Para ler cantando
| Edição 95, Agosto 2014
O TERCEIRO ELEMENTO
Escrevo no dia do velório de Ariano Suassuna, conterrâneo e tio por afinidade de Eduardo Campos, tido e havido como o elemento-surpresa nestas eleições. O lamento pela perda do escritor – mais um neste mês, diga-se de passagem – é um contraponto à expressiva foto da reportagem “Candidato anfíbio” (piauí_94, julho), ressaltando os belos olhos do político, que causaram medo em minha filha de 10 anos. Talvez não seja tão inexplicável assim. De terceira via, a candidatura de Eduardo Campos não tem nada, como se pode apreender das entrelinhas da reportagem de Daniela Pinheiro. Populismo, incoerência econômica e coligações esdrúxulas – tudo está ali retratado, tal qual sempre foi. Fica ainda a dúvida se ele é um balão de ensaio para se fortalecer como oposição em 2018, seja o país governado por PT ou PSDB, ou se é mais um trampolim político de Marina Silva, que deveria cogitar concorrer a salto triplo na Olimpíada vindoura, haja vista suas peripécias partidárias dos últimos anos.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_LORENA/SP
A leitura do perfil de Eduardo Campos me deu a nítida impressão de que o ex-governador pernambucano será o candidato do PT em 2018. Agora se torna conhecido, e sua política de não agressão ao ex-presidente Lula o levará a ser a “bala de prata” dos petistas, na sua busca incessante pelo poder. Já que estamos no âmbito dos perfis, não entendi algumas reações iradas de leitores, afirmando que a piauí estava se posicionando de forma favorável ao candidato Aécio Neves. Enfim, têm direito. Andrew Solomon foi muito feliz ao retratar o drama do pai de um matador (“Acerto de contas”, piauí_94, julho). Por fim, Claudia Antunes demonstrou de forma inequívoca a errônea política atual do Itamaraty no caso do asilo concedido ao senador boliviano Roger Pinto (“Novela boliviana”, piauí_94, julho). É impressionante como a atitude corajosa e humana do diplomata Eduardo Saboia sofreu críticas por parte de seus superiores.
ANTÔNIO CARLOS DA FONSECA NETO_SALVADOR/BA
AÉCIO NA VITRINE
Confesso: com o auxílio de lupa inglesa e humildade franciscana, examinei três vezes o retrato em que Malu Delgado pincela com picardia e maestria a estrada real do presidenciável tucano (“O público e o privado”, piauí_93, junho), num cenário surrealista em que se apagam até as diferenças entre presidir o Brasil, caso eleito, ou fazer um curso em Harvard, caso contrário. Até Diógenes de Sinope, sem nem sequer acender sua lanterna, concluiria que não há como se possa exigir de tão bem-aventurado enfant gâté das Alterosas que trate de coisas mais sérias e complexas, como se esperaria de quem ambiciona o cargo mais alto da nação, como os projetos para a saúde, a educação, o saneamento básico, a habitação popular, a indústria, o agronegócio, o emprego, a reforma agrária, a política salarial, a política social, a infraestrutura, o comércio exterior, a política internacional, em suma, tudo aquilo que diz respeito à vida e ao destino do povo. Pelo visto, só nos resta indagar se o Brasil merece, como principal representante da soberania popular, tal habitué inveterado de camarotes e resorts VIPs da fina flor da elite cabocla e de sua jeunesse dorée.
LUIZ MARIANO DE CAMPOS_RIO DE JANEIRO/RJ
A esta altura vocês já receberam uma verdadeira enxurrada de e-mails sobre o perfil de Aécio Neves. Provavelmente 90% se dividem entre os que resolveram taxar a revista de petralha ou de tucanalha. Sinceramente não gosto desse senhor, nem do partido que representa, mas gostei do perfil. A única coisa que achei estranha foi a facilidade com que a repórter é convencida pelo esforço de Aécio Neves em não parecer um político profissional, justamente quando a imagem destes parece ter alcançado o fundo do poço. Chega a ser risível que um homem pertencente a uma tradicional família da política mineira, que ocupou diversos cargos eletivos desde a última Constituinte, dedicando os últimos trinta anos de sua vida à política, tente se mostrar como alguém sem apego à vida pública. Parabéns à equipe da campanha tucana: se convenceram jornalistas experientes com essa lorota, imagina nós, pobres eleitores.
DANIEL XIMENES LOPES_RIBEIRÃO PRETO/SP
A carta do presidente do PSDB mineiro (piauí_94, julho) mostra que ele não lê os jornais de Minas. Só pode ser. O tom bajulatório do jornal mais antigo em Belo Horizonte é algo que já foi motivo de risos entre jornalistas. Alguém já escreveu sobre os gêmeos xifópagos em Minas: imprensa e governo. O tal vídeo que ele cita [A Verdade sobre a Imprensa em Minas] parece mais um pedido de desculpas de jornalistas em resposta ao vídeo [Gagged in Brazil ou Mordaça no Brasil] citado na excelente matéria de Malu Delgado.
