Arco-íris amazônico
Um passeio pelas cores e luzes do Pará
Luiz Braga | Edição 223, Abril 2025
O azul da chama que fervia a água usada por meu pai, médico, para esterilizar seringas de vidro em hospitais psiquiátricos de Belém. O amarelo oscilante das lâmpadas que iluminavam os corredores do sobrado onde a gente vivia. O verde do limo que salpicava os muros das avenidas, encharcados pelas chuvas de março. O marrom da lama que assolava o trajeto até a casa de minha avó paterna, Mundica. O roxo do açaí que Seu Amaral esfregava numa peneira de palha. O negro dos “túneis de mangueiras” que emolduravam as alamedas e filtravam o Sol escaldante do meio-dia. O branco dos véus nas missas de Páscoa.
Toda vez que penso em minha infância, me lembro de cores. Nasci e sempre morei na capital do Pará. Descendente de portugueses, libaneses e indígenas, vou festejar 70 anos em novembro de 2026. Não por acaso, a Belém que conheci ainda menino se diferenciava bastante da metrópole atual. Embora já ostentasse a arquitetura majestosa do período em que o ciclo da borracha enriquecia a Amazônia, a cidade exalava mansidão. Era pacífica e afetiva, com famílias se reunindo nas calçadas para conversar à noite. O trânsito, nada selvagem, permitia que as crianças desbravassem as ruas. Me recordo de jogar bola em campinhos esburacados ou de colher mangas douradas que mal se aguentavam nas árvores.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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