Sorte para o Laerte, seca e circo em Jeremoaba, o cidadão e o mercado
| Edição 80, Maio 2013
LAERTE
Achei lindo e emocionante o perfil! (“Laerte em trânsito”, piauí_79, abril) Quero me retratar, se possível, pela frase infeliz que disse a respeito da polícia, em relação ao roubo do meu HD. O pessoal do 93º Distrito Policial foi muito gentil e atencioso e não merece nem um pouco meu comentário, inspirado por uma raivinha particular de outro contexto.
Beijos!
LAERTE COUTINHO_SÃO PAULO/SP
Ao ler a matéria de capa da piauí_79, percebi o quanto minha opinião estava equivocada em relação ao Laerte. Pra ser bem sincera, achava que ele estava maluco, que só podia ser “sem-vergonhice” um homem na idade dele sair por aí vestido de mulher; taxava sua imagem de ridícula sem nem mesmo conhecer os motivos que o levaram a tomar a polêmica decisão de se travestir, logo eu que sempre me pego defendendo as minorias oprimidas e os excluídos.
Após ler a matéria, compreendi melhor os motivos do Laerte, percebe-se que ele tem problemas como todos nós ou talvez até mais que a maioria de nós, tem muitas qualidades também e merece todo respeito, tanto pelo seu trabalho como pela sua trajetória de vida. Sua história me atingiu em cheio. Acima de tudo ele tem coragem, e há que se reconhecer que hoje em dia isso é bem raro. Desejo muita sorte ao Laerte, em sua infinita busca por si mesmo.
Além disso gostaria de sugerir a versão de bolso da piauí, pois não é nada fácil para uma pessoa como eu que mora no subúrbio paulistano ler a revista nos trens e metrôs lotados que pego todos os dias para ir ao trabalho e para voltar para casa. As pessoas sempre me olham feio quando por distração ou pela falta de espaço, acabo batendo a revista nelas, seja no rosto, seja nos braços… enfim, é meio desagradável…
Um grande abraço a todos, parabéns pelo trabalho.
MARINA MUNHOZ_MAUÁ/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Marina, o tamanho de piauí é uma sacada de marquéting. Na falta de coisa melhor, dizemos que “somos a maior revista do Brasil”. Espero que você compreenda. Desde já, pedimos perdão por todas as bordoadas que você ainda dará com a nossa revista.
Tocante à reportagem sobre o (a?) cartunista Laerte. Espero que sua busca existencial através da “travestilidade” lhe traga um pouco de alegria para se contrapor à melancolia de seu olhar, e à solidão da volta para a casa que não é lar.
ESTELA VILELA GONÇALVES_SÃO PAULO/SP
A reportagem de capa da piauí 79, “Laerte em trânsito”, do jornalista Fernando de Barros e Silva ingressa o leitor no estranho universo dos crossdressers, onde a realidade parece superar a ficção. Suas descrições do convívio do cartunista com essa comunidade, bem como aspectos de sua vida privada, faz-nos lembrar do filme Tudo sobre Minha Mãe, do Almodóvar. Nesse filme, o cineasta espanhol parece exceder-se no delírio imaginativo, no entanto, nosso Laerte está fazendo ainda a sua história, com um final totalmente aberto e imprevisível.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
A Esquina “A verdade sobre os pandas” e a matéria “Laerte em trânsito” devem ser lidas em conjunto. Moral: as vantagens do desinteresse sexual.
CELSO A. COCCARO FILHO_SÃO PAULO/SP
Vestir-se de uma certa maneira é apenas convenção social, sem nenhum valor legal ou moral. Quando alguém resolve transgredi-la, provoca um terremoto. Qual o problema em alguém do sexo masculino (sem discriminar gênero) vestir-se como mulher, ou o contrário? Fica a reflexão.
JOSÉ ANÍBAL SILVA SANTOS_TEÓFILO OTONI/MG
NOTA DA REDAÇÃO: Fica mesmo.
SECA
O Nordeste do Brasil já entrou no terceiro ano de seca que atinge mais de 10 milhões de pessoas (Esquina “O sol bate nas pálpebras como numa porta a socos”, piauí_79, abril) e nossas atenções deveriam se voltar ao efeito climático que impede o plantio agrícola, exceto nas pequenas áreas irrigáveis, e que praticamente já dizimou o rebanho de gado de corte e de leite e que trará reflexos negativos por décadas.
