MDB e PSDB sofrem pior derrota
Bancadas tucana e emedebista na Câmara e no Senado são as menores desde a redemocratização; medalhões como Jucá, Lobão e Raupp ficam fora
Principais avalizadores da redemocratização, o MDB e o PSDB tiveram neste ano suas maiores derrotas nas urnas. Na disputa pela Câmara, o pior desempenho do MDB havia sido em 2014, com a eleição de 65 deputados. Desta vez, a bancada caiu quase pela metade: foram só 34 eleitos. Já os tucanos, que elegeram 54 deputados federais há quatro anos, agora são 29. Na disputa pelo Senado, os dois partidos também tiveram sua pior performance: tucanos elegeram apenas quatro (eram oito em 2002, por exemplo). Já o número de senadores eleitos pelo MDB caiu de dezesseis em 2010, quando haviam as mesmas 54 vagas em disputa, para apenas sete neste ano. Caciques emedebistas como Romero Jucá (RR), Edison Lobão (MA), Valdir Raupp (RO) e o atual presidente da Casa, Eunício Oliveira (CE), foram rejeitados pelas urnas neste domingo.
Na Câmara a bancada do MDB diminui gradativamente desde 2006. A sigla tinha 89 (17%) dos 513 deputados federais eleitos – que é um patamar bastante distante das eleições de 1989 e 1994, por exemplo, quando elegeu 108 (21%) e 107 (20%), respectivamente. Mesmo considerando as quedas das últimas eleições – em 2010 (78 eleitos) e em 2014 (65) –, a disputa deste ano foi desastrosa para o partido. Pela primeira vez desde 1986, o MDB é apenas a quarta maior bancada da Câmara, atrás de PT, PSL e PP. Antes, os piores desempenhos haviam sido a terceira colocação, em 1998 (atrás de PFL e PSDB) e em 2002 (atrás de PT e PFL).
Deixam a Câmara emedebistas relevantes dos últimos governos, como Lelo Coimbra (ES), que era líder da maioria, Beto Mansur (SP), vice-líder do governo Temer na Casa, e Tarcísio Perondi, também vice-líder de governo. Outras figuras conhecidas do MDB, como o ex-governador Roberto Requião (PR) e José Fogaça (RS) também não se elegeram – no caso deles, do Senado.
Já o PSDB viveu seu melhor momento na Câmara durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Na disputa de 1998, quando o tucano se reelegeu, o partido conseguiu 99 assentos na Câmara. De lá para cá, apresentava trajetória descendente, ainda que longe da desidratação que sofreu desta vez. No período de oposição ao PT, sempre conseguiu eleger uma bancada de deputados relevante: era a quarta em 2002 e, desde então, foi a terceira maior. A partir de 2019, os tucanos eleitos serão apenas a nona força na Câmara.
Do PSDB, os eleitores mandaram embora neste domingo figuras conhecidas, como Rogério Marinho (RN), relator da reforma trabalhista do governo Temer na Câmara, e Ricardo Ferraço (ES), relator da reforma no Senado.
No Senado, pelo PSDB, ficaram fora