Varig, via-sacra e os contratempos da checagem
| Edição 83, Agosto 2013
VARIG
Voei na Varig por 35 anos, dos quais trinta como comandante. Erros aconteceram. Mas não como foi citado na reportagem (“A disputa que matou a Varig”, piauí_82, julho): “Os pilotos tinham benefícios muito superiores aos concedidos por outras companhias internacionais. Os funcionários levavam amigos e parentes em viagens pelo mundo sem pagar nada.” Ledo engano! Essas passagens eram concedidas mediante cotas controladas, tal qual qualquer empresa aérea. Na Varig havia o GC (Gratuito Condicional), com embarque só permitido se houvesse espaço e alimentação a bordo. E não era “de graça”, pagávamos uma taxa! Por que enterrar também os funcionários aposentados do fundo de pensão Aerus? Pagamos por quase trinta anos e hoje o Fundo foi liquidado. De resto, devorei a reportagem, que deu a oportunidade de esclarecer ao Brasil que não foi por pura incompetência que a Varig sumiu do mercado brasileiro
ALCIDES MENDES_PETRÓPOLIS/RJ
Parabenizo a jornalista Consuelo Dieguez pelo artigo sobre a quebra da Varig, pela clareza e boa informação sobre o caso. As tramoias nos bastidores da companhia e diretores da Fundação, do governo, presidente da República, ministros, empresários ligados a eles e do sindicato que votou pela venda da Varig no leilão. Para no final da história a culpa recair nos funcionários comuns como eu, massa de manobra, como ficou a imagem para a opinião pública, os vilões da história, enquanto presidentes, diretores e conselheiros da companhia estão por aí livres e soltos, assim como políticos e funcionários do governo da época.
ELITON ROSA_RIO DE JANEIRO/RJ
Estava lendo com muita atenção a matéria publicada na piauí sobre a Varig, e que está ótima, quando me deparei com uma referência a mim, em que eu, “no passado, havia comprado estaleiros do Rio de Janeiro a preços aviltados com a promessa de recuperá-los. Todos faliram. Tanure topou o negócio [a compra da Varig]. Suas pretensões foram barradas pelo juiz Ayoub por entender que ele não tinha condições de ficar com a empresa por falta de garantias”.
Gostaria de esclarecer que isso não corresponde aos fatos. Quando comprei o estaleiro Emaq em 1988, ele já estava em falência havia mais de dois anos. Eu o recuperei, todos os navios foram entregues, especialmente os da Petrobras. O estaleiro Verolme, quando o comprei no início dos anos 90, já estava em concordata. Eu o recuperei, fiz uma parceria com a Keppel Fels, de Cingapura, depois vendi a empresa e fiquei com a propriedade do imóvel. Quanto ao estaleiro Ishibras, fiz uma associação com os japoneses em 1994, e conseguimos equacionar o imenso endividamento que ele tinha. Voltando à Varig, não foi o juiz Ayoub que barrou pretensão alguma minha. Eu desisti do negócio na assembleia geral da Ruben Berta, pois estava mais do que evidente que o Estado brasileiro não tinha nenhuma intenção de contribuir para a recuperação da empresa.
Contribuição que passava pelo cumprimento da mais elementar obrigação do Estado de pagar/ressarcir o que devia à empresa, coisa que não fez até hoje.
NELSON TANURE_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA DA REDAÇÃO: A repórter agradece o elogio, mas confirma as afirmações feitas na reportagem.
Parabéns à Consuelo Dieguez! Deem um aumento para ela (já sei que não vai ser publicado).
LUCAS LEITE ALVES_FORTALEZA/CE
NOTA DA REDAÇÃO: Surpreso, Lucas? Aproveitamos para esclarecer que Consuelo já ganha uma fábula.
NÃO SOBREVIVENTE
A entrevista com a Kátia Rabello (“A banqueira”, piauí_81, junho) me chamou a atenção. Nunca tive contato pessoal com a Kátia, mas tive, sim, o prazer de conhecer a Júnia Rabello e suas filhas Renata e Vitória quando fazia hipismo com as três na fazenda em Lagoa Santa.
Assim, lendo a matéria, me saltou aos olhos um erro grave. Na página 29 afirma-se que “o instrutor de equitação da banqueira também foi atingido pela hélice, mas sobreviveu”. De fato, o João Oscar não morreu no local do acidente, como a Júnia. Ele chegou a ir para o hospital e lá ficou internado cerca de sete ou dez dias, mas acabou não resistindo aos ferimentos.
ANNA DO PRADO_BELO HORIZONTE/MG
VAIA NO ESTÁDIO
Sem subliminares, as cartas são um atrativo à parte da revista, diversão certa, mas o que me provocou uma boa gargalhada foi um trechinho do texto de Chegada escrito por Fernando de Barros e Silva (“O som ao redor”, piauí_82, julho). Entrando de sola e referindo-se às vaias recebidas pela presidente Dilma no estádio Mané Garrincha como trilha sonora para os movimentos populares que pipocavam, acerta em cheio quando diz que “àquela altura, ainda não estava clara a conexão entre o protesto ruidoso da elite branca que chegou a pagar 300 reais para ver o Brasil derrotar o Japão e a onda de insatisfação que se espraiava pelas cidades”.