Na minha velha e espoliada Jeremoabo, a prefeita municipal repetiu a lição de sempre. Passando pela cidade na manhã de hoje, domingo, 14 de abril, me deparei com um espetáculo circense estarrecedor. Enquanto o povo vive na miséria e sobrevive apenas com as aposentadorias rurais e o programa de combate à fome do governo federal, por deboche, a prefeita comprou para o deleite de seu gabinete um veículo Amarok cabine dupla cujo custo não deverá ter sido inferior a 130 mil reais e mais outros dezesseis veículos expostos na via pública a incrementar ainda mais o trambique com peças de reparação e desvio de combustível e por certo, nos próximos doze meses a frota já estará totalmente sucateada a exigir novas compras. A coisa não cheira bem e o futuro nos dirá.
Se a situação não fosse humilhante, degradante, de extrema gravidade, eu diria que era hilariante.
JOSÉ DANTAS_JEREMOABO/BA
GARZON
No Diário da Dilma (“Quem não tem colírio que use óculos escuros”, piauí_79, abril), há uma menção ao juiz Baltazar Garzon como sendo “aquele juiz espanhol que vive prendendo o Pinochet” que leva a pensar que o indigitado e ladravaz (esta última expressão é da própria piaui) esteja vivo. Se foi em 2006. Que a terra lhe seja leve, com o Aconcágua em cima.
VIRGÍLIO DA SILVA ROCHA JR._RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA APÓCRIFA DO DEPUTADO JAIR BOLSONARO: Se foi para você, filho ingrato.
PIAUÍ_78
Ontem eu terminei de ler minha primeira piauí e estou encantado. O texto de Elizabeth Kolbert para a New Yorker (“Natureza fabricada”) me lembrou bastante o romance Liberdade de Jonathan Franzen: a Oostvaardersplassen passa fácil como um produto da mente de Walter Berglund. Os textos de Marco Politi (“Sob a névoa do conclave”) e Boris Fausto (“Pontífice de uma religião leiga”) já ganharam futuros leitores por recomendação minha e o de Alejandro Chacoff (“A viúva e a vanguarda”) me fez sentir pena da apagada produção literária brasileira perto da dos nossos vizinhos. Agora, vamos combinar que “O turista infeliz” foi a bosta mais soporífera que eu tive o desprazer de ler. A prepotência de Nuno Ramos faz espinhos brotarem das páginas. A partir de agora, quando eu escrever, minha maior preocupação tem nome: não “nunorramosar”.
FILIPE FREITAS DE MELLO E SILVA_SILVA JARDIM/RJ
FOTO
No caminho entre a redação da revista piauí e seu novo lar, este fogoso pinguim conquistou um coração e já não sente as noites tão frias. Afinal, está seguindo as palavras do mestre Che: Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás!
MARCIA VITARI_RIO DE JANEIRO/RJ
ADENDOS
Desde o número 34, não perco uma edição da revista. Leio-a sempre com enorme interesse, do início ao fim (começando pelo fim). Por isso, sei que publicarão esta minha carta seguida de um comentário jocoso, que só aumentará – pois que humor não me falta – meu entusiasmo pela revista. Ainda assim, é com algum desencanto que constato, lendo a seção reservada aos colaboradores, que não há edição de piauí sem adendos como estes: “O texto integra o livro X, que será lançado pela editora Y em junho”; “Os poemas fazem parte do livro Z, a ser lançado em abril pela editora W”. No final, saio da leitura – do primoroso artigo de Steven Pinker na edição de março (“Violência ancestral”), por exemplo – com certo ranço na boca, traduzido em dúvida: afinal, piauí é revista ou catálogo?
DANIEL SERRANO_CAMPINAS/SP
NOTA DA REDAÇÃO: As duas coisas, Daniel. E outras mais: manual, guia, crônica, folhinha, Bíblia, testamento, missário, almanaque, lista, bilhetinho, telegrama, fax, telex.