GERALDO MAGELA MAIA_BELO HORIZONTE/MG
DIÁRIO DA DILMA
Sou assinante da piauí há sei lá quanto tempo, e portanto me sinto no direito de dar uma opinião contundente: o Diário da Dilma já encheu, e não é problema do redator, mas da pessoa que inspira o personagem. Tenho certeza que vocês são capazes de pensar em coisa melhor para o espaço.
SÉRGIO LÚCIO LÁZARI_SÃO CAETANO DO SUL/SP
NOTA DA PRESIDENTA: Meu querido, vê-se logo que você tem muito a aprender com João Guilherme, seu vizinho de baixo desta seção de cartas. Sugiro uma viagem pedagógica a Paraguaçu, MG, cidade aprazível e letrada onde abundam os bons leitores. O convívio com os paraguaçuenses decerto te civilizará.
Após o início oficial da campanha eleitoral, me vi refletindo se a possível derrota de Dilma acarretaria o fim de seu célebre diário. Um eventual diário de Aécio Neves ou de Eduardo Campos não me pareceu uma boa ideia (se conseguirem escrever um de forma tão pitoresca quanto é o de Dilma, a renovação de minha assinatura estará garantida). Concluí que a melhor saída seria ou um diário de Marina Silva, caso Campos seja vitorioso, ou a continuação do de Dilma, agora relatando sua vida como desempregada. Que a redação me ouça!
JOÃO GUILHERME REIS BELLI_PARAGUAÇU/MG
PARÔNIMOS
Não sou assinante, porém sou leitor contumaz, comprando meus jornais e revistas diretamente na banca, dando uma força para o velhinho que está na labuta. Vamos ao fato: deram uma bola fora para justificar outra bola fora. Na seção Cartas da edição de julho, a leitora que apontou a troca de “eminente” por “iminente” teve uma resposta criativa e engraçada, mas o “despensados” no lugar de “dispensados” ficou feio de ler. Mandem todos pra Pyongyang. Continuarei leitor, sem ressentimentos.
FÁBIO BATALHA_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA DA REDAÇÃO: Já expedimos um mandato contra os faltosos e esperamos para breve que um juiz cioso da última flor do Lácio lavre um alto de apreensão. Depois, será esperar pelo comprimento da pena de degredo em Pyongyang.
A resposta sobre o erro (eminente, iminente) foi interessante: na maior descrição absorveram e despensaram os responsáveis, que imigraram para Pyongyang. Comprovado o senso de humor de vocês, faço a pergunta que não quer calar há 84 números de piauí: por que não conseguem publicar chargistas bons?
PAULO VIANNA DA SILVA_FLORIANÓPOLIS/SC
Gostei da inteligente nota da redação na seção Cartas de julho, pois aprendi o significado de “parônimo”: “Diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocábulos que são quase homônimos, diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronúncia” (Houaiss).
HILTON FELÍCIO DOS SANTOS_BRASÍLIA/DF
CONTRA ŽIŽEK
O artigo “Barbárie com face humana” (piauí_93, junho) confirmou minhas desconfianças de que Slavoj Žižek é um propagandista do governo americano. Nesse artigo, ele claramente dá apoio à entrada da Ucrânia e do seu governo neonazista na União Europeia. Igualando Hitler e Stálin, Žižek faz o que condena: favorece secretamente o fascismo, assim como o governo americano. Mas isso não é novidade, em se tratando de Žižek. Ele é perigoso: na Eslovênia, apoiou a banda de visual neonazista Laibach e era a favor da violência para rachar a Iugoslávia! Faço minhas as palavras de Molly Klein no painel chamado “Žižek Delenda Est” (procurem no YouTube): parem de publicar Žižek, ele é racista, ele é fascista!
LÚCIO EMÍLIO DO ESPÍRITO SANTO JÚNIOR_BOM DESPACHO/MG
Quando recebo o meu exemplar da piauí e leio o nome “Žižek” em algum lugar da capa, começo a ficar deprimido. Ele deu o ar da graça, mais uma vez, na edição de junho. Foram quatro páginas de exibicionismo vazio. Žižek já esteve por estas páginas falando de resistência e capitulação (“Resistir é capitular”, piauí_16, janeiro de 2008) com ideias até interessantes, mas colocadas de maneira confusa. Também tratou de questões envolvendo a queda do Muro de Berlim (“Pós-muro”, piauí_40, janeiro de 2010), de novo com muito signo e pouco significado. O “filósofo da moda” também apareceu nesta maravilhosa revista perfilado por John Gray (“As visões violentas de Žižek”, piauí_71, agosto de 2012), que deu o melhor parecer possível a respeito dele: “Ao alcançar um conteúdo enganoso com a reiteração interminável de uma visão essencialmente vazia, a obra de Žižek – que ilustra muito bem os princípios da lógica paraconsistente – consiste, no final, em menos que nada.” Espero que, da próxima vez em que houver uma edição com algum artigo dele, o setor de assinaturas envie também um antidepressivo para me auxiliar a suportar a leitura.
