
Rodrigo Castro de Jesus acordou desorientado. Havia se esquecido de que estava em Paris, num apartamento alugado perto da Place de la République, longe de casa. Passado o breve mal-estar, o artista plástico de 32 anos procurou seu smartphone e, com o aparelho em mãos, abriu o aplicativo Católico Orante. Não demorou mais do que dez minutos para rezar as laudes matutinas. Acostumado a realizar suas preces acompanhando os padres jesuítas no Pátio do Colégio, em São Paulo, ele lia os primeiros versos dos salmos no aparelho e terminava de recitá-los sem a ajuda do aplicativo, com os olhos fechados.
O ritual é repetido diariamente. Foi mantido mesmo depois que deixou a vida religiosa, há sete anos. Só assim, diz, é possível suportar o mundo tão secular. Rodrigo de Jesus passou nove anos de sua vida em reclusão, como frei carmelita. Filho de uma família pobre e religiosa – o pai é pedreiro; a mãe, costureira –, foi no claustro que ele se interessou por artes plásticas e deu os primeiros passos como pintor de ícones bizantinos – as imagens estilizadas e vibrantes surgidas no Império Romano do Oriente para retratar personagens sagrados da Igreja Católica.

Isabel Junqueira
Isabel Junqueira é jornalista brasileira radicada em Paris