Se ler piauí não fosse divertido, seria trágico
| Edição 65, Fevereiro 2012
CONCILIAÇÃO DE NOVO
Em referência à reportagem “Conciliação, de novo” (piauí_64, janeiro), o Ministério da Defesa tece os seguimentos esclarecimentos.
Toda a ação do Estado brasileiro no caso Araguaia, antes, durante e após sua tramitação pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, foi fruto de consenso entre o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Defesa, a Advocacia Geral da União (AGU) e a Secretaria de Direitos Humanos, com o posterior acompanhamento da Casa Civil da Presidência da República.
Nenhum ato, petição ou sustentação oral decorreu de decisão solitária de apenas um desses órgãos, aí incluídas as alegações orais apresentadas pelo advogado da União (e não da Defesa, como informa o texto) em nome do Estado brasileiro.
Tendo em vista a atuação concertada entre todos os órgãos públicos aqui citados, não se pode impingir a este Ministério um protagonismo na linha de defesa do Estado perante a Corte Interamericana, como sugere a matéria veiculada.
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO MINISTÉRIO DA DEFESA, Brasília (DF)
ELOGIO
Qui belus artighos a xente lê de vocêis, hein? Nóis não breciza de imbriotécas, nóis breciza é de xente como vocêis bra faszer rir! Ridendo castigat mores! Qui maravilhia de cultura! Ainda se incontra xente qui fala a última flor do Lácio no original! Melhor intão eu acabar dizendo: Putas me, in montibus foedere cum picas me? Tradução para os mais afoitos; Julgas que eu cavo o monte com minhas picaretas? Naum! Milhor ainda é dizer: refrescarum annorum patorum lacuna est! Quem refresca cu de pato é lagoa!Enfim, cumo dizia Cícero num de seus famosos discursos no Senado contra Catilina, o terrível irmão de Chaim: SI BUNDORUM NON EST NOSTRORUM, PAU NELORUM! DELENDA EST FORNICATIONES SENATORIBUS BRAZILIENSIS CUZORUM GENS POPULORUM ET FORNICATIO CUZORUM NOSTRORUM, PORRA!AVE, JORNALISTORUM TUTTI BONNA GENTE REVISTARUM PIAUIZORUM!
JACYNTHO L. A. R., Porto Alegre (RS)
CONCILIAÇÃO, DE NOVO
ANDRÉ BONSANTO DIAS, Curitiba (PR)
Fez bem a revista em dar destaque às negociações e aos entraves do (lento) processo de criação da Comissão da Verdade no Brasil (“Conciliação, de novo”, piauí_64, janeiro). Cabe aos órgãos de comunicação um papel fundamental na tentativa de “reoxigenar” a memória coletiva de uma sociedade que ainda insiste em não olhar seu passado com uma visão mais comprometida. Com exceção da recente sabatina realizada com o polêmico e controverso cabo Anselmo no Roda Viva da TV Cultura, a grande mídia deste país pouco se tem posicionado sobre o caso e já chegou inclusive a “abrandar” a atuação de nosso regime militar. No rol dos países latino-americanos que vivenciaram ditaduras, alguns vizinhos já julgaram e puniram diversos agentes de Estado, responsáveis por crimes e torturas. Somos retardatários. Caminhamos lentamente, mas devemos, mais do que nunca, olhar para trás sem pestanejar. Lutar por uma Comissão que não termine – como alertou o advogado Fábio Konder Comparato – em mera “encenação”. É preciso colocar ponto final à imagem de uma sociedade copiosamente amparada por uma Lei de Anistia que mais parece briga de criança, onde o mais covarde bate e, na hora de apanhar, pede figas.