Depois, lá na final contra a Espanha, ficou claro que a mensagem da Fifa exclui a galera, deixa aquela turma pobre e bagunceira mais distante, para o bem do futebol e do país, porém não a tira das ruas.
LUIZ AUGUSTO BERTI_CURITIBA/PR
“O som ao redor”, artigo publicado na revista do mês de julho, é mais um exemplo de tentativa frustrada e distorcida da definição do que foram as manifestações do mês de junho.
“Aspirações conservadoras, estranhas à agenda da esquerda”?
“A nova direita não teria chegado às ruas de peito tão aberto”?
“Neoudenismo reunido em torno do presidente do STF”?
“Velha classe média, que viu seus sonhos de status e exclusivismo social abalados pela ascensão de uma nova horda de consumidores felizes”?
Isso tudo soa como uma imensa burrice; “É a economia, seu burro!”
É a economia, é a corrupção, é a desfaçatez dos roubos com as várias ‘copas do mundo’ de nossa vida, são os voos nos jatinhos da FAB, são os almoços e jantares de 355 reais por cabeça por nossa conta; são os mensalões! É por isso e muito mais, ou não deu para perceber?
WILLIAN BARBANERA_CAMPINAS/SP
BALADA COM PORRADAS
Não pude deixar de gargalhar com os relatos da seção Esquina (piauí_82, julho) sobre as manifestações que pararam o país. Só não tive o prazer de ver o movimento sendo chamado (merecidamente) de a Revolta do Vinagre, que tanto me faria sentir a história avançar com um ar mais fagueiro do que a marcha atual. Seja como for, não deixa de ser patético como todos (inclusive eu) querem dar um sentido a isso que, na prática, parecia mais uma festa – uma balada com porradas. Afianço-me na esperança de que ninguém consiga falar pela garotada.
RODRIGO CONTRERA_TABOÃO DA SERRA/SP
INDIGNADO
Mario Sergio Conti (Esquina“Rebelião”, piauí_82, julho) erra quando considera que“a França de 1871 e a Rússia do começo do século passado não têm nada a ver com o Brasil de hoje. Lá, os países disputavam guerras. Centenas de jovens eram destroçados diariamente à bala e baioneta”.
E não é isso o que estamos vivendo? Cinquenta mil mortos a cada ano em acidentes nas estradas, 50 mil assassinados nas cidades, milhares de destroçados em acidentes de motocicletas; a vida em prisão domiciliar, em que o cidadão honesto só tem permissão para sair durante o dia para trabalhar e à noite tem de voltar para ficar trancado em casa, enquanto os marginais patrulham as ruas. “Aqui, se está em paz”, diz ele. Me diz onde é “aqui”, cara-pálida, para eu me mudar para aí. Onde eu vivo isso não é verdade!
PAULO VIANNA DA SILVA_FLORIANÓPOLIS/SC
DA TURQUIA, COM AMOR
Hello, there! I’m Pelin from Istanbul. I’m in resistance since first day. I just wanted to say thank you for your cover. I can’t even tell how much it means to us. I want you to know that we support you! In the name of humanity, we will win! From Istanbul, with love.
CANSU PELIN ISBILEN_ISTAMBUL/TURQUIA
NOTA DA REDAÇÃO: Consultem o Google Tradutor.
PSTU
Só a declaração do membro do PSTU Júlio Anselmo (Despedida, “Sobrou para o PSTU”, piauí_82, julho), afirmando que temos todas as condições de produzir qualquer coisa no Brasil e “o que não houver aqui, expropriamos”, vale por um bifinho.
ANTÔNIO CARLOS DA FONSECA NETO_SALVADOR/BA
Ao contrário do que afirma Nonato Viegas em “Sobrou para o PSTU”, a campanha das “Diretas Já” ocorreu há trinta anos. As grandes manifestações de vinte anos atrás (21, para ser mais preciso) foram as do movimento “Fora Collor”.
RENATO DE ÁVILA VIANA_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Após assembleia, decidimos invadir o departamento de checagem.
ILHÉUS
O texto “Via-sacra” (piauí_82, julho), de Paula Scarpin, é mais um belo exemplar de “crônica de itinerário” da piauí, tal como anos atrás no inspirado “How do you do, Dutra?”, de Antonio Prata (piauí_02, novembro de 2006), ambos revelando facetas instigantes de nosso país ao percorrerem de fio a pavio nossas vias-sacras, crúcis e – por que não? – lácteas. A Esplanada dos Ministérios que se cuide…
LEONARDO MARTINELLI_SÃO PAULO/SP
É interessantíssimo o artigo de Paula Scarpin sobre os evangélicos/pentecostais no Brasil. Pena que apresente esse fenômeno como algo recente. Já em 1981 o jornal O Companheiro, do PT, falava sobre o pentecostalismo, quando da entrada de Benedita da Silva nos quadros do partido (ela era da Assembleia de Deus). No mais, Paula Scarpin está de parabéns (embora naquela rua existam 39, e não 36 igrejas – ela deixou escapar três congregações).
