Renatinho e seu ghostwriter, Renato
| Edição 92, Maio 2014
COMISSÃO DA VERDADE
Deu-me pontadas no estômago a matéria de Julia Duailibi sobre a Comissão da Verdade (“A verdade da comissão”, piauí_91, abril). Temos uma comissão cujos membros recebem um grande salário, mas não mostram comprometimento exclusivo com a tarefa de passar nossa história a limpo. Pior, a comissão já nasceu quase inútil, pois foi necessário costurar tantas limitações ao seu escopo para que ela fosse aprovada que virou pura pose – a mesma pose de quem sacode seu documento se-cre-tôôô sem perceber que é ele próprio que está no centro do picadeiro. Que inveja dos argentinos, que tiveram uma ditadura em que morreram muito mais pessoas do que na brasileira e conseguiram colocar seu maior ditador, Jorge Videla, na cadeia.
PEDRO CARLOS LEITE_MOGI DAS CRUZES/SP
Foi com sofreguidão que me meti a ler a matéria “A verdade da comissão”. Aconteceu que, já sobejamente acostumado aos sórdidos episódios perpetrados por tantos envolvidos e não punidos, acabei tendo uma quase indigestão ao empacar com a lista das visitas às dependências do Dops e a referência às vaquinhas feitas com empresas para a manutenção dessa antessala do inferno. Orra meu, quer dizer que os japoneses, coreanos e israelenses sabiam mais do que nós, sociedade civil, e dessa forma apoiavam os carrascos? Após ida ao banheiro, porém, reflito e penso que, se os torturadores faziam vaquinha, não eram suficientemente bancados pelos seus chefes. Daí a dizer que estes não sabiam nada vão longos passos, mas de certa forma fica provado o caráter eminentemente civil das iniciativas de tortura. Os militares e outros carrascos eram a mão de obra emprestada para isso, ao que parece. Nada que corrija, porém, os problemas estomacais que acabei tendo depois dessa indigesta leitura.
RODRIGO CONTRERA_SÃO PAULO/SP
O texto “A verdade da comissão” me causou preocupações e conduz minha missiva. Nasci depois do golpe civil-militar, um ano antes do recrudescimento de 1968. Vivenciei as consequências daquele tempo sem muito saber; apenas no colégio fui às manifestações pelas Diretas Já e passei a ter contato com professores mais velhos que militaram na oposição à ditadura. Eu sou um dos que precisam do relatório final da Comissão Nacional para saber a verdade, se não aquela absoluta, ao menos aquela mais próxima dos fatos.
Porém, o texto deixa claro que o vil metal pontua as ações da Comissão Nacional da Verdade. Quer seja na redução da indenização às vítimas a valores monetários, quer seja no aspecto das empresas que financiaram o golpe, ou mesmo na forma como não se consegue planejar o gasto orçamentário que foi aportado à comissão. Um passado de meio século que não conseguimos desvelar.
Os juízes de hoje, se assim podemos chamar os membros da CNV, colocam suas falas onde triunfa o silêncio dos torturadores. Se a guerra é contada pelos vencedores, então perdemos todos.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_LORENA/SP
Desde a edição 64 (“Conciliação, de novo”, janeiro de 2012), a piauí vem alertando sobre os acordos e processos de “conciliação” travados no conturbado momento de implementação da Comissão da Verdade em nosso país. Na edição de abril último, vemos os problemas para a sua finalização e como o já famigerado relatório final será processado e entregue finalmente à sociedade. Caminhamos pouco, pelo que se pode ver pelas reportagens. Bastidores à parte, nossa peculiar comissão é sintoma de um Brasil que ainda tateia seu passado ditatorial de forma um tanto quanto negligente. Resquícios de um passado que ainda não passou.