CONCILIAÇÃO, DE NOVO
O texto de Consuelo Dieguez é alvorecer para pessoas da minha geração (tenho 29 anos e julgo que posso dizer que sou um “pós-regime”), que felizmente não sofreram as restrições impostas no período dos Atos Institucionais e das violações sumárias dos direitos humanos. Não é colocando uma pedra sobre acontecimentos tão graves e incitando mais uma vez a impunidade, seja ela de lá pra cá ou daqui pra lá, que fortaleceremos as garantias individuais e a consciência coletiva de justiça e fraternidade nacional
TIAGO MORAIS, Uberlândia (MG)
CONCILIAÇÃO, DE NOVO
Um reparo se faz necessário. Ao contrário do que a matéria afirma sobre o sequestro do ex-deputado Rubens Paiva em 20 de janeiro de 1971, ele não foi preso por policiais do Deops, nem levado àquela delegacia. Paiva teve sua casa invadida naquela manhã por agentes do Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (Cisa), instalado na Base Aérea do Galeão, à época chefiado pelo brigadeiro Carlos Affonso Dellamora e subordinado ao Comando da III Zona Aérea. Esse comando estava nas mãos do brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, célebre pelo caso PARA-SAR, quando tentou mobilizar uma unidade de paraquedistas, especializada em buscas e salvamentos, para cometer atentados terroristas que seriam atribuídos à esquerda. Mas esta já é uma outra história… Acompanhado pelos agentes, Paiva saiu de sua casa no Leblon dirigindo o próprio automóvel, um Opel Kadett. Nesse 20 de janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, aconteciam as comemorações do trigésimo aniversário da criação do Ministério da Aeronáutica, com a presença do brigadeiro Márcio de Souza Mello, ministro da arma, recepcionado por Burnier na Base do Galeão. Próximo ao local do evento começavam as violências contra Rubens Paiva. Do quartel da III Zona Aérea, Paiva foi transferido para o quartel da Polícia do Exército, situado na rua Barão de Mesquita, na Tijuca, onde funcionava o DOI, o Departamento de Operações Internas, órgão do I Exército, chefiado pelo major Francisco Demiurgo Santos Cardoso. Abrindo um parêntese: o registro dos nomes dos oficiais militares, às vezes exaustivo, se faz necessário para a reconstituição de uma cadeia de comando que começava em Brasília e terminava nos porões da repressão. Médici ocupava a Presidência da República; João Baptista Figueiredo, a chefia do SNI, e era ministro do Exército o general Orlando Geisel. As torturas continuaram. Na virada para o dia 21, o médico Amilcar Lobo, que servia naquela unidade, foi chamado às pressas em sua residência e atendeu Rubens Paiva, diagnosticando hemorragia interna aguda e apontando aos responsáveis pelo interrogatório um risco iminente de morte. Essa é a última informação que se tem sobre o ex-deputado, desaparecido há 41 anos. Exatamente quinze dias depois a família foi buscar o Opel no DOI, entregue mediante o recibo que constitui o único documento indicativo da passagem e presença de Paiva por aquele quartel.
VLADIMIR SACCHETTA, São Paulo (SP)
DIÁRIO DA DILMA
Além de entretenimento da melhor qualidade – parabéns ao criador, beira a genialidade –, o texto nos faz devanear sobre o que realmente passa na cabeça da nossa presidenta. Quero saber se ela já se pronunciou a respeito – ou a despeito? – desse quadro.
NOTA DA REDAÇÃO: A presidenta é a verdadeira autora do Diário. piauí apenas psicografa os pensamentos da mandatária, em sessões noturnas conduzidas por Renato Terra.
JOÃO LORANDI, Santos (SP)
ESQUINAS
Há algumas edições, passava um pouco distraído pela Esquina da revista. Depois de “Socorro lúbrico” (piauí_62, novembro), porém, volto ávido a cada seção. Excentricidade na pauta e dose certa de humor no texto. Agora, curioso e atento à série Esquinas na tevê.
TIAGO AMADO, Rio do Sul (SC)
ESQUINAS
Destoou do costumeiro acerto o panfletário texto “História mal contada” sobre o Banco PanAmericano (piauí_63, dezembro). Espero que esse tipo de Esquina não passe a ser a regra desta revista que tanto aprecio.
VINÍCIUS FLORES, Porto Alegre (RS)
HÍFEN NÃO É DETALHE
Impagável o “Hífen não é detalhe” em Esquina (piauí_64, janeiro). Texto irônico de um arguto observador. A descrição da participação do Bresser-Pereira nos acanhados salões do Hotel Novo Mundo na última semana de novembro, na abertura de seminário promovido pelos partidos de esquerda para discutir a “crise do capitalismo e o desenvolvimento do Brasil”, é antológica. As intervenções do Lessa e da Conceição são perfeitas, a nova turma do ex-tucano de carteirinha, desiludido da política partidária e que resolveu, coincidentemente com a posse de Lula em 2003, adotar o hífen, uma perfeita ponte de ligação com o futuro: o lulo-petismo.
