A voz do milênio
A capa da piauí_185 homenageia a cantora Elza Soares, que morreu em 20 de janeiro de 2022, e cinquenta outras personalidades negras do país. Dois estudiosos também negros ajudaram a escolher os nomes: o compositor carioca Nei Lopes, pesquisador das culturas afro-brasileiras, e a baiana Cléa Maria, mestra pela USP e doutora pela PUC-Rio em relações raciais e pedagogias decoloniais. A ilustração é de Vito Quintans.
Gilberto Gil (1942)
Cantor e compositor baiano, um dos artífices do Tropicalismo. Foi ministro da Cultura entre janeiro de 2003 e julho de 2008, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Grande Otelo (1915-1993)
Ator e comediante mineiro. Destacou-se no teatro de revista e no cinema, em especial quando fazia dupla com Oscarito nas chanchadas das décadas de 1940 e 1950.
Itamar Assumpção (1949-2003)
Cantor e compositor nascido em Tietê, no interior de São Paulo. Bisneto de escravizados angolanos, tornou-se um dos principais representantes da Vanguarda Paulista, movimento alternativo que renovou a música popular brasileira entre 1979 e 1985.
Virgínia Leone Bicudo (1910-2003)
Socióloga paulistana que se dedicou ao estudo da psicanálise e das relações inter-raciais. Foi a primeira psicanalista do Brasil sem formação médica.
Marta Vieira da Silva (1986)
Futebolista alagoana que hoje defende o Orlando Pride, time da Flórida, nos Estados Unidos. Ganhou seis vezes o título de melhor jogadora do mundo.
Erica Malunguinho (1981)
É uma das primeiras mulheres trans a se eleger deputada estadual no país. Recifense, exerce o mandato pelo Psol de São Paulo desde 2019. Também atua como educadora e artista visual. Em 2016, criou na capital paulista o Aparelha Luzia, “quilombo urbano” que virou um dos mais influentes espaços culturais dedicados à cultura negra no Brasil.
Sonia Guimarães (1957)
Primeira cientista negra do país com doutorado em física e primeira professora negra do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Nasceu em Brotas, no interior de São Paulo.
Mercedes Baptista (1921-2014)
Bailarina, coreógrafa, ativista e estudiosa das danças afro-brasileiras. Foi a primeira negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Nasceu em Campos dos Goytacazes, no interior fluminense.
Larissa Luz (1987)
Atriz, cantora e compositora baiana que fez parte da banda Ara Ketu. Foi uma das sete intérpretes de Elza Soares no musical Elza, lançado em 2018.
Nina Silva (1982)
Executiva, palestrante e ativista fluminense, especializada em gestão de negócios e transformação digital. Criou o Movimento Black Money, startup que, entre outras iniciativas, busca conectar empreendedores negros e consumidores por meio de uma plataforma online de vendas.
Neusa Santos Souza (1948-2008)
Psiquiatra e psicanalista baiana que virou referência como estudiosa da saúde mental dos negros brasileiros.
Nilma Lino Gomes (1961)
Pedagoga mineira. Entre abril de 2013 e dezembro de 2014, dirigiu a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), na cidade cearense de Redenção. Tornou-se, assim, a primeira reitora negra de uma instituição federal de ensino superior.
Zezé Motta (1944)
Atriz e cantora fluminense, com uma longa e prestigiosa carreira na televisão e no cinema. Em 1976, protagonizou o filme Xica da Silva, dirigido por Cacá Diegues.
Rosana Paulino (1967)
Artista visual, pesquisadora e educadora paulistana. Desde a década de 1990, aborda em seus trabalhos assuntos como gênero, identidade e representação negra.
Mateus Aleluia (1943)
Cantor e compositor baiano, único remanescente do grupo Os Tincoãs. O trio chamou muita atenção na década de 1970 pelo apuro vocal e por exibir um repertório nada convencional, que abrangia sambas de roda, músicas de capoeira e canções sagradas dos terreiros.
Naná Vasconcelos (1944-2016)
Músico recifense, eleito nove vezes o melhor percussionista do mundo pelos críticos da revista norte-americana DownBeat, a “Bíblia do jazz”. Ganhou nove vezes o Grammy, prêmio mais importante da indústria fonográfica.
Daiane dos Santos (1983)
Ginasta gaúcha que participou das Olimpíadas de Atenas, Pequim e Londres. Foi a primeira atleta do país, entre homens e mulheres, a ganhar uma medalha de ouro no Campeonato Mundial de Ginástica Artística. A façanha ocorreu em 2003, nos Estados Unidos.
