Por que o governo dá dinheiro às montadoras se estamos sem grana para comprar os carros?
| Edição 117, Junho 2016
A VITÓRIA DAS MOSCAS
As ações anticorrupção no Brasil terão o mesmo fim da Operação Mãos Limpas (“Os intocáveis”, piauí_116, maio). A diferença é que aqui não haverá suicídio de político corrupto e empresário honesto.
JOSÉ ANÍBAL SILVA SANTOS_TEÓFILO OTONI/MG
DIAS PIORES VIRÃO
A economia é um labirinto armado pelos economistas para esconder suas incapacidades, e no entanto César Benjamin explica bem, só falta desenhar (“O golpe é outro”, piauí_116, maio). Mas será que ele poderia explicar por que o governo deu dinheiro para as montadoras se estamos sem dinheiro para comprar os carros? Não seria mais sensato dar o dinheiro para o consumidor?
DJALMA ROSA_SÃO SIMÃO/SP
Sem dúvida César Benjamin é um homem progressista e é legítimo que sua leitura do golpe esteja fundamentada em critérios econômicos (cortes na educação e saúde, a indexação do aumento do salário mínimo e a infame reforma na Previdência Social). Entendo sua ira para com o governo Dilma. Seu postulado mira, num linguajar um pouco esquecido, a infraestrutura, os modos de produção e a relação com o trabalho. Por um lado, louvo seu artigo por mostrar que Temer e seu entourage (Fiesp, empresariado, classe média conservadora, ruralistas etc.) fazem um trabalho de desregulamentação do poder do Estado.
No entanto, até onde vejo, Dilma não fazia concessões no campo da superestrutura. Explico: havia uma ministra negra (Nilma Lino Gomes), uma Secretaria de Políticas para Mulheres, um Ministério da Cultura (que só voltou a existir após manifestações expressivas). Alguém poderia dizer que isso não altera em nada a economia, mas e se eu pensar a política a partir de outros critérios? E se a economia não for um critério para avaliar a gestão Dilma? Talvez alguém pudesse defender a criação da Comissão da Verdade, a Lei do Feminicídio e outros atos simbólicos que não podem ser relativizados, nem medidos por especulações estatísticas. E representação simbólica é, sim, uma área de atuação na luta de classes.
Se, como diz Benjamin, no campo econômico estamos “diante de uma escolha de Sofia” – Dilma e Temer com propostas semelhantes de cortes em programas sociais –, opto sem pestanejar pela primeira, seja porque foi eleita pelo voto, seja porque não me sinto representado pelo patriarcado branco desses ministros conservadores. Em tempo, se não houver mais o Diário da Dilma, sugiro a seção Patriarcado Branco Futebol Clube pela Ordem e Progresso, com Michel Temer no ataque, Romero Jucá na zaga, José Serra de centroavante, Ronaldo Caiado na lateral direita.
HAROLDO HEVERTON SOUZA DE ARRUDA_SÃO PAULO/SP
DEU CHABU
Parabéns pela estupenda edição de maio. Com Michel Temer nu na capa, e nem um pouco “recatado e do lar”, vocês não poderiam ter sido mais proféticos. Gostei muito da matéria “Deu chabu” (piauí_116, maio), sobre a pacata, pobre e, por vezes, esquecida Belágua. Com humor e sensibilidade, Paula Scarpin escreveu sobre a região e seus personagens. Sou maranhense e acho bacana quando o estado é mencionado não só por questões históricas ou belezas naturais, mas também por suas mazelas sociais.