DIRCEU LUIZ NATAL, Rio de Janeiro (RJ)
MONSTRO PERIGOSO
Tudo bem – cada pessoa tem o direito de expressar sua admiração ou rejeição. David Cronenberg (“Monstro perigoso”, piauí_64, janeiro) é cool, elegante, moderno, talentoso, sem dúvida; ainda vamos ter o prazer de assistir ao filme. Mas será que um triângulo amoroso entre pessoas superinteligentes é mais fascinante do que as profundezas da alma? Veremos. Não é necessário destruir uma obra para promover outra. Meu pai “tocou” o cinema aqui em São João durante mais de trinta anos. Desde os 6, 7 anos eu estava ali nas primeiras filas assistindo a tudo quanto era filme. Muitas vezes ficava na sala de projeção com o Zequinha (o responsável pela projeção), outras vezes atrás da tela, vendo o filme ao contrário. Era tudo mágico. Eu transitava entre o prédio do cinema (hoje é o Teatro Municipal da cidade, tombado pela prefeitura e muito aproveitado para eventos culturais) e a biblioteca de meu pai. Tentava aprender o que era possível e ouvia bastante. Há alguns anos consegui o livro do Sartre (Le Scénario Freud) e, junto com meus alunos (cada qual com o texto impresso para seguir à risca), montamos duas cenas fundamentais (que foram respeitadas na íntegra por John Huston): a discussão de Freud com Theodor Meynert e o último encontro deles, com Meynert já à beira da morte. São diálogos magistrais. Agora tenho em mãos a edição da Nova Fronteira (Freud, Além da Alma: Roteiro Para um Filme), numa ótima tradução de Jorge Laclette. Além disso, comprei os dois DVDs da Versátil Home Vídeo, que contém o filme propriamente dito (versão integral e muitos extras), um depoimento do psicanalista Renato Mezan (PUC-SP) e um documentário excelente: Freud em Viena. Não dá para colocar numa mesma sacola Sartre, Huston e Monty Clift e chamar o filme de monstrengo. É injusto com os três e com quem assistiu e gostou da obra, apesar de toda a confusão que precedeu a filmagem. Monstrengo é o quadro da página 56 da nossa querida revista, com o Mural dos Líderes da Coreia do Norte.
IOLANDA GABRIELA DE OLIVEIRA AZEVEDO, São João da Boa Vista (SP)
CAPELA SISTINA SUBTERRÂNEA
A minha crítica vai para um termo inadequado e anacrônico – “pré-historiadores” – veiculado na piauí_63, de dezembro de 2011. O que é isso, se nem o termo pré-história se usa mais pelo conceito pra lá de problemático que carrega? Que espécie de trabalhador intelectual é esse? O autor da matéria, aliás razoável, usaria também o termo pré-físico? Duvido. Reajo fortemente a essa bobagem e leviandade. Fim da picada.
MARIZA GUERRA DE ANDRADE, Belo Horizonte (MG)
MONSTRO PERIGOSO
Repugnante a abordagem do cineasta David Cronenberg na matéria de Paulo Nogueira sobre Questões psicocinematográficas, por colocar em um mesmo balaio Carl Gustav Jung e Freud. A impressionante ignorância sobre a obra e o valor da obra de Carl Jung, a inveja diante de sua imensa erudição e brilho intelectual levam muitos a se omitir ante a luz espiritual que inspirou Jung a tão bem reescrever a história sagrada sob o ângulo da psicologia analítica. Difamam sua memória com calúnias fantasiosas e absurdas, reduzindo a vida do mestre a um freudianismo genital barato de novela medíocre, BBB ou pornografia. Na mesma edição é de se lamentar também o enfoque desconstrutivo banal, panfletário e falsamente sólido da matéria de Perry Anderson (“O mitólogo”), que ataca a obra de Claude Lévi-Strauss. O autor nem sequer alcança o valor perene de tantas partes da obra do antropólogo, como por exemplo a questão dos opostos inserida no estruturalismo, opostos estes que independem de limitações de linguagem. Carl Jung e Claude Lévi-Strauss são gigantes do pensamento ocidental, dois gênios da humanidade, e estão anos-luz acima de tais críticas incompetentes.
NICOLAU GINEFRA, Rio de Janeiro (RJ)
TODAS AS COISAS SÃO DE TODOS
Quando li a matéria sobre as frases dos contestadores (“A rebeldia vem de longe”, piauí_63, dezembro) em que vocês misturam Lênin e Einstein, vi que a velha técnica de valorizar os ícones da esquerda na imprensa ainda persiste na cabeça dessa redação. A sua revista foi para o lixo.
NOTA DA REDAÇÃO: Lixo reciclável, por favor, Waldomiro.