ANDRÉ BONSANTO_NITERÓI/RJ
Gostaria de saber mais informações sobre o seguinte trecho da reportagem “A verdade da comissão”: “A lista [de pessoas que visitaram o Dops paulista nos anos 70] também levou Alckmin a exonerar o diretor do Arquivo [Público de São Paulo] e outro funcionário que estava envolvido na pesquisa.” Qual o nome do diretor exonerado? Há alguma justificativa do Alckmin para as exonerações?
NOTA DA REDAÇÃO: Geraldo Alckmin exonerou o coordenador do Arquivo Público do Estado de São Paulo, Carlos de Almeida Prado Bacellar, em 31 de julho de 2013, e o diretor técnico do Departamento de Difusão e Preservação do Acervo, Lauro Ávila Pereira, em 21 de agosto do mesmo ano. A assessoria de comunicação do arquivo disse à piauí que a decisão “foi política”, e quem deveria responder por ela era a Casa Civil, à qual o questionamento havia sido encaminhado. A revista não obteve resposta do governo.
EDUARDO SCARPARO_FLORIANÓPOLIS/SC
A VOZ DA DIREITA
O ensaio “O tribuno da imprensa” (piauí_91, abril) não poderia ter vindo em melhor hora. Às vésperas de uma nova onda sobre Getúlio no país, devido ao filme de João Jardim, lembrar Carlos Lacerda (ainda que de forma en passant no que diz respeito ao caudilho) foi um grande achado num texto primoroso de Otavio Frias Filho. Há muito tempo Lacerda é negligenciado no Brasil. Mas trata-se, antes de qualquer julgamento, de um personagem histórico da maior grandeza, presente nos contextos mais dramáticos de nossa história recente – a começar pela Era Vargas.
Ensaios como o de Otavio – que valorizam ainda mais os perfis de piauí sobre “vultos da República”, peças indispensáveis de nosso jornalismo – resistem a essa varredura histórica. O artigo se torna, desde já, uma referência essencial para quem deseja ou precisa estudar Lacerda, pois a análise de sua trajetória e bibliografia feita por Otavio é um roteiro de primeira linha. Só isso já valeu a espera pelo número 91 da revista, que mais uma vez segue o bom preceito de Alberto Dines sobre o jornalismo: fazer-se necessário. Já aguardo a edição 92, a 93, a 94…
STHEVO DAMACENO_CAMPOS/RJ
O texto do jornalista Otavio Frias Filho não deixa de ser uma homenagem ao acima de tudo político Carlos Lacerda, no mês em que completaria seu centenário de nascimento e quase sessenta anos após o episódio que resultou no suicídio do presidente Vargas, o atentado da rua Tonelero, no início de agosto de 1954. Demonizado pela esquerda desde sua ruptura com o PCB, no final dos anos 30, e idolatrado pela direita, o tempo decorrido da sua morte em 1977, aos 63 anos, permite uma análise mais isenta e humana dessa personalidade que agitou a política brasileira em meados do século passado.
Lacerda brilhou como tribuno num Congresso de figuras excepcionais, no qual os debates eram intensos, causando inveja ao Legislativo atual, mergulhado na mediocridade de políticos que somente visam seus interesses privados, sendo difícil pinçar alguns poucos que ainda honram a tradição republicana. Por outro lado, foi um administrador brilhante, governador do então recém-criado estado da Guanabara, com um legado de obras que persiste no tempo.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
VIAGENS
Talvez porque meus cartões de crédito funcionassem, talvez porque tenho paixão por arquitetura e construções desafiantes, talvez pelas duas razões, a Dubai que visitei por quinze dias e adorei é bem diferente da Dubai em que Bernardo Carvalho “passou de raspão” e odiou (“Bem-vindo ao Paquistão”, piauí_91, abril). Diferentemente dele e do motorista de táxi que o conduziu por lá, teria gostado de ficar o maior tempo possível naquela maravilhosa cidade. Mas, em comum, Bernardo e eu talvez tenhamos a mesma má impressão do Paquistão e da Índia. Desses dois países sim, quero, como ele, a maior distância possível.
