de ver de onde vinham as cédulas e moedas não durou mais do que uma semana. Era uma moeda fria, com pequenas notas limpas, sem imagens nem metáforas, um euro era um euro, nada além disso – uma moeda quase irreal, sem peso e dissimulada, que retraía os preços e dava a impressão de que as coisas estavam baratas, embora, ao olhar o contracheque, parecesse que tínhamos empobrecido. Era tão estranho imaginar a Espanha sem as pesetas ao lado das tapas e sangrias, a Itália sem as 100 mil liras da diária de um hotel. A melancolia das coisas nos fazia sentir falta do tempo passado. Pierre Bourdieu, intelectual e crítico que as pessoas mal conheciam, tinha morrido, sequer sabíamos que estava doente. Ele não tinha nos dado tempo para prever sua ausência. Uma tristeza estranha se espalhou silenciosamente entre os que tinham lido Bourdieu e se sentido libertados por ele. Tivemos medo de que a fala dele se apagasse em nós da mesma maneira que a de Sartre, já tão distante agora. Tivemos medo de que a opinião reinasse sobre a razão.
A eleição presidencial de maio de 2002 foi a mais desanimadora de todas. Uma repetição de 1995, com os mesmos Chirac e Jospin (este, agora, assumia um estilo à Tony Blair e causava repulsa ao usar a palavra “socialista”, mas provavelmente seria eleito). Era surpreendente lembrar a tensão e a dureza dos primeiros meses de 1981.[6] Na memória, pelo menos, naquela época estávamos indo para algum lugar. Até mesmo a eleição de 1995 parecia melhor do que esta agora. Não dava para saber se era a imprensa que nos usava com suas pesquisas, “em quem você confia mais?”, e seus comentários arrogantes, ou se os políticos, com promessas de reduzir o desemprego e conter a sangria da previdência social, ou ainda se o problema eram os mendigos romenos, a escada rolante sempre estragada da estação de trem ou a fila nos caixas do Carrefour e dos correios – todas essas coisas mostravam que colocar nosso voto na urna era um gesto tão sem importância quanto preencher um cupom para participar de um sorteio no shopping. Até os Guignols, do Canal +,[7] tinham deixado de ser engraçados. Já que ninguém nos representava, pelo menos que tivéssemos algum prazer, afinal votar era um ato íntimo e afetivo. Esperamos um último impulso para decidir: Arlette Laguiller, Christiane Taubira[8] ou o Partido Verde? Era preciso estar habituado a votar e ter um forte senso de “dever eleitoral” para se mobilizar em um domingo de abril, em pleno recesso de primavera.[9]
Com exceção da temperatura agradável e do sol que fazia naquele domingo de abril, estranhamente não lembraríamos nada do que fizemos naquele dia nem das horas que antecederam o anúncio da apuração, somente uma sensação de espera distraída. Até que aconteceu. O homem que há vinte anos dizia barbaridades antissemitas e racistas, o demagogo de expressão colérica que divertia sua plateia, surgia tranquilamente e aniquilava Jospin.[10] “Chega de esquerda”, era o recado. A leveza política da vida se esvaía pelas mãos. A culpa era nossa. O que será que tínhamos feito? Não teria sido melhor votar em Jospin em vez de Laguiller? A consciência andava em círculos, presa no espaço entre o gesto inocente de pôr o voto na urna e o resultado coletivo. Seguimos nosso desejo até o fim e fomos punidos. Éramos culpabilizados, o discurso da vergonha substituiu o da insegurança que estava ali até o dia anterior. A caça aos responsáveis começou: os que se abstiveram, os que tinham votado pelos partidos ecologista, trotskista e comunista, e a televisão mostrando em loop, na véspera da eleição, o patético Papy Voise agredido por criminosos que, para piorar, ainda atearam fogo no barraco onde o miserável morava.[11] A imprensa “dava voz” aos que tinham votado silenciosamente em Le Pen: operários e caixas de supermercado saídos das sombras eram interrogados em busca de uma explicação rápida e inútil.