WALDOMIRO VIEIRA, Franca (SP)
NEURA NAS ALTURAS
Aponto uma frase que não está 100% precisa na matéria sobre o uso de celulares dentro de aeronaves (“Neura nas alturas”, piauí_64, janeiro). O texto registra que hoje o país teria “mais celulares do que bípedes”. Entendo que a palavra “bípede” referia-se ao particular grupos dos seres humanos, mas… Hoje o Brasil conta com um rebanho de mais de 1 bilhão de galináceos criados em granjas, bem como outros milhões de aves silvestres. Aves são bípedes. Portanto, se somarmos esses números ao de seres humanos, ainda não temos “mais celulares do que bípedes no Brasil”…
CARLOS CRISTIANO REGO, São José dos Campos (SP)
QUESTÕES TELEJORNALÍSTICAS
De acordo com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (“Com Roberto Marinho”, piauí_63, dezembro), o “dr. Roberto” não recebeu concessões do governo, e a Globo não foi subserviente ao regime militar. Então tá. Será que Boni toma seus compatriotas por parvos crédulos e desmemoriados, ou seu artigo é puro caradurismo de linha norte-coreana? Em 1984, ao perambular pela multidão presente no comício pelas eleições diretas na Praça da Sé (aquele boicotado pelos órgãos do “dr.” Roberto para preservar a democracia, de acordo com o autor), eu e meu irmão deparamos com uma perua da Globo sendo sacudida pelo populacho ao coro de “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. Assistindo ao pobre cinegrafista oscilar vertiginosamente agarrado à câmera no teto da Veraneio, sentimos a emoção de testemunhar a história do Brasil. Quanto à história do “dr.” Roberto, suas empresas e sua influência nefasta na nação, ainda está à espera de autor de coragem e retidão. O extrato publicado sugere que esse papel não está reservado a José Bonifácio. Tudo indica que seu livro não passa de ficção medíocre. Voltando à Coreia do Norte, com a tomada do poder do novo Supremo Líder (“A obra maior do querido líder: o vazio”, piauí_64, janeiro), o país deve oferecer muitas oportunidades para talentos midiáticos aduladores e mendazes.
ATHAYDE TONHASCA JR., Birnam, Reino Unido
QUESTÕES TELEJORNALÍSTICAS
O artigo “Com Roberto Marinho”, do Boni, revela-se laudatório, como era de se esperar. Contudo, não deixa de ser interessante, pois é também confessional, e informa que a edição do debate Lula–Collor, no final da campanha de 1989, foi manipulada, por ordem do chefe maior, no sentido de favorecer o segundo candidato. Não se trata de revelação bombástica, uma vez que a manipulação era óbvia e o fato absolutamente notório.
O que causa espanto é que, decorridos 22 longos anos do fato, o modus operandi da Globo ainda é rigorosamente o mesmo. Ou se manipula ou se oculta informação. O aparecimento de um livro bombástico que revela pagamentos de propinas e lavagem de dinheiro na época das privatizações, líder de vendas e presença obrigatória nas redes sociais, atacado e defendido sempre enfaticamente, é rigorosamente ignorado pela emissora. Ocultando a notícia, a Globo perde isenção. Sem isenção, perde credibilidade. Sem credibilidade, perde audiência. Perde a democracia. Perdemos todos nós.
SERGIO SEBA JABUR, Santos (SP)
UMA VIDA CONSTIPADA
O traço de Robert Crumb (“Uma vida constipada”, piauí_64, janeiro) está cada vez melhor. O sarcasmo é de longa data, mas o argumento já não parece mais o mesmo.
TALES SABARÁ, Congonhas (MG)
LER A PIAUÍ
Se ler a piauí não fosse divertido, seria trágico!
CAIO NATALE, Belo Horizonte (MG)
REVISÃO JÁ!
Gente, adoro vocês, mas a turma da revisão está precisando de revisão: crases mal colocadas (inúmeras!), “taxar” (tributar) no lugar de “tachar” (acusar), e por aí afora… Agora, ABÓBODA (abóbada) já é demais! FAÇAVOR!!!!!!!
NOTA DA REDAÇÃO: Nossos revisores, cujas provas receberam nota máxima no último Enem, se submetem a todos os caprichos do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Veja só:
Abóboda – subst. fem. – forma não preferencial de ABÓBADA
Taxar – (acepção 5 do verbo) – atribuir (uma qualidade ou um defeito) a (alguém, algo ou a si mesmo); fazer (certo julgamento) a respeito de, qualificar(-se), ter(-se) na conta de…
LENITA R. PASSOS, Curitiba (PR)