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Rita Livre

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Rita Livre

Um ensaio fotográfico no funeral da deusa do rock brasileiro

Flavia Valsani | Edição 201, Junho 2023

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Embora fotografe há quase três décadas, só retratei um velório pela primeira vez no último dia 10 de maio. Foi o da Rita Lee, cantora que admiro desde a infância. Me lembro perfeitamente de dançar com minha mãe os sucessos do álbum que a artista lançou em 1982. Eu tinha 5 anos e requebrava na sala de casa enquanto ouvia Flagra, Cor de Rosa-Choque e Frou-Frou. A liberdade da Rita – estética, comportamental, política – sempre me contagiou. Todos os discos dela têm pelo menos uma música que ecoa forte em mim.

Não gosto de rituais fúnebres e procuro evitá-los. Já fugi, inclusive, de enterros importantes, como os dos meus dois avôs e o do melhor amigo da minha família. Curiosamente, na adolescência, pensei em virar médica-legista porque adorava biologia, mas receava falhar caso tratasse dos vivos. “E se eu não conseguir livrá-los do sofrimento?”, me perguntava. Então resolvi que lidaria com os mortos. Mal desconfiava que, em breve, iria tomar consciência do quanto a morte é implacável e definitiva. Hoje, detesto a ideia de não poder construir novas memórias com alguém que morreu. Daí a minha preferência insistente de me manter longe dos funerais. Mesmo assim, cogitei aparecer no velório da cantora, sobretudo depois de saber que o planetário do Parque Ibirapuera, em São Paulo, abrigaria a cerimônia. Que sacada incrível a da Rita! Escolher aquele lugar para se despedir do mundo… Um derradeiro gesto poético, uma decisão bem representativa de nossa inquietante e fulgurosa pequenez.

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Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

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