Aída dos Santos (1937)
Atleta niteroiense. Foi a única mulher a integrar a delegação do Brasil na Olimpíada de Tóquio, em 1964. O quarto lugar que alcançou no salto em altura se manteve como o melhor resultado olímpico de uma brasileira até os Jogos de Atlanta, em 1996.
Abdias Nascimento (1914-2011)
Paulista de Franca. Foi ator, dramaturgo, escritor, artista plástico, professor universitário, político e ativista. Criou o Teatro Experimental do Negro, o Museu de Arte Negra e o Movimento Negro Unificado.
Antonieta de Barros (1901-1952)
Educadora e jornalista catarinense. Em 1934, ao se eleger deputada estadual, virou a primeira parlamentar negra do país.
Milton Nascimento (1942)
Cantor e compositor que criou e gravou clássicos como Travessia, Cais, Maria Maria, Canção da América e Morro Velho. Nasceu numa favela carioca, mas cresceu em Três Pontas, no interior de Minas Gerais.
Linn da Quebrada (1990)
Cantora, compositora e atriz paulistana que se define como travesti. Em outubro de 2017, lançou o primeiro álbum, Pajubá, e logo ganhou aplausos da crítica.
Paulinho da Viola (1942)
Cantor, compositor e violonista carioca. Ícone da Portela, é um dos maiores sambistas de todos os tempos.
Ruth de Souza (1921-2019)
Atriz carioca que, pelo talento e pioneirismo, inspirou (e ainda inspira) atores pretos e mestiços do país inteiro. Foi a primeira negra a protagonizar uma novela da Globo, em 1969, quando fez A Cabana do Pai Tomás, hoje tida como uma produção racista.
Sueli Carneiro (1950)
Filósofa, escritora e feminista paulistana. Em 1988, fundou o Geledés Instituto da Mulher Negra. A organização sem fins lucrativos luta contra o racismo e outras formas de discriminação, como o machismo, a homofobia, a lesbofobia e a transfobia.
Maxwell Alexandre (1990)
Artista visual carioca que mora e trabalha na favela da Rocinha. Suas obras compõem o acervo de instituições importantes, como o Masp, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o MAM-Rio e o Museu de Arte Contemporânea de Lyon, na França.
Lima Barreto (1881-1922)
Escritor e jornalista carioca, autor dos romances Triste Fim de Policarpo Quaresma e Recordações do Escrivão Isaías Caminha. É considerado um dos principais representantes do pré-modernismo brasileiro.
Milton Santos (1926-2001)
Geógrafo baiano que se notabilizou pelos estudos sobre a urbanização do Terceiro Mundo e os processos de globalização. Lecionou na Universidade Federal da Bahia, na Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne, na Universidade Columbia, em Nova York, na Universidade de Toronto e na Universidade de São Paulo.
Jorge Ben Jor (1939)
Cantor e compositor carioca que se destaca por tocar violão de um jeito muito original ao misturar samba com rock, maracatu, funk, soul e outros ritmos. É autor de sucessos como País Tropical, Chove Chuva, Taj Mahal, Fio Maravilha, Mas que Nada e W/Brasil (Chama o Síndico).
Garrincha (1933-1983)
Futebolista fluminense, notório pela criatividade e pelos dribles desconcertantes. Muitos o consideram o melhor ponta-direita que já atuou no Brasil. Ganhou as Copas de 1958 e 1962. Por vinte anos, manteve um violento relacionamento amoroso com Elza Soares.
Pixinguinha (1897-1973)
Maestro, compositor, arranjador, flautista e saxofonista carioca. Teve papel fundamental na consolidação do chorinho como um gênero essencialmente urbano e brasileiro. É autor de Carinhoso, em parceria com João de Barro.
Carolina Maria de Jesus (1914-1977)
Escritora, poeta e compositora mineira. Ganhou fama em 1960, quando lançou Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada. Traduzido para mais de dez idiomas, o livro narra o cotidiano da autora na comunidade pobre de São Paulo onde ela vivia com os três filhos. À época dos relatos, Carolina de Jesus trabalhava como catadora de papel.
Teresa Cristina (1968)
Cantora e compositora carioca. Foi uma das responsáveis pela revitalização da Lapa, bairro histórico do Rio de Janeiro que abrigava o Bar Semente, onde a artista se apresentava no fim dos anos 1990 e começo dos anos 2000. Durante a fase mais difícil da pandemia, suas lives no YouTube atraíram milhares de espectadores.
Marielle Franco (1979-2018)
Política e socióloga carioca. Foi assassinada com quatro tiros pela milícia quando exercia o mandato de vereadora no Rio de Janeiro. Desde então, tornou-se símbolo das causas LGBTQIA+, do feminismo e da luta contra o racismo. Até hoje o crime não foi totalmente esclarecido.