JORGE DERVICHE FILHO_CURITIBA/PR
Bem a calhar a capa da piauí_91: a visão da janelinha do avião ilustra a deliciosa viagem que foi esta edição, seja à Índia e ao Paquistão com Bernardo Carvalho, ao Japão com Richard Parry [“Os fantasmas do tsunami”] ou à China com Ian Johnson [“Está no ar”]. Para se lamentar mesmo só a viagem na maionese dos componentes da Comissão da Verdade. No grande trabalho de Julia Duailibi, eles aparecem como figuras cheias de afetações e vaidade, o que impede que vá à frente um trabalho tão importante de investigação que passaria a limpo boa parte do lado mais obscuro da nossa história.
TADEU CASTRO_MACEIÓ/AL
MACONHA
“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”, diz um trecho de uma das famosas epístolas de São Paulo, escrita aproximadamente no ano 67, pouco antes de ele ser condenado à morte. Lendo a matéria “Erva generosa” (piauí_91, abril), é incrível constatar como a profecia de Paulo está mais atual do que nunca. Nasci e passei grande parte da minha vida morando numa comunidade dominada pelo narcotráfico, onde testemunhei inúmeros amigos se perderem para as drogas. Atualmente sou policial militar, membro de uma igreja evangélica e faço parte da diretoria de um centro de recuperação para dependentes químicos (incluindo usuários de maconha). Portanto fiquei especialmente feliz com esta reportagem que revela o verdadeiro objetivo dos hipócritas de plantão que fazem lobby para a liberação do uso da maconha: o lucro a qualquer custo.
WILLIAM ALVES_RIO DE JANEIRO/RJ
MAIS MÉDICOS
Sou médico psiquiatra e venho acompanhando os ácidos e radicais comentários nas redes sociais a respeito do Programa Mais Médicos. Como sempre, a piauí me surpreendeu pelo profissionalismo jornalístico. A matéria “Los doctores” (piauí_89, fevereiro) foi a mais completa e multilateral de todas que já li a respeito até o momento. Ela contempla bem a visão dos médicos brasileiros, das entidades de classe, dos pacientes, dos médicos estrangeiros e dos gestores de saúde, com a opinião e as críticas de cada um desses grupos ao programa.
Essa matéria é de uma relevância social muito grande, inclusive para meus colegas médicos, pois tenho sentido muito constrangimento com a forma pouco polida como a questão tem sido discutida, muitas vezes por falta de informação. Tem sido difícil fazer os colegas do Brasil enxergarem os estrangeiros como seres humanos que enfrentam dificuldades e sofrimentos como nós.
DANIEL KUMPINSKI_PORTO ALEGRE/RS
PAI
Tenham a bondade de dizer ao senhor Saulo Szinkaruk Barbosa que há muito tempo não lia um texto tão inspirado, tão pungente, tão sensível, tão bem escrito (“Sobre meu pai”, piauí_90, março)! Por favor, deem a ele parabéns entusiasmados de um cara que escreve muito bem, mas padece da falta de prática/inspiração/coragem para pôr no papel (ou na tela) coisas que sente em relação a seu falecido pai. Emocionante, emocionante; é pra reler e reler.
MÁRIO BRAFMANN_SÃO PAULO/SP
NOTA DO DEPARTAMENTO DE AUTOAJUDA: Temos a pretensão de achar que Saulo Szinkaruk Barbosa é um leitor regular da revista, de modo que ele receberá as devidas congratulações diretamente do remetente, aqui mesmo na seção de cartas. De nossa parte, oferecemos a seguinte pílula de sabedoria: relido o belo ensaio, não o releia uma vez mais, como proposto. Em vez disso, deixe a revista de lado (não a empreste, que isso resulta numa venda a menos) e se atraque com a folha de papel em branco (ou com a tela vazia do computador, vá lá). Inspiração é fetiche; coragem é coisa de bombeiro, médico de pronto-socorro e batedor de pênalti; resta a prática, esta sim essencial. Como o nome indica, ela exige que se arregace as mangas. Cobrança pelo conselho seguirá em anexo.