Mas ninguém teve muito tempo para refletir, pois começou o frenesi para uma mobilização geral, com o objetivo de salvar a democracia, que intimava a votar em Chirac (com conselhos para conservar a pureza da alma ao depositar o voto na urna: tapar o nariz e colocar luvas, “mais vale um voto que fede do que um voto que mata”). O impulso foi unânime e estrondoso e levou todo mundo às ruas, formando uma multidão que marchou dizendo palavras de ordem típicas do 1º de Maio: “É hora de deter Führer Le Pen!”, “Sem medo, resistir”, “Eu tenho colhão”, “I’ve got the balls”, “Tengo las bolas”, “17,3% na escala Hitler”. Os jovens, de volta do recesso de primavera, se sentiam como se estivessem na Copa do Mundo. Debaixo de um céu cinzento na Place de la République lotada de gente, esmagados detrás de um cortejo monstruoso que não avançaria nunca, fomos invadidos pela dúvida. Parecíamos figurantes em um filme sobre os anos 30. Havia no ar certa hipocrisia. Todos se resignavam a votar em Chirac em vez de ficar em casa. Depois de votar, a sensação era de ter cometido um ato estúpido. À noite, na tevê, vendo o mar de rostos erguidos para Jacques Chirac, gritando “Chichi, te amamos”, enquanto alguém balançava por cima das cabeças a mãozinha que era o símbolo da associação SOS Racismo, só conseguíamos pensar, que idiotas.
Posteriormente, na memória, só restaria da eleição para presidente o dia e o mês do primeiro turno, 21 de abril, como se a eleição forçada do segundo turno com 80% de comparecimento às urnas não contasse. Será que votar ainda valia a pena?
A direita voltava a ocupar todos os espaços. E, outra vez, os mesmos discursos de adaptação ao mercado e à globalização, as mesmas exigências para se trabalhar cada vez mais brotavam da boca do primeiro-ministro, [Jean-Pierre] Raffarin. Seu nome, sua postura derrotada e sua afabilidade cansada evocavam a figura de um burocrata dos anos 50, andando com o passo tão pesado que rachava o piso de seu gabinete. Já quase não causava indignação ouvi-lo dizer, como no século XIX, “a França de cima” e a “França de baixo”. Deixávamos tudo aquilo de lado. Até mesmo a seleção francesa acabou sendo eliminada da Copa do Mundo na Coreia do Sul. Nós nos recolhíamos do mundo.
O sol de agosto queimava. Com as pálpebras fechadas, deitados na areia, éramos as mesmas mulheres e os mesmos homens de antes. Tomávamos banho de mar, o mesmo da infância nas praias de seixos da Normandia, das férias antigas na Costa Brava. Mais uma vez ressuscitávamos do passado cobertos com uma mortalha feita de luz.
Ao abrir os olhos, víamos uma mulher entrar no mar vestida com um casaco e uma saia longa, um véu muçulmano cobrindo os cabelos, de mãos dadas com um homem sem camisa, de short. Era uma visão bíblica, cuja beleza nos deixava terrivelmente tristes.
Os espaços onde as mercadorias ficavam expostas eram cada vez maiores, mais bonitos e coloridos, meticulosamente limpos, contrastando com o abandono das estações de metrô, dos correios e das escolas públicas. Todas as manhãs, eles renasciam no esplendor e na abundância do primeiro dia do Éden.
Um ano inteiro não seria suficiente para experimentar todos os tipos de iogurtes e sobremesas lácteas oferecidos no mercado, mesmo comendo um por dia. Havia depiladores diferentes para axilas masculinas e femininas, protetores de calcinhas, lenços umedecidos, “receitas criativas” e “biscoitos tostados” para gatos, separados em seções para gatos adultos, jovens, idosos, de apartamento. Nenhuma parte do corpo humano e suas funções ficavam de fora da previsão dos industriais. Os alimentos tinham “teor reduzido” ou eram “enriquecidos” por substâncias invisíveis, vitaminas, ômega 3, fibras. Tudo o que existe, o ar, quente e frio, a grama e as formigas, o suor e o ronco noturno, poderiam infinitamente gerar mercadorias e produtos em uma subdivisão contínua da realidade e em um desdobramento dos objetos. A imaginação comercial não tinha limites, se apropriava de todas as linguagens, ecológica, psicológica, e atribuía a si um caráter humanitário e de justiça social, convocando o consumidor a se juntar a ela na “luta contra uma vida cara” e prescrevendo “O prazer que você merece”, “Faça seu negócio”. Organizava a comemoração das festas tradicionais, do Natal e do Dia dos Namorados, e acompanhava o Ramadã. Era uma moral, uma filosofia, a forma incontestada das nossas existências, A vida. A verdadeira. Supermercados Auchan.
