Manifestação em julho de 1975, na cidade de Rio Maior, a 84 km de Lisboa. O fotógrafo Sebastião Salgado, que morava em Paris, se mudou para Portugal logo após o 25 de Abril de 1974 e registrou o tumultuado Processo Revolucionário em Curso (Prec). Salgado nunca trabalhou a divulgação dessas imagens, reproduzidas nesta página e nas seguintes, que acabaram ficando praticamente desconhecidas CRÉDITO: SEBASTIÃO SALGADO_1975
Começou com música
Os 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal
Simone Duarte, de Lisboa | Edição 211, Abril 2024
Na noite de 24 de abril de 1974, o jornalista João Paulo Diniz pediu um dos discos dos Beatles na discoteca da rádio e outra meia dúzia de álbuns que faziam sucesso na década de 1970, “para não dar nas vistas”. Quando entrou no estúdio para transmitir o programa Quatro Tempos, que normalmente ia ao ar das dez da noite às duas da manhã, todos os domingos, segundas, quartas e sextas, sabia da missão histórica que lhe cabia. Era uma quarta-feira. Pela manhã, Diniz tinha ido ao cemitério para visitar o túmulo do pai. Precisava conversar com ele, que, muito antes do nascimento do filho, estivera na prisão por se opor à interminável ditadura de António de Oliveira Salazar. Mais tarde, jantou com a mãe e contou o que ia acontecer. Ela ficou apreensiva: “Mas filho, o pai sofreu tanto… e se não correr bem?” À noite, já no estúdio da Rádio Peninsular dos Emissores Associados de Lisboa, preparou-se para colocar no ar a canção E depois do adeus, anunciando assim a primeira senha secreta que daria início à derrubada de quase cinquenta anos de regime ditatorial. Estava consciente de que não podia “defraudar a confiança” que haviam depositado nele. Aos 25 anos, tinha uma certeza: se tudo desse certo, o pai ficaria orgulhoso.
Dois dias antes, Diniz estava na rádio quando o chamaram à recepção. Um homem queria falar com ele.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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