JOÃO TIAGO DIAS JUNIOR_GAMA/DF
INDÚSTRIA DE COVERS
Emocionante a matéria de André Barcinski (“Carbonos do pop”, piauí_94, julho) sobre covers brasileiros. Li cantando e lembrando grandes velhos sucessos da minha adolescência.
JOSÉ ROBERTO ZORZETO_SÃO JOÃO DA BOA VISTA/SP
Tenho um caso de amor com a piauí desde o primeiro número. Sinto uma grande alegria quando chego à banca e a encontro, invariavelmente num espaço que o jornaleiro ainda não percebeu que é menor do que o tamanho da revista. Acabei de ler a edição de julho e estou extasiado com as reportagens “Acerto de contas”, “O rei e o esporte-rei”, “O 34” e, principalmente, “Carbonos do pop”, um assunto que adoro. Só faltou informar os nomes dos músicos que aparecem na foto.
AGUINALDO DUTRA BRANDÃO_MANHUAÇU/MG
NOTA DA REDAÇÃO: O caso de amor é recíproco, Aguinaldo. Como prova de nossa perene devoção, segue a identificação dos músicos. Da esquerda para a direita: Mario Carezzato, Raul Carezzato, Igor Edmundo, Beto Carezzato e Ricardo Fernandes de Morais.
PALEONTÓLOGO
Venho parabenizar tanto a revista quanto Bernardo Esteves, autor da reportagem “É osso” (piauí_93, junho). Sou assinante há mais de um ano e gostei de ver o tema na revista. Além da reportagem ser muito rica, a matéria expõe problemas da paleontologia brasileira relacionados à legislação ultrapassada. Gostaria de parabenizá-los por terem escolhido Alexander Kellner como um dos centros da reportagem. Sei que não existe no Brasil pessoa mais aplicada em fazer com que a paleontologia cresça. Mais uma vez, parabéns por reportagens de conteúdo, diferentemente da outra revista de sua editora (não citarei nomes, pois tal aberração está no subconsciente popular).
RAFAEL MENEZES_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA PESAROSA DA EDITORA: Quem dera tivéssemos um segundo título para publicar, Rafael. Seria um modo de tirar nossos repórteres da praia, onde passam metade do mês por absoluta falta do que fazer. O catálogo da Editora Alvinegra se resume à revista piauí.
FOFOCAS JURÍDICAS
Além de ser meu refrigério cultural aguardado a cada mês, a piauí agora também faz as vezes de guia turístico. Em visita à capital paulista, foi irresistível esticar até os Jardins para conhecer a tal tabacaria Ranieri Pipes (Esquina, “O Toddynho de sábado”, piauí_93, junho). Consumi dois cafés expressos, e seria merecido que cobrassem comissão do estabelecimento.
FLÁVIO SANTOS DE SOUSA_VOLTA REDONDA/RJ
FERRO NA GUINÉ
Para o imbróglio da mina de ferro de Simandou, na República da Guiné, envolvendo a mineradora brasileira Vale (“Contrato de risco”, piauí_90, março), tenho uma solução bem ao estilo Brasil. Sugiro convocar o ex-presidente Lula, a presidente Dilma, Tarzan, o empresário Beny Steinmetz e a mineradora anglo-australiana Rio Tinto. Tudo será logo resolvido. Lula acalmará os ânimos e porá água na fervura, tratando logo de esclarecer que não conhecia Steinmetz e não sabia da existência de mina alguma. Dilma lançará um severo e gélido olhar para o presidente da República da Guiné, Alpha Condé, enquanto Tarzan soltará seu grito de guerra (ooooooh-ohohohooo-hohohoho). Pronto! Condé, aterrorizado, dirá sim a tudo que os brasileiros exigirem. A Rio Tinto enfiará a sua viola no saco e todos os que estão atrapalhando a exploração de Simandou irão se ferrar – com muito ferro para a Vale.
JACYRA VARGAS SUPERTI_CHAPADA/RS
NOTA PERPLEXA DA REDAÇÃO: Onde está o Itamaraty, que não contrata Jacyra para os seus quadros?
HERALD
Sou jornalista, fotógrafo e ex-servidor público federal (grande coisa!), além de leitor assíduo e admirador da piauí, sobretudo de sua profundidade e do “alto nivíssimo” (opa!) de suas matérias. Tenho uma inclinação particular pelo tônus irônico e político do blog The i-piauí Herald, um espaço crítico utilizando humor, algo raro em nossa imprensa. No entanto, é notável o pequeno volume de textos publicados no blog. Os leitores se decepcionam quando percebem que o texto mais recente é aquele já lido outro dia. Por esse motivo, quero colaborar com o Herald. É possível?
PEDRO RAMOS_BRASÍLIA/DF
NOTA DE OLEGÁRIO RIBAMAR: Agradecemos o interesse, mas é preciso que o leitor saiba que o crivo para entrar no Herald é rigorosíssimo. Não é à toa que somos tidos pelo Conselho de Segurança da ONU e por Oprah Winfrey como o órgão mais confiável da imprensa mundial. De Bob Woodward ao jornalista Roberto Marinho, foram muitos os que tentaram em vão fazer parte de nossa indomável redação.