Certa vez, ao chegar à editora, Charles Cosac notou que um quadro de Siron Franco estava danificado. Levou-o para casa e deixou vazia a parede manchada pela umidade, como testemunha do descaso. "Ninguém tomou a iniciativa de cuidar. Vi naquilo um símbolo de que a editora estava se desfazendo." FOTO: EGBERTO NOGUEIRA / ÍMÃ FOTOGALERIA_2016
A via-crúcis de Charles
As utopias e os tormentos que marcaram a trajetória da Cosac Naify
Adriana Abujamra | Edição 115, Abril 2016
Na última quarta-feira de novembro, dia 25 – data em que o calendário litúrgico comemora o martírio de santa Catarina de Alexandria, uma intelectual do século IV –, Charles Cosac decidiu se recolher em casa. Ligou para Nova York, onde vive seu cunhado, Michael Naify, e anunciou que encerraria as atividades da editora que haviam fundado dezenove anos antes. “Faça como achar melhor”, disse o outro. Vivendo fora do país, já não era de agora que o sócio havia perdido o interesse pela Cosac Naify. E não era a primeira vez que ouvia aquela conversa.
Cosac passou a sexta-feira recluso em seu apartamento, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. Às dez da noite, quando o funcionário encarregado de passear com os cães foi embora, ele se viu sozinho, “entre a cruz e a espada”. Escutou música, contemplou suas obras de arte e conversou com Deus. Não pediu nada, a não ser paciência para atravessar o Rubicão.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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