Vivia-se uma ditadura doce e feliz, ninguém se opunha a ela, era preciso apenas se proteger dos excessos e educar o consumidor, primeira acepção usada para definir o indivíduo. Para todos, inclusive para os imigrantes clandestinos amontoados em barcos que chegavam à costa da Espanha, a liberdade era um shopping center, com seus hipermercados entupidos de produtos. As pessoas achavam normal ter mercadorias chegando do mundo inteiro e circulando livremente, enquanto os homens eram barrados nas fronteiras. Para atravessá-las, alguns se escondiam dentro de caminhões, disfarçando-se de mercadorias – inertes –, e assim morriam asfixiados, esquecidos pelos motoristas em um estacionamento debaixo do sol de junho em Douvres.
A demanda pela distribuição de produtos ia tão longe que colocavam à disposição dos mais pobres seções com produtos a granel de baixa qualidade e sem marca, carne enlatada, patê de fígado – que faziam os mais ricos se lembrarem da penúria e da austeridade dos antigos países do Leste Europeu.
Produziu-se aquilo que tinha sido anunciado nos anos 70 por Debord, Dumont – e também por um romance de Le Clézio.[12] Como tínhamos deixado acontecer algo assim? Nem todas as previsões tinham se realizado, não estávamos cobertos de picadas, nossa pele não estava caindo como em Hiroshima, não era preciso usar máscara de gás para sair às ruas. Ao contrário, estávamos mais belos, com a saúde melhor e cada vez mais era inconcebível morrer de alguma doença. Ainda havia motivos para deixar os anos 2000 seguirem adiante sem perder a cabeça.
Lembrávamos a reprimenda dos pais: “Você não está feliz com o que tem?” Agora dava para saber que tudo o que tínhamos não bastava para ser feliz, mas isso não era um motivo para abrir mão das coisas. E que algumas pessoas fossem isoladas, “excluídas”, isso parecia o preço a ser pago, uma cota indispensável de vidas sacrificadas, para que a maioria pudesse continuar aproveitando.
Um comercial dizia: “Entre o dinheiro, o sexo e as drogas, escolha o dinheiro.”
Precisávamos nos atualizar comprando um aparelho de DVD, uma câmera digital, um MP3 player, um modem ADSL, uma tevê de tela plana, a mudança era constante. Não acompanhar os novos produtos significava aceitar o envelhecimento. À medida que o desgaste deixava marcas na pele, que ele afetava insensivelmente o corpo, o mundo nos enchia de coisas novas. Nosso desgaste e a marcha do mundo iam em direções contrárias.
As questões que surgiam com o aparecimento de novas tecnologias eram suprimidas umas depois das outras em um uso que tinha se tornado natural e irrefletido. As pessoas que não sabiam manipular um computador e um MP3 player iam desaparecer como tinham desaparecido aquelas que não sabiam usar o telefone ou uma máquina de lavar.
Nas casas de repouso, as senhoras idosas ficavam vendo, com olhos cansados, o espetáculo contínuo de publicidades de produtos e aparelhos que elas nunca poderiam imaginar que seriam necessários e que não teriam mais nenhuma chance de ter.
Estávamos completamente tomados pelo tempo das coisas. Um equilíbrio mantido por bastante tempo entre a espera por elas e o seu surgimento, entre a privação e a obtenção, tinha se rompido. A novidade já não suscitava ataques nem entusiasmo, já não assombrava mais o imaginário. Era o caminho normal da vida. Talvez o próprio conceito de novo desaparecesse, assim como o de progresso já quase não existia, estávamos condenados a isso. Começávamos a entrever a possibilidade ilimitada de tudo. Os corações, os fígados, os olhos, a pele passavam dos mortos para os vivos, os óvulos de um útero para o outro e mulheres de 60 anos davam à luz. O lifting interrompia a passagem do tempo no rosto das pessoas. Na televisão, Mylène Demongeot era a mesma boneca resplandecente que tínhamos visto em Basta Ser Bonita, conservada intacta desde 1958.[13]
Dava vertigem pensar nos clones, em crianças inseridas em um útero artificial, implantes cerebrais, em wearables – que em inglês ganhava uma pitada a mais de estranheza e de poderio. Dotados de uma sexualidade completamente indiferenciada, essas coisas e comportamentos coexistiriam com os antigos durante certo tempo.