EDVAN MELO_SÃO LUÍS/MA
DIÁRIO DA DILMA
Nunca tinha me interessado em ler a piauí, até que um dia vi uma chamada do Diário da Dilma. Desde então, faz uns bons dois anos, compro a revista mensalmente. Seu humor e sagacidade, e, em especial, o Diário da Dilma, me fazem observar o cenário político de maneira diferente. Foi com certa tristeza que, ao comprar a edição 116 (maio), me dei conta de que, caso se confirme o processo de impeachment (que considero um golpe das elites econômicas e políticas), a mesma seção que me levou à piauí fará com que eu me afaste dela. Um Diário de Temer, com suas brincadeiras com Michelzinho e seus bate-papos com Marcela recheados de versos, cantilenas e escritos ruins, suas discussões com Jucá, suas piadas com o ministro-bispo ou mesmo possíveis tiradas com o “novo” chanceler José Serra não despertarão nenhum interesse neste pobre leitor. Será um enorme desafio aos editores transformar o diário de uma mulher solteira, ex-guerrilheira, de esquerda, vivendo numa sociedade altamente machista, no diário de um homem branco, de classe alta, em união “padrão” com uma mulher “bela, recatada e do lar”, com um ministério SEM minorias que espelhem partes da população brasileira. Desejo sorte na empreitada e é sempre bom lembrar que, no que dependesse de mim, o Diário da Dilma só acabaria em dezembro de 2018. Abraços cordiais de um (talvez) ex-leitor.
IGOR COSTA PEREIRA DE SOUZA_SÃO PAULO/SP
NOTA INDIGNADA DA REDAÇÃO: Mas o que é isso, Igor? Então para você somos apenas um diário sentimental? Uma página confessional sobre amores nem sempre correspondidos? Francamente. Pensávamos que já tinha ficado para trás o tempo em que uma revista era cortejada apenas por ser bonita e romântica. Pelo visto, a teus olhos de nada conta a nossa competência profissional, o trabalho duro da apuração, o cultivo incessante de fontes, o suor da nossa escrita, o árduo mister do jornalismo independente num mundo dominado pelo patriarcado dos grandes grupos editoriais. Resumo da ópera: devemos nos conformar em ser uma revista bela, recatada e do lar. Nunca!
Preocupado com os rumos criativos da revista em virtude dos rumos políticos, sugiro preencher a lacuna que o Diário da Dilma irá deixar com um Diário do Poder em Versos, de autoria de Michel (o pai ou o filho, ou mesmo ambos).
Basta pegar carona na já simbólica produção de Michel Pai e aproveitar o simbolismo que sua gestão começa a colecionar: o ministério ficha suja sem mulheres; a morte do MinC; a escolha do logo de governo com bandeira dos anos 60; o novo “Cunha” investigado por tentativa de assassinato; o ministro do apagão como novo presidente da nossa petrolífera; o pastor com passaporte diplomático… Cada decisão ou reflexão viria entremeada de alguns versinhos. Se a ideia vingar, um pinguim seria muito bem-vindo…
(PS: Aos que reclamam do formato da revista, deixo minha defesa do projeto em geral: papel de qualidade, resistente a umidade de banheiros, praia, acampamento etc.; formato polivalente, que permite se proteger do sol em leituras praianas ou fluviais, além de servir de suporte para mouse, porta-copos etc.)
GUILHERME REIS MACHADO_SÃO PAULO/SP
NOTA LÍRICA DA REDAÇÃO: Protege também da chuva/De mosquito e de saúva/É bom abanador/Durante os meses de calor/E esconde, quando importa/o beijo doce que conforta.
Já estamos versejando, Guilherme! Adotaremos tua sugestão? Contar-te-emos em breve. Sabê-lo-ás na próxima edição. Revelar-te-emos no mês que vem. Vê-lo-ás em trinta dias.
DESPEDIDA DO BRASIL
A saga de Suzana Herculano-Houzel é emocionante, mas também é de estarrecer (“Bye-bye, Brasil”, piauí_116, maio). Chega a ser inacreditável que cientistas que deveriam buscar a excelência possam dizer: “Pelo contrário, devemos investir nos fracos e medíocres.” Penso que o trabalho e a luta dessa pesquisadora e sua equipe resultariam num enredo enxuto, apropriado para um filme brasileiro. Mas… qual órgão estatal iria financiar tal empreendimento?
