minha conta a revista fazer logout faça seu login assinaturas a revista
piauí jogos

    Cartão-postal de 1940 com o chichá em primeiro plano: nativa do Cerrado e da Amazônia, a árvore tinha 30 metros de altura quando caiu CRÉDITO: ARQUIVO PESSOAL_RICARDO CARDIM_1940

despedida

Réquiem para um chichá

A queda de uma árvore secular no Largo do Arouche, em São Paulo

Mônica Manir | Edição 223, Abril 2025

A+ A- A

Eram 17h05 do último dia 12 de março quando Paulo Christian Jacobsen de Siqueira se deu conta do breu que encobriu o Largo do Arouche, no Centro paulistano. Ele acabara de comprar remédios numa farmácia das redondezas. O vento que de repente açoitou o largo era do Cão. A chuva torrencial varou o corpo franzino do idoso, que correu para se abrigar no Sai de Baixo, disputado bar da região. Às 17h10, o gigantesco chichá de que o bacharel em direito cuidava quebrou perto da base, fazendo o chão tremer. Vinham por terra quase dois séculos de história.

“Cuidava é só um modo de dizer”, corrige Siqueira, com humildade. Ao longo de quatro anos, ele limpou voluntariamente o canteiro onde a anciã vivia. Catava os farrapos de roupas, bitucas de cigarro, garrafas e latinhas que nunca se extinguiam. Naquele espaço, cercado por um gradil verde, uma placa da prefeitura ainda informa que ali se encontra uma criatura centenária, das mais antigas e relevantes de São Paulo, símbolo de resistência e testemunha do crescimento vertiginoso da cidade. Siqueira, que mora próximo do Arouche, não se conformava com a queda do chichá. Na sua cabeça, pelas leis da natureza, aquilo não podia ter acontecido.

Já é assinante? Clique aqui Só para assinantes piauí

Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

ASSINE