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A ver navios

Um ferro-velho de cargueiros em Bangladesh

Christian Cravo | Edição 218, Novembro 2024

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Desde a década de 1960, a cidade de Chittagong – polo industrial de Bangladesh que se dedica principalmente ao refino de petróleo – abriga um imenso cemitério de navios. Cargueiros obsoletos da Ásia e da Europa aportam todos os anos por ali. Vão para estaleiros legalizados ou clandestinos, que funcionam como ferros-velhos numa praia com 20 km de extensão. Milhares de operários se encarregam de desmontar as embarcações, cujas peças (as chamadas “sucatas marítimas”) acabarão vendidas. A atividade figura entre as mais perigosas do mundo, conforme a Organização Internacional do Trabalho, já que os navios contêm grande quantidade de mercúrio, chumbo, amianto e outros elementos tóxicos. As substâncias podem contaminar tanto os operários quanto o solo e as águas costeiras. Os riscos diminuiriam se os estaleiros e as autoridades respeitassem certas normas de segurança laboral, reciclagem e proteção ambiental, mas isso quase nunca acontece. Próximos de Bangladesh, o Paquistão e a Índia também costumam receber cargueiros para desmanche.

Em 1989, o fotógrafo mineiro Sebastião Salgado registrou a rotina dos ferros-velhos na orla de Chittagong. O canadense Edward Burtynsky fez o mesmo entre 2000 e 2001. As imagens captadas por ambos se tornaram famosas. Agora é a vez do baiano Christian Cravo fazer sua leitura dessa paisagem que, década após década, se perpetua sem maiores alterações. Ele visitou a cidade bengalesa em outubro passado e voltou com o ensaio, que a piauí publica pela primeira vez. “O desmonte de navios movimenta uma boa grana”, diz Cravo. “Os estaleiros pagam, em média, 4 milhões de dólares por um cargueiro antigo. Imagine quanto faturam com a venda das sucatas…”

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