ÁLCOOL
Quero parabenizar a jornalista Consuelo Dieguez pela matéria sobre a diminuição na produção de etanol, a relação disso com o prejuízo da Petrobras e as expectativas do petróleo do pré-sal (“Colheita amarga”, piauí_78, março). Foi a melhor concatenação de fatos e análises sobre esse problema socioeconômico interno (e externo) que há na imprensa brasileira hoje.
Essa matéria junto com aquela (tão boa quanto) intitulada a “O petróleo depois da festa” (piauí_72, setembro 2012), da mesma jornalista, complementam-se e explicam muito bem tanto a questão energético-econômica no Brasil quanto de inovação na área.
Aguardo ansioso possíveis análises sobre a política externa do Brasil também quanto a questões energéticas nucleares.
PEDRO HENRIQUE GALLOTTI KENICKE_CURITIBA/PR
Confesso que, de largada, a bucólica foto ilustrando a matéria “Colheita Amarga’”, associada a “questões energéticas”, que de longe não são temas de meu gosto, me levaram a um preconceituoso julgamento; “Chata, estonteante, cheia de disse/não disse e nhanhanha!” foi o que pensou esse pobre estudante de jornalismo; mas estava ERRADO. Consuelo Dieguez conseguiu conduzir brilhantemente a narrativa, expondo os mecanismos da questão energética do etanol, tantas vezes já discutidos nos veículos televisivos e massantes (no sentido único de gênero “massas”) do país, em reportagens que acabaram por se desmanchar no ar…
Conhecendo, agora, um pouco mais sobre essa realidade, posso analisar quantas oportunidades econômicas foram perdidas, por falta de iniciativas corretas… A matéria se torna ainda mais revoltante quando levamos em consideração também as questões ambientais relativas a um determinado país verde-amarelo que foi sede de duas pomposas conferências internacionais de meio ambiente (Rio 92 e Rio+20), e que simplesmente descarta a possibilidade de se mostrar ao mundo como um exemplo, oferecendo o etanol em substituição à gasolina, que é terrivelmente mais poluente. Ai, ai, ai, Brasil!
PEDRO PANESI JOSÉ LEAL_RIO DAS OSTRAS/RJ
O FIM DA IDEOLOGIA
Ao ler a reportagem “O cidadão como consumidor” (piauí_79, abril) na seção Tribuna livre da luta de classes, lembrei-me imediatamente da lição do Nobel de Economia e arauto do (neo)liberalismo, professor Milton Friedman: O livre mercado é o único mecanismo que já foi descoberto para o alcance da democracia participativa. Isso me fez refletir que a tendência mundial de maior participação direta e a perda do poder das organizações políticas aumentaram com a expansão das instituições livres. Espero que os cidadãos continuem no caminho de limitação dos poderes das autoridades públicas e tragam cada vez mais para si a responsabilidade sobre suas próprias escolhas. Parabéns à piauí.
LUCAS LEITE ALVES_FORTALEZA/CE
Confesso que escolhi o texto do Wolfgang Streeck para comentar. Além da questão sociológica muito bem discutida e avaliada, destaco a mistura do público com o privado. Professores universitários e pesquisadores passam por essa situação às avessas, muitas vezes necessitando colocar seus recursos privados para tocar laboratórios públicos, uma vez que são impossíveis de serem superados os entraves legais para utilizar verbas orçamentárias em suas instituições. Do artigo infere-se que o jogo é capitalizar a individualidade, produzir em massa a sensação de individual, de único. Que estratégia! José Serra, Marina Silva e Gilberto Kassab são os exemplos políticos dessa ilusão, que fundam ou buscam partidos exclusivamente para si. Essa profusão de partidos no Brasil acaba por ser um contraexemplo à impossibilidade de individualizar a ação do político. A privatização do Estado é algo fortemente almejado por tucanos brasileiros e o texto dá conta da evolução dessa ação. Assustador. Por outro lado, o Brasil tem tentado fazer o resgate de uma equação nos últimos dez anos, apresentando uma vida pública mais rica com a inserção social. Por fim, para o jovem, a política passa a ser algo descompromissado, a mesma essência de sua inércia ante questões afetivas e profissionais.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_LORENA/SP