Mas a facilidade de tudo ainda assombrava e produzia a exclamação, diante de um novo objeto recém-chegado no mercado: “Sensacional!”
Havia o pressentimento de que, no tempo de uma vida, surgiriam coisas inimagináveis às quais as pessoas se habituariam, como fizeram tão rapidamente com o celular, o computador, o iPod e o GPS. O que mais perturbava era não poder imaginar como seria o modo de vida em dez anos nem saber se nós mesmos nos adaptaríamos às tecnologias ainda desconhecidas. (Será que um dia veríamos na cabeça do ser humano toda a sua história inscrita, o que fez, disse, viu e ouviu?)
A vida acontecia em uma profusão de coisas, de informações e de “especialidades”. Produzia-se opinião sobre um fato logo que ele acontecia, sobre os comportamentos, os corpos, o orgasmo e a eutanásia. Tudo era discutido e decifrado. As formas de pôr a vida e as emoções em palavras se multiplicavam, com termos como “vício”, “resiliência” e “trabalho de luto”. Depressão, alcoolismo, frigidez, anorexia, infância infeliz, nada mais era vivido em vão. Comunicar as experiências e os fantasmas era um gesto que fazia bem para a consciência. A introspecção coletiva oferecia modelos para verbalizar as inquietações do eu. O saber comum aumentava seu repertório. O pensamento era cada vez mais ágil, a aprendizagem, mais precoce, e a lentidão da escola desesperava os jovens que digitavam mensagens em seus celulares na maior velocidade.
Em meio à mistura de conceitos, era cada vez mais difícil encontrar uma frase para si próprio, a frase que, quando dita em silêncio, ajudasse a viver.
Na internet, bastava escrever uma palavra-chave para surgirem milhares de “sites”, jogando em desordem pedaços de frases e fragmentos de textos que nos sugariam para outros lugares em uma caça ao tesouro excitante, um achado atrás do outro, indo até o infinito de uma coisa que já não estávamos buscando. Dava a ilusão de podermos dominar a totalidade do conhecimento, entrar na multiplicidade de pontos de vista lançados em blogs em uma língua nova e brutal. Informar-se sobre os sintomas do câncer na garganta, a receita da moussaka, a idade de Catherine Deneuve, o clima em Osaka, o cultivo de hortênsias e cannabis, a influência dos japoneses no desenvolvimento da China – jogar pôquer, gravar filmes e discos, comprar de tudo, ratos brancos e revólveres, Viagra e vibradores, vender e revender de tudo. Conversar com estranhos, xingar, paquerar, inventar uma persona para si. Os outros não tinham corpo, nem voz nem cheiro nem gestos, não podiam nos alcançar. O mais importante era o que podíamos fazer com eles, a lei da troca, o prazer. O grande desejo de poder e impunidade se realizava. Seguíamos na realidade de um mundo de objetos sem sujeitos. A internet realizava a transformação fascinante do mundo em discurso.
O clique saltitante e veloz do mouse na tela era a medida do tempo.
Em menos de dois minutos era possível encontrar: as colegas do Liceu Camille Jullian, em Bordeaux, turma do 1º ano secundário C2, 1980-81, uma canção de Marie-Josée Neuville, um artigo de 1988 do jornal L’Humanité. A busca do tempo perdido passava pela web. Os arquivos e todas as coisas antigas que sequer imaginávamos poder encontrar um dia chegavam até nós sem demora. A memória tinha se tornado inesgotável, mas a profundidade do tempo – cuja sensação era produzida pelo cheiro e o amarelecido do papel, o barulho das páginas, o sublinhado de um parágrafo pela mão de um desconhecido – tinha desaparecido. Estávamos em um presente infinito.