LUIS CARLOS HERINGER_MANHUMIRIM/MG
O relato-desabafo da neurocientista é um libelo contra o corporativismo que prevalece sobretudo no meio universitário, com acentuado viés de esquerda atrasada, apegado a anacronismos e de olhos fechados à realidade, com grande parte de seus membros repousando numa zona de conforto, garantidos por bons salários. Um espírito inquieto e empreendedor como o dela jamais se ajustaria a tal figurino que nutre um solene desprezo pela meritocracia, porque esta poderia abalar esse mundo onde impera a mediocridade. Que Suzana consiga melhores condições para realizar seus sonhos, infelizmente longe da pátria.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
A obrigatoriedade de concurso para ingressar em carreiras públicas, em vigor desde 1982, foi um dos grandes avanços da sociedade brasileira, conseguindo acabar com a prática do apadrinhamento que existia desde o Império.
Dois belos textos da revista piauí expõem as brechas que ainda existem no sistema. A excelente reportagem de Malu Gaspar sobre a desembargadora Fux (Chegada, “Excelentíssima Fux”, piauí_115, abril) mostra não só a estranha possibilidade de a OAB, uma entidade privada, fazer indicações para um dos mais importantes cargos do Judiciário, como também sua falta de critérios para a decisão. E a pesquisadora Suzana Herculano-Houzel assume, em texto próprio, que o concurso que prestou foi feito especialmente para que ela fosse selecionada. Vários concursos têm etapas subjetivas que se prestam a seleções viciadas. No caso de Suzana, demos sorte por ela ser uma pesquisadora brilhante.
Quando as orquestras passaram a avaliar seus candidatos fazendo-os tocar atrás de cortinas, houve um aumento significativo do número de mulheres e estrangeiros nas sinfônicas internacionais. Já está na hora de o Judiciário e as universidades criarem práticas de seleção mais isentas.
PAULO EDUARDO NEVES_RIO DE JANEIRO/RJ
A despedida de Suzana Herculano-Houzel é um bom documento sobre o Brasil. Confirma que ainda somos um país pobre e que distribui mal o pouco que tem. É uma avaliação informal do funcionamento de nossas universidades e agências de fomento à pesquisa. Mas as comparações entre os Estados Unidos e o Brasil poderiam ser feitas não só por um pesquisador, mas por um jogador de basquete ou por um ator que tomasse a NBA e Hollywood como parâmetros. Ao lado de merecidas denúncias, o documento também revela posições peculiares da cientista, a começar pela definição de inteligência citada no começo do texto (capacidade de tomar decisões que maximizam possibilidades futuras). De certa forma, me choca que uma especialista em contagem de neurônios adote uma definição mais adequada a Eduardo Cunha.
A cientista critica atrasos, o tamanho do laboratório, os 2 mil dólares que uma revista pede para publicar um artigo. Ela se queixa de ter que bancar os custos, mas não condena a revista que cobra pela publicação. Herculano-Houzel também se apega a fatos que não representam necessariamente a mentalidade geral da universidade, como a opinião segundo a qual, havendo pouca verba, deve-se dar suporte a quem está mal e não a quem já está bem. Uma política que até poderia ser interessante: espalharia pesquisa por toda parte.
O que mais me impressionou, no entanto, foi saber que ela deu uma palestra motivacional a auditores federais do trabalho. Eles também devem ter chamado o Oscar e o Bernardinho. O que ela foi fazer lá?
Neurônios, não basta contá-los!
SÍRIO POSSENTI_CAMPINAS/SP
PIAUÍ_116
Tarefa impossível encontrar revista tão abrangente e bem escrita. Assino há três anos, e apesar do cansaço e da falta de tempo sempre faço uma força para ler a publicação inteira. Da última edição, destaco a reportagem sobre a Operação Mãos Limpas, torcendo para que o desfecho aqui não produza tanta sujeira como na Itália (“Os intocáveis”, piauí_116, maio), e a da língua geral (“O contrário da memória”, piauí_116, maio), ambas muito bem escritas, como sempre. Com relação à seção Cartas, aprecio a publicação tanto de críticas quanto de elogios. Vocês são demais.