TULIO W. SILVA_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA DA REDAÇÃO: Acabamos de lançar gás lacrimogêneo no departamento de checagem.
ENGANO FATAL
Gente, POR FAVOR, ESTOU VIVA!
Na matéria “No epicentro da barafunda” (piauí_82, julho), de Mario Sergio Conti, sobre o Antonio Prata, minha única irmã, Ângela Carvalho, é citada, pois foi professora do Antonio. Meu filho assina a revista, recebemos aqui em casa, e qual não foi minha surpresa quando hoje li que eu… morri!
…
A professora contou que o interesse dos alunos pela literatura é cada vez menor. “A internet, a troca de mensagens e a televisão são onipresentes”, disse Ângela Carvalho. A irmã da professora morrera na semana anterior e Antonio Prata abraçou-a apertado e longamente.
…
Aiii!
Gente, eu juro que estou viva, eu sou a única irmã da professora Ângela, escrevo esse e-mail e acho que não sou uma assombração. Quem faleceu foi nossa mãe.
LÚCIA CARVALHO_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: É com gosto que informamos que o departamento de checagem acaba de levar uma bala de borracha na testa.
CARTAS
Estava lendo uns exemplares antigos da piauí, num desses momentos em que a gente percebe as discrepâncias e as concordâncias entre aquilo que o futuro reservava e aquilo que ele de fato trouxe. Nada letal, apenas um pouco deprimente, mas é interessante constatar o quadro otimista que piauí pinta sobre o Brasil. Nada mais diferente do que o resumo da linha editorial apresentado ao presidente Lula, que descrevia a revista como cínica e descrente.
O que me doeu, afinal, foram as malditas cartas. No curso do último ano, as cartas descambaram para um elegismo infantil. Fiquei triste em ver a proliferação de termos como “fantástico”, “delicioso”, “maravilhoso”, “profundo” e “bem escrito”. Sem querer ser um Stálin das epístolas, entendam bem. É que as cartas agora me parecem muito imediatas, diretas e, consequentemente, rasas. Queria pedir aos colegas leitores que retomem os comentários pontiagudos, que tanto faziam da sessão de cartas uma das mais bacanas. Deixem as coisas decantarem um pouco, comparem, contradigam, reflitam e só então escrevam. Até mesmo para dar parâmetros aos realizadores da piauí de como continuar a fazer dela uma revista que dê gosto de ler.
JÚLIO CÉSAR DA SILVA MORAES_SÃO PAULO/SP
NOTA DOS LEITORES PONTIAGUDOS: Carta deliciosa e muito bem escrita.
O CIGARRO E A CHAMA
Quem deu a pista foi o próprio Eduardo Coutinho. Ao ver sua foto na piauí de julho, ilustrando o ensaio de Eduardo Escorel, “Triunfo e tormento”, disse suspeitar ter sido feita por Ricardo Aronovich. A imagem havia sido cedida à revista pela ex-mulher do cineasta Leon Hirszman, Liana Aureliano, que desconhecia sua origem.
Consultado por e-mail, Aronovich confirmou a autoria, o lugar e a data provável – seu apartamento, em Buenos Aires, por volta de 1966.
Coutinho fizera seu primeiro filme – O Pacto, episódio do filme ABC do Amor. E Aronovich fora o diretor de fotografia de Os Fuzis, de Ruy Guerra; Vereda da Salvação, de Anselmo Duarte; São Paulo S.A., de Luiz Sérgio Person; e Garota de Ipanema, de Hirszman. No ano seguinte, faria a fotografia de O Homem que Comprou o Mundo, primeiro longa-metragem de Coutinho.
Na fração de segundo captada pela câmera, além do perfil, o olhar é atraído pela chama e o cigarro envoltos no claro-escuro, testemunho de que o registro é de um mestre da luz. Segundo Aronovich, a foto faz parte de uma série “muito anos 60, muito intelectual-looking, uma época muito bonita e agradável, o novo cinema argentino paralelo ao Cinema Novo…”.
Aronovich estudou fotografia nos Estados Unidos e iniciou sua carreira profissional na Argentina, onde nasceu em 1930. Veio para o Brasil atraído pelo Cinema Novo e declarou certa vez que tem, até hoje, “uma necessidade quase fisiológica de ver, de olhar, de viver pelo menos uma vez ao ano essa luz que vocês têm a sorte de ter aí”. Vive em Paris desde o final da década de 60. Na França, começou fotografando O Sopro no Coração, dirigido por Louis Malle, ao qual se seguiram mais de quarenta filmes assinados por Alain Resnais, Costa-Gavras, Ettore Scola e Raoul Ruiz, entre muitos outros.
No Brasil, publicou Expor uma História – A Fotografia do Cinema, em 2004.