ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2016
Só uma vaga
Em busca de um estágio com Moro
Débora Sögur Hous | Edição 122, Novembro 2016
Outubro mal iniciava quando Erika Souza Felix da Silva leu no Facebook um anúncio que a instigou. O “Excelentíssimo Senhor Doutor Sérgio Fernando Moro” tornava públicos o prazo de inscrição e as regras de um concurso muito cobiçado: o de estagiário para a 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, justamente aquela onde o célebre juiz da Operação Lava Jato é titular. Moradora de Quixeramobim, no sertão do Ceará, Silva tem 20 anos e cursa o sétimo período de direito na Universidade Regional do Cariri. Não se considera propriamente fã de Sérgio Moro nem sabe ainda em que área pretende se especializar, mas valoriza “o combate aos crimes de corrupção”. Daí o interesse que o anúncio lhe despertou: se aprovada na seleção, anteviu, iria passar doze meses junto do magistrado paranaense, o inimigo número 1 dos ladrões de colarinho branco. Não bastasse, as quatro horas diárias de trabalho lhe renderiam um salário de 833 reais com vale-transporte. Nada mal para quem faz um estágio voluntário na Defensoria Pública de Iguatu.
Embora também não morram de amores pelo juiz, os pais da jovem – um dono de autoescola e uma estudante de moda – concordaram que se tratava de uma oportunidade imperdível e prometeram: caso a filha única lograsse êxito na disputa, complementariam a minguada renda mensal que a Justiça lhe reservava. Na noite de 19 de outubro, uma quarta-feira, Silva deixou Quixeramobim de ônibus e, depois de três horas, desembarcou no aeroporto de Fortaleza. Um voo de mais oito horas a levou até Curitiba.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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