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“Trabalhar é tá na luta”

    O escritor Itamar Vieira Junior: ele diz que desejaria ser como Elena Ferrante, a autora que nunca teve a identidade revelada e se mostra ao mundo somente por meio de sua obra CRÉDITO: CHRISTIAN CRAVO_2022

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“Trabalhar é tá na luta”

Os caminhos do servidor público Itamar Vieira Junior até o fenômeno literário Torto Arado

Clara Rellstab e Fernanda Santana | Edição 193, Outubro 2022

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Fundado em 1970, durante o regime militar, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) é uma autarquia federal cujo principal objetivo é administrar as terras públicas da União. Entre suas atribuições estão a realização de projetos de colonização em áreas de conflitos, a criação de projetos de assentamentos e a titulação dos territórios quilombolas. Em 2006, um pouco depois de ser aprovado no concurso público para se tornar servidor do órgão, o escritor soteropolitano Itamar Vieira Junior teve que se mudar da Bahia – estado natal com o qual diz manter uma “relação quase umbilical” – para o Maranhão, onde foi alocado para trabalhar em um programa que incluía fomentar educação em projetos de assentamentos em áreas quilombolas. Como não tinha dinheiro para comprar uma passagem de avião até São Luís, percorreu de ônibus os mais de 1,5 mil km que separam as capitais baiana e maranhense. Foram trinta horas de viagem.

Instalado na nova moradia, passava metade do mês em trabalho de campo no interior, visitando os 28 quilombos então identificados e aqueles que poderiam se tornar terras demarcadas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Maranhão é o terceiro estado brasileiro com o maior número de localidades quilombolas no país, atrás de Minas Gerais e Bahia. “Percorri o estado inteiro, conheço o Maranhão de cabo a rabo. Foi uma experiência muito rica e assustadora.” Indagado sobre a razão do último adjetivo, Itamar lembrou de quando se perdeu na Reserva Biológica do Gurupi, conhecida como Amazônia maranhense, com outros colegas do Incra, e acabou numa estrada bloqueada por madeireiros, que só permitiram que Itamar e seus colegas prosseguissem depois do anoitecer, quando o risco de fiscalização sobre a carga ilegal de madeira que carregavam já era menor. Lembrou-se também da vez em que foi ao município de Buriticupu e se deparou com um cenário que parecia ter sido retirado de algum filme de faroeste, com poeira vermelha e gente armada até os dentes. Ao todo, ficou três anos longe da Bahia, até conseguir uma transferência e retornar a Salvador, em 2009.

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