CRÉDITO: ANDRÉS SANDOVAL_2025
Perseguindo rupturas
O escritor João Silvério Trevisan romanceia a própria vida
Thallys Braga | Edição 226, Julho 2025
Em uma noite no início de maio, o escritor João Silvério Trevisan foi ao cinema assistir a Homem com H, a cinebiografia de Ney Matogrosso. No final da sessão, os espectadores, comovidos, se levantaram para aplaudir o filme. É improvável, no entanto, que alguém tenha deixado o cinema mais mexido que Trevisan. “Foi muito profunda a empatia que eu senti”, recordou, na sala de seu apartamento no bairro República, em São Paulo. “O Ney fez uma coisa de louco. Imagina, aparecer desmunhecando no meio da ditadura! Ele anarquizou tudo que o oprimia. Eu não fui capaz de lutar desse jeito. Enfrentei de cara dura, como um Dom Quixote, mas sofri pra caralho.”
Quando os Secos & Molhados ficaram conhecidos no Brasil, em 1973, Trevisan partiu para um exílio voluntário nos Estados Unidos. Não viu condições de permanecer em São Paulo depois que os militares censuraram Orgia ou o homem que deu cria, o único longa-metragem que dirigiu. Morou em Berkeley, o centro da contracultura na Califórnia, onde descobriu que “não poderia ser homossexual sem ser subversivo”. Ao retornar para casa, três anos depois, trocou o cinema pela literatura. Ele costuma ser lembrado por Devassos no paraíso, o livro mais completo sobre a história da homossexualidade no Brasil, e pela criação do primeiro jornal queer do país, o Lampião da esquina.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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