ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2009
Suplicy: sensual
O toque das suas mãos longas e macias...
Carol Pires | Edição 30, Março 2009
Ao ligar o computador no dia 19 de junho de 2007, a secretária parlamentar Neisse Dobbin, assistente do senador Eduardo Suplicy, se deparou com uma mensagem quase agônica: “Sei que quem vai ler isso não é o senador, fico frustrada com isso, pois tenho o sonho de conhecê-lo pessoalmente. Acho você um homem inteligentérrimo e muito muito lindo, meu sonho de consumo. […] Por favor, quem estiver lendo isso, por favor, fale para ele.” Neisse falou.
E não só falou como guardou o e-mail na pasta vermelha intitulada “Correspondências pessoais femininas!” assim mesmo, com exclamação. A mensagem se juntava, assim, aos outros vinte e-mails impressos, treze cartas, um sedex e seis fotografias que até aquele momento compunham o acervo das mais românticas missivas endereçadas a Eduardo Matarazzo Suplicy. A média está em 400 declarações de amor por ano, o que significa mais de 1,5 suspiro por dia útil.
O amor vem de todas as partes e se manifesta com graus variados de sofreguidão.
Anos atrás, uma potiguar de 43 anos se disse enciumada ao flagrar Suplicy “dando um cheiro” no presidente Lula. “Queria estar no lugar dele”, declarou.
Uma rival sua de Joinville, de 28 anos, foi mais dada: “Com todo o meu respeito, senhor senador… eu te amo. Apesar de seres do partido que és… eu te amo.” Sem descurar da liturgia exigida pelo cargo, capitulou de vez: “Se o senhor estiver descomprometido, quero me casar com o senhor. Enfim, te amo… com todo o meu respeito.”
Uma mineira de 31 anos, “separada e sem filhos”, disse que nem sabia de onde tirava coragem… “Mas o fato é que tenho a maior vontade de conhecer o senador Suplicy.”
A investida foi amena, se comparada à da curitibana de 52 anos que, alegando “uma vontade imensa de encontrar um grande amor”, convidou o parlamentar para um rendez-vous em mensagem enviada às 11h15 do dia 26 março de 2004. Ela se adiantava em precisas cinco horas à viúva gaúcha de 51 anos que naquele dia, em despacho das 16h15, iria se confessar desconcertada ao ter conhecimento, pela televisão, de que o senador buscava uma nova companheira.
“Nessa época eu já estava com a Mônica. O programa passou a informação errada”, afirma categoricamente Suplicy, referindo-se à jornalista Mônica Dallari, sua amiga há 23 anos e namorada há pouco mais de quatro. “É a mulher que Deus criou para mim”, espalha enternecido.
Deve ter razão, pois, segundo consta, Mônica chega a ouvi-lo com deleite quando ele canta Blowin’ in the Wind costume ao qual a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy jamais se resignou ao longo das quatro décadas em que foram casados. De todo modo, caso Mônica algum dia reveja sua opinião sobre os dons musicais do companheiro, ele terá sempre o consolo de saber que uma carioca se dispõe a ouvi-lo pelo resto da vida, pois o admira “imensamente como cantor e poeta”.
Indagado a respeito dos interesses femininos que desperta, o senador desconversa: “Minha mãe poderia responder. Ela gosta muito de mim.” Falsa modéstia ou não, o fato é que a cada discurso sobre Cesare Battisti, Racionais MC, venda de laranja no Brasil e, sim, até sobre o programa Renda Mínima Suplicy recebe cerca de 500 e-mails. “Quase mil quando o assunto é polêmico”, diz Neisse.
Em meio à plêiade de opiniões e pedidos de eleitores, vêm as manifestações de apreço como a da paulista de personalidade forte: “Embora a Marta não ache, tenho por você grande admiração não só no campo intelectual, como pela sua ética, seu caráter. Também te acho muito sensual e charmoso.”
A sensualidade de Suplicy foi igualmente exaltada por uma amazonense sagitariana que desde muito pensava escrever, “mas resistia à idéia por achar que uma correspondência de cunho pessoal, ainda vinda de uma pessoa estranha do Amazonas, jamais lhe chegaria às mãos.” Ela só pôde ousar quando se lembrou dos versos de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” Foram eles que a estimularam a ir ao correio no dia 6 de outubro de 2003 e despachar um cartão verde endereçado ao Senado Federal.
“Às vezes surpreendo-me imaginando o toque das suas mãos longas e macias acariciando meu rosto”, escreveu com sentimento. E assegurou: “Não sofro de nenhum distúrbio mental, não projeto carências em pessoas públicas, sou independente, bonita e feliz. Não há outras razões senão o gostar.”
No cartão ela narra o momento em que sucumbiu. Estava no aeroporto Juscelino Kubitscheck, em Brasília, quando de repente viu Suplicy na fila do check-in. Ele lançou-lhe um olhar acompanhado de um sorriso e foi o que bastou: “Me fez gostar… simples assim, como simples é a letra da música de Johnny Alf O que é amar.”
Com a mistura de placidez e marketing que o tornam inimitável, o senador se justifica: “Não me lembro desse dia, mas tenho certeza de que foi só um olhar inocente.” Ciente de que mesmo o seu sorriso mais casual é capaz de produzir um “simples gostar”, ele evita dar corda e, a exemplo de Tom Cruise, Leonardo di Caprio e Brad Pitt, não responde aos apelos românticos. Abre exceção apenas para “quem insiste demais”. Àquelas que descobrem o número do seu celular ou que o encurralam no corpo-a-corpo, ele gentilmente agradece e, com voz suave, avisa que é comprometido, deixando bem claro que Eduardo & Mônica.
Desamparado, o fã-clube feminino parece ter se retraído. Este ano, ao menos por enquanto, somente duas cartas tiveram o privilégio de ir para a pasta vermelha.