LONG-PLAY
Uma pergunta: ninguém escreveu ainda para a revista para elogiar o grande ensaio do Lorenzo Mammì (“A era do disco”, piauí_89, fevereiro)? Nada na seção de cartas da piauí_90, menos ainda na piauí_91. O texto é dos mais finos biscoitos já publicados na revista, uma peça que todos deveriam ler.
CARLOS ALBERTO BÁRBARO_SÃO PAULO/SP
MEDO DE FANTASMA
Ler matérias com temas e abordagens tão diversificadas é um prazer enorme, que não encontro em nenhuma outra revista que não seja a piauí. Agora, o que me espanta é o ghostwriter (fantasmas me inquietam!) Renatinho Terra. Como seus textos destoam da revista. Por acaso o pai dele é patrocinador da revista?!? Como ele consegue publicar tanto clichê e piadinha rasa numa revista cuja maioria dos textos prima pela qualidade e tenta fugir do lugar-comum? Esse tipo de piadinha que diz que todo esquerdista é maconheiro e baderneiro parece texto da revista Veja. E se alguém diz Veja eu já nem olho. Escrever clichês banais com pompa de “tiradas inteligentes” é tipicamente reacionário e superficial (além de bastante amador, convenhamos). Aprenda ao menos a ser irônico, senhor Renato, pois seus argumentos caem por Terra…
Mostrem ao Renatinho Terra os textos que são publicados no blog The i-piauí Herald. Talvez ele possa aprender novas formas de argumentar e, quem sabe, até conseguirá ser um pouco engraçado, sem parecer tanto com uma velha rabugenta enquadrando tudo em estereótipos (e pior, pensando que está “criticando ironicamente” tais estereótipos). E se o Terra não conseguir aprender nada ali? Nesse caso sugiro que ele contate o incrível artista do óbvio, Nuno Ramos, e lhe proponha uma parceria criativa, na qual um alimente a paixão pelo óbvio em sua alma gêmea, num jogo em que ambos têm muito a ganhar com o apoio mútuo: poderão acreditar que são os paladinos do novo por recriarem o antigo em novas roupagens, sem propor nenhuma novidade. Certamente vai ser um sucesso de público e até programa na Globo eles conseguirão emplacar. Boa sorte!
JOSÉ RADA NETO_FLORIANÓPOLIS/SC
NOTA DA BRIGADA DE INCÊNDIO: Por que tanto ódio, José? Por que tanto diminutivo, Zezinho? A chefia manda informar que Renatinho Terra escreve nove de cada dez The i-piauí Heralds. E agora? De qualquer forma, seguimos a tua recomendação: Renatinho fará um curso intensivo com Renato.
AUMENTO PARA O EDITOR
Quero exigir um expressivo aumento de salário e a inclusão de diversos benefícios ortodônticos a vocês que leem as cartas e compõem a seção Cartas da piauí. A da edição de abril está sensacional. Vale-gás e vale-curry para os indianos terceirizados de Hyderabad já!
IURI BAPTISTA_PORTO ALEGRE/RS
NOTA DO SINDICATO PATRONAL DE HYDERABAD: É assim que a vaca vai para o brejo, ou, como dizemos por aqui, ّائے ھôی جاتا ہے. Começa-se com benefícios ortodônticos e em pouco tempo aparecerá leitor exigindo semana de cinco dias e férias remuneradas. O senhor faz ideia do volume de cartas enviadas à piauí? Contando com a sua, nos últimos seis meses foram precisamente quatro (4), duas delas destinadas ao governador do Piauí.
Se tivermos de pagar benefício ortodôntico ao senhor Kumar Ranesh, funcionário encarregado de respondê-las (o qual, de resto, possui invejável dentição), melhor fechar a lojinha e voltar a dar aulas de ioga tântrica para atrizes globais em busca da verdade cósmica nas areias do Leblon.