ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2022
Rihanna à mineira
De Contagem a Bruxelas, uma sósia de sucesso
Thallys Braga | Edição 185, Fevereiro 2022
Nenhuma pessoa com o juízo no lugar imagina que, ao sair de casa para zanzar, vai acabar esbarrando com um show gratuito da cantora Rihanna em praça pública. No entanto, foi mais ou menos isso que aconteceu em Bruxelas, no início da tarde de 4 de dezembro passado. “Rihanna! Rihanna! Rihanna!”, gritaram milhares de pessoas na Grand-Place, no centro histórico da capital da Bélgica, assim que a cantora na calçada entoou a última frase da canção Stay, um dos maiores sucessos da diva da música pop.
Havia um mar de gente com celulares na mão assistindo ao show inesperado. Quando acabou, várias pessoas correram em direção à cantora para fazer selfies ao lado dela. Thank you, thank you, dizia a moça aos tietes, num inglês claudicante. Enquanto desligava o microfone portátil que um artista de rua lhe emprestara para a dublagem, um fã pediu seu autógrafo. Foi a hora da verdade. A Rihanna que se apresentava na praça em Bruxelas assinou no pedaço de papel: “Priscila Beatrice, Rihanna Impersonator.”
Priscila Beatriz da Silva Vieira, 29 anos, 1,78 metro, é mineira de Vespasiano e mora em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Rihanna, 33 anos, 1,73 metro, é natural de Barbados, onde foi declarada recentemente “heroína nacional”, e vive em Beverly Hills, na Califórnia. As duas são espantosamente parecidas. Em comum, têm a cor da pele, os olhos verdes, as maçãs do rosto proeminentes, o nariz, a boca… Parece que foram esculpidas pelo mesmo artista. Soma-se a isso o empenho de Vieira em imitar os penteados, as maquiagens e os trejeitos de Rihanna. Elas compartilham inclusive o signo: ambas são de Peixes. “Até nisso Deus acertou!”, comemora a mineira.
As comparações entre Priscila Vieira e Rihanna começaram a surgir em Contagem em 2007, quando o hit Umbrella estourou no Brasil. Os mais próximos olhavam as fotos da cantora e exclamavam: “Mas é a Priscila!” Então com 15 anos, Vieira não deu muita bola. Estava mais interessada em outra estrela, Britney Spears. “Só tinha espaço pra ela na minha vida. Tive que aprender a gostar da Riri”, conta.
Aprendeu direitinho. Em 2014, Vieira foi convidada pela primeira vez para fazer um show como sósia de Rihanna em um clube de Contagem. Ela subiu ao palco com três dançarinas e um pen drive carregado de músicas para dublar. “Naquele dia tive certeza de que nasci para isso.”
Mas não ganhava a vida fazendo aquilo. Até março de 2020, ela trabalhava como vendedora de planos funerários. As jornadas diárias, batendo de porta em porta, podiam durar treze horas. Vieira contava os minutos para o fim da semana chegar e poder se transfigurar na estrela Priscila Beatrice, seu nome artístico. Nos sábados, subia aos palcos das boates de Contagem para interpretar os sucessos de Rihanna.
Em agosto de 2020, a própria cantora constatou a semelhança, ao ver Priscila vestida e maquiada igual a ela em um vídeo compartilhado por uma página norte-americana de memes no Instagram. “Cadê o álbum, irmã?”, comentou Rihanna, em inglês, na publicação. A pergunta é a mesma que os fãs lhe fazem com frequência nas redes sociais, pois seu último disco de músicas inéditas foi lançado há seis anos.
Vieira leu o comentário de Rihanna à noite, quando estava se preparando para dormir. Pulou do sofá e gritou tão alto que assustou o marido, o balconista de farmácia Felipe Ferreira, e acordou seus três filhos – de 11, 6 e 2 anos. Em sua página no Instagram, a mineira escreveu, em português e em inglês, que estava “chorando de emoção”. “Foi o momento mais louco da minha vida”, recorda. “Pense numa pessoa que ficou 48 horas sem dormir, à base de energético, com os olhos arregalados de tanta euforia. Fui eu!” Também, pudera: logo depois do comentário de Rihanna, empresas brasileiras e até estrangeiras a procuraram, interessadas em estampar o seu rosto em campanhas publicitárias. Nos dias seguintes, Vieira atingiu a marca de 200 mil seguidores no Instagram e de 1 milhão no TikTok.
Na época, ela estava sem emprego e passava os dias contando as moedas. “Era um desespero. Eu vivia pensando no que fazer para sustentar três crianças. Aquele comentário da Rihanna foi enviado por Deus.” Hoje, Vieira consegue sobreviver apenas com o trabalho de influenciadora digital, divulgando produtos nas redes sociais. Já apareceu no comercial de uma empresa de cartões de crédito, fazendo graça de sua semelhança com Rihanna, e de vez em quando é convidada para programas de humor. Também grava vídeos desejando feliz aniversário a desconhecidos de diferentes partes do mundo. “Tive que aprender a falar ‘parabéns’ em umas dez línguas. Uma loucura!”
Antes de chegar à Bélgica em dezembro passado, Priscila Vieira foi à Turquia para participar do videoclipe de uma cantora do país. Era a sua primeira viagem para fora do Brasil. Numa tarde foi com colegas de trabalho a um restaurante de Istambul. Papo vai, papo vem, a mesa se encheu de pratos que ninguém havia pedido. “Que coisa mais estranha”, ela pensou. Então uma garçonete perguntou se Vieira poderia tirar fotos com a equipe da cozinha. “Eles serviram tanta comida de cortesia porque acharam que eu era a Riri”, lembra, gargalhando.
De volta ao Brasil, ela se dedicou a escrever suas resoluções para 2022. Decidiu que vai aprimorar o inglês e estudar técnica vocal para, quem sabe, cantar os sucessos de Rihanna com a própria voz, em vez de dublá-los.
A lista de metas foi feita no escritório da casa que alugou depois de fazer sucesso na internet. Em seu novo quarto, o item de decoração mais valioso é um porta-retratos com a reprodução do comentário feito por Rihanna. Na parede da memória de Vieira, essa lembrança é o quadro que mais a alegra.
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