JANOR ANGELINO LUNARDI_ORLEANS/SC
GALOPE INTERROMPIDO
Magnífico e comovente o texto de Roberto Kaz, a Despedida “Galope interrompido” (piauí_116, maio). O cavalo é o animal mais nobre e belo, a meu ver. Não entendo como a expressão “você é um cavalo” é usada pejorativamente; devia ser um elogio.
ARMANDO FREITAS FILHO_RIO DE JANEIRO/RJ
Um tanto desesperador o texto “Galope interrompido”. Por mais que venda a relação entre Grass Valley e seu montador como de “melhores amigos”, “de família”, basta o cavalo fraturar a pata e em cinco minutos ele é morto. Mesmo que ele não pudesse mais competir, não poderia ter sido tratado, ganhar uma aposentadoria? Gosto muito dos textos do Roberto Kaz, mas este, o do aquário (“Longe de casa”, piauí_115, abril) e o dos curiós (“A vida competitiva dos curiós”, piauí_113, fevereiro) foram difíceis de engolir… Mais compaixão com os animais, por favor.
LUÍSA PESSOA_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Luísa, o problema na recuperação do cavalo é que a aposentadoria não é uma opção. Existe a possibilidade de engessar um dos braços, mas isso faria o cavalo apoiar todo o peso do corpo no outro braço, passando a ter problema no casco. Forçá-lo a se manter deitado não é viável: o peso do animal provoca falência dos órgãos quando ele fica muito tempo recostado. De acordo com o veterinário, nem toda fratura é irrecuperável, mas no caso do Grass Valley era.
O FIM DA COSAC
Parabéns pela esplêndida edição de abril. Mas confesso que depois de ler a excelente matéria de Adriana Abujamra (“A via-crúcis de Charles”, piauí_115, abril) fiquei preocupado com os rumos da revista. É que me dei conta de que atualmente boa parte de seus anunciantes são empresas estatais (CEF, MinC, Prefeitura do Rio de Janeiro, Ministério da Saúde etc.). Custa crer que tais patrocinadores continuem apoiando a piauí, que lhe faz críticas sistemáticas e nada sutis.
Temo que o pior ocorra e que a revista tenha o mesmo fim da Cosac. Rezo diariamente aos deuses do Olimpo para que a piauí mantenha sua independência e resista à vil tentação de se transformar em mais uma revista chapa-branca, ainda que para tanto seja necessário aumentar o preço de capa, e a despeito das numerosas reclamações feitas de forma preventiva por expressiva parcela dos leitores.
VINICIUS BRANCO_SÃO PAULO/SP
NOTA PECUNIÁRIA DA REDAÇÃO: Nada contra anúncios de empresas públicas. Pelo contrário: que venham, até porque compõem parcos 20% da nossa receita publicitária. Como você e todo mundo nestes tempos bicudos, estamos correndo atrás, Vinicius. Sem jamais desprezar os deuses do Olimpo, pedimos que acrescente a tuas orações (1) toda a corte de Thor; (2) o pessoal dos Upanixades; (3) Osíris, Hórus e companhia; (4) Quetzalcóatl et entourage; (5) Tupã e seus amigos.
CARTAS 115
Sou assinante da piauí desde fevereiro deste ano, e o costume de ler a revista de trás para frente me fez fã da seção Cartas. Na edição retrasada, fui atingido como que por uma voadora na nuca ao ler a carta da leitora Rebecca Bonaldi.
Por motivos geográficos, informo que não era eu naquele ônibus, embora eu também leia a revista ao me deslocar para o campus. A surpresa, que não foi pouca, é que a leitora é formada em gestão de políticas públicas, curso irmão de políticas públicas, minha graduação na UFRGS. Se a seção puder servir de correio elegante, aproveito o ensejo para deixar à leitora um convite para um café, em solo gaúcho ou paulista.
ALAN RAFAEL DIL_SÃO LEOPOLDO/RS
NOTA ROMÂNTICA DA REDAÇÃO: Aceita, Rebecca, aceita. Já causamos muita cizânia nesses quase dez anos de vida.
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