Queríamos, incessantemente, “salvar” esse presente, em um frenesi de fotos e filmes imediatamente visíveis. Centenas de fotos enviadas para todos os amigos, em um novo uso social, depois transferidas e arquivadas em pastas – que raramente eram abertas – no computador. O que contava era o gesto de fotografar, a existência captada e duplicada, registrada à medida que vivíamos, cerejeiras em flor, um quarto de hotel em Estrasburgo, um bebê recém-nascido. Lugares, encontros, cenas, objetos, era a conservação total da vida. Com a vida digital, dava para esgotar a realidade.
Nas fotos e filmes classificados por data que íamos passando na tela, além da diversidade de cenas, paisagens e pessoas, espalhava-se a luminosidade de um tempo único. Outra forma de passado se inscrevia, fluido, com baixo teor de lembranças reais. Havia imagens demais para nos determos em cada uma e revivermos as circunstâncias de quando tinham sido feitas. Por meio delas vivíamos uma existência leve e transfigurada. A multiplicação de nossos rastros abolia a sensação do tempo que passa.
Era estranho pensar que, com os DVDs e outros suportes, as gerações seguintes conheceriam tudo sobre nossa vida cotidiana mais íntima, nossos gestos, o modo de comer, falar e fazer amor, os móveis e roupas de baixo. A escuridão dos séculos anteriores – pouco a pouco eliminada, primeiro pela câmera no estúdio do fotógrafo, depois pelas câmeras digitais dentro do nosso próprio quarto – desapareceria para sempre. Ressuscitávamos antes da hora.
E cada um tinha em si uma grande memória vaga do mundo. Das coisas, só conservávamos palavras, detalhes, nomes, aquilo que viria depois da locução de Georges Perec, “eu me lembro”: do sequestro do barão Empain, dos chocolates Picorette, das meias de Bérégovoy, de Devaquet, da Guerra das Malvinas, do achocolatado Benco.[14] Mas não eram lembranças de verdade, continuávamos chamando assim, mas eram outra coisa: marcadores de uma época.
Os meios de comunicação assumiram a responsabilidade pelo processo de memória e esquecimento. Eles comemoravam tudo o que era possível, o apelo do Abbé Pierre, a morte de Mitterrand e de Marguerite Duras, o início e o fim das guerras, a chegada à Lua, Chernobyl, o 11 de Setembro. Cada dia era o aniversário de alguma coisa, de uma lei, da abertura de um processo, de um crime. Eles dividiam o tempo em anos do iê-iê-iê, dos hippies, da Aids, e as pessoas em gerações De Gaulle, Mitterrand, 1968, baby boom, digital. Pertencíamos a todas elas e a nenhuma. Os nossos próprios anos não estavam ali.
Estávamos nos transformando. Não reconhecíamos nossa forma nova.
Quando levantávamos a cabeça para ver a Lua à noite, ela brilhava fixamente sobre um mundo do qual sentíamos a vastidão, a efervescência, sobre bilhões de pessoas. A consciência se dilatava no espaço total do planeta, na direção de outras galáxias. O infinito deixava de ser imaginário. Por isso era inconcebível dizer que iríamos morrer um dia.
Trecho do livro Os Anos, a ser lançado em junho pela editora Três Estrelas.
[1] Em agosto de 1991, comunistas ortodoxos contrários às reformas promovidas por Mikhail Gorbachev, presidente da União Soviética, tentaram dar um golpe de Estado. Foram impedidos pelo então presidente da Rússia, Boris Yeltsin, que se postou em um tanque junto aos que resistiram ao golpe.
[2] Entre 24 de novembro e 15 de dezembro de 1995, uma série de greves ocorreu na França contra um plano de reforma da aposentadoria proposto pelo então primeiro-ministro Alain Juppé.
[3] “Nous sommes tous Américains” foi o título de um editorial na primeira página do jornal Le Monde, edição de 13 de setembro de 2001.
[4] Um golpe de Estado comandado pelo general Augusto Pinochet destituiu o presidente chileno Salvador Allende em 11 de setembro de 1973. No mesmo dia, Allende foi encontrado morto e, segundo a versão oficial, teria se suicidado. Quando a ditadura terminou, houve uma nova investigação sobre a morte. Em 2011, uma equipe médico-legal confirmou o suicídio.
[5] Abbé Pierre (cujo nome era Henri Grouès, 1912-2007), padre francês com importante atuação política, fundou o movimento Emaús, de assistência social. Bernard Pivot (1935) é jornalista e apresentador de tevê. Mère Denis (Jeanne Marie Le Calvé, 1893-1989), dona de casa e lavadeira, ficou famosa na França por sua atuação em publicidades das máquinas de lavar Vedette. Coluche (nome artístico de Michel Gérard Joseph Colucci, 1944-86) foi um ator e humorista francês, muito popular no país.
[6] Nas eleições presidenciais francesas de 1981, a vitória do socialista François Mitterrand encerrou mais de duas décadas de governo da direita.
[7] Les Guignols, inicialmente chamado Les Guignols de l’Info [Os Guinhóis da Informação], programa satírico de tevê, com marionetes, exibido na França entre 1988 e 2018.
[8] Arlette Laguiller (1940) candidatou-se à Presidência em 2002 pelo partido trotskista Luta Operária. Christiane Taubira (1952), política negra nascida na Guiana, foi candidata no mesmo pleito pelo Partido Radical de Esquerda.
[9] Na época da Páscoa, em abril, os franceses têm um recesso escolar de quinze dias, em geral. Esse recesso é chamado de “férias da primavera” ou “da Páscoa”. Nas eleições presidenciais de 2002, essas férias foram uma das razões da grande abstenção (28,4%) no primeiro turno, ocorrido em 21 de abril.
[10] No primeiro turno das eleições presidenciais de 2002, Jean-Marie Le Pen, candidato do partido de extrema direita Frente Nacional, contrariando todas as previsões alcançou o segundo lugar (16,86% dos votos), desbancando o candidato do Partido Socialista, Lionel Jospin (que obteve 16,18%). Em primeiro lugar, ficou o candidato do Reunião pela República (de direita), Jacques Chirac, com 19,88% dos votos. O resultado surpreendeu enormemente os franceses e (em particular) a esquerda, que em grande parte viu-se obrigada a defender o voto útil em Chirac no segundo turno, a fim de impedir o avanço da extrema direita. Chirac ganhou a eleição com 82,21% dos votos (contra 17,79% de Le Pen).
[11] Em 19 de abril de 2002, dois dias antes do primeiro turno das eleições presidenciais, o canal de tevê TF1 informou sobre a agressão cometida contra Paul Voise, 72 anos, em Orléans. A notícia teve grande impacto na população, preocupada com a insegurança, e cogitou-se que tivesse influenciado nas eleições. O diretor da TF1 à época, Robert Nanias, disse mais tarde que a difusão massiva da notícia tinha sido “um erro”.
[12] Guy Debord (1931-94), escritor e pensador francês, um dos criadores da Internacional Situacionista e formulador do conceito “sociedade do espetáculo”. Louis Dumont (1911-98), antropólogo, estudou as sociedades da Índia e do Ocidente, examinando as formas de hierarquia social e a constituição da ideia de igualdade e individualidade. Jean-Marie Gustave Le Clézio (1940), escritor francês, Prêmio Nobel de Literatura em 2008.
[13] Mylène Demongeot (1935), atriz francesa, fez numerosos filmes, entre eles Basta Ser Bonita (Sois Belle et Tais-Toi, 1958), de Marc Allégret, e Bom Dia, Tristeza (Bonjour, Tristesse, 1958), de Otto Preminger.
[14] No livro Je Me Souviens (1978), o escritor francês Georges Perec (1936-82) reúne fragmentos de memórias de sua infância e juventude. O barão Édouard-Jean Empain (1937-2018), empresário belga, foi sequestrado em Paris em janeiro de 1978 e liberado apenas em março. O primeiro-ministro Pierre Berégovoy (1925-93), do governo socialista de François Mitterrand, tinha o hábito, muito ressaltado pela imprensa, de usar meias de cores fortes. O político Alain Devaquet (1942-2018) comandou no Ministério da Educação a tentativa de implantação de uma reforma do ensino que gerou forte movimento de protesto no país e acabou arquivada pelo presidente Jacques Chirac.
Leia Mais