Léa Garcia (1933)
Atriz carioca que brilhou no teatro, cinema e televisão. Em 1959, concorreu ao prêmio de melhor intérprete feminina no Festival de Cannes pelo trabalho no filme Orfeu Negro, do diretor francês Marcel Camus. A também francesa Simone Signoret acabou vencendo a disputa.
Conceição Evaristo (1946)
Escritora, poeta, ensaísta e professora mineira. Lecionou na rede pública fluminense e desenvolveu pesquisas na área de literatura comparada. É autora dos romances Ponciá Vicêncio, Becos da Memória e Canção para Ninar Menino Grande.
Emicida (1985)
Cantor, compositor e escritor paulistano que se consolidou como um dos principais representantes do hip hop nacional. Com o irmão Fióti, é sócio do Laboratório Fantasma, híbrido de gravadora, produtora de shows, editora e grife de moda.
Ismael Ivo (1955-2021)
Bailarino e coreógrafo paulistano. Trabalhou com artistas de renome internacional, como a alemã Pina Bausch e a sérvia Marina Abramovic. Em 1984, ajudou a criar um dos mais importantes festivais europeus de dança contemporânea, o ImPulsTanz, em Viena. Foi diretor da Bienal de Veneza e do Teatro Nacional Alemão.
Joel Rufino dos Santos (1941-2015)
Professor, historiador, escritor e ativista carioca que se destacou nos estudos da cultura afro-brasileira. Foi duas vezes finalista do Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil.
Luiz Gonzaga (1912-1989)
Cantor e compositor pernambucano que difundiu por todo o país estilos musicais tipicamente nordestinos, como xote, baião e xaxado. É autor de Asa Branca, Respeita Januário, Pagode Russo e dezenas de outras canções obrigatórias em qualquer forró.
Lázaro Ramos (1978)
Ator, cineasta e escritor baiano. Iniciou a carreira com 15 anos no Bando de Teatro Olodum, em Salvador. Há duas décadas, protagonizou o filme Madame Satã, de Karim Aïnouz, que lhe rendeu vários prêmios. A partir daí, firmou-se como um dos mais talentosos e versáteis artistas brasileiros da atualidade.
Mãe Stella de Oxóssi (1925-2018)
Ialorixá baiana. Foi uma das mais influentes sacerdotisas das religiões afro-brasileiras. De 1976 até sua morte, comandou o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Mano Brown (1970)
Natural da periferia paulistana, é o maior rapper do país. Desde 1988, faz parte do grupo Racionais MC's.
Clementina de Jesus (1901-1987)
Cantora fluminense que iniciou a carreira profissional aos 62 anos, depois de exercer os ofícios de lavadeira e empregada doméstica. Com uma voz grave e potente, interpretou sambas, jongos e cantos ancestrais de trabalho, que remetiam à África e à escravidão. Foi celebrada por nomes fundamentais da música brasileira.
Makota Valdina (1943-2019)
Educadora e ativista baiana. Lutou contra o racismo, a intolerância religiosa e o sexismo. Também se dedicou às causas ambientais.
Mestre Didi (1917-2013)
Escritor, artista plástico e pesquisador baiano. Aos 14 anos, recebeu o título de açogbá, supremo sacerdote do culto a Obaluaiê, o orixá da cura. Estudou a religiosidade afro-brasileira e se notabilizou por recriar a simbologia dos terreiros em esculturas feitas com búzios, sementes, couro, folhas de palmeira e outros elementos da natureza.
Jaqueline Goes de Jesus (1989)
Cientista baiana que participou da equipe responsável por mapear os primeiros genomas do novo coronavírus no Brasil. Graduada em biomedicina, fez mestrado em biotecnologia e doutorado em patologia humana e experimental.
Lélia Gonzalez (1935-1994)
Filósofa, antropóloga, professora e ativista mineira que estudou principalmente as questões de gênero e etnia. Contribuiu para a fundação do Olodum, do Movimento Negro Unificado e do N'zinga Coletivo de Mulheres Negras de Belo Horizonte.
Tia Ciata (1854-1924)
Cozinheira, costureira, curandeira e mãe de santo baiana. Foi uma das principais incentivadoras do samba quando o gênero ainda sofria perseguição policial. No Rio de Janeiro, ela organizava reuniões domésticas que juntavam sambistas pioneiros, como Sinhô e Donga.
Dona Ivone Lara (1921-2018)
Cantora e instrumentista carioca que assinou sambas de sucesso, como Sonho Meu e Acreditar. Foi a primeira mulher a integrar a ala de compositores da escola Império Serrano. Antes de se dedicar exclusivamente à música, trabalhou como enfermeira e assistente social. Junto da psiquiatra Nise da Silveira, batalhou pela humanização do tratamento de pacientes com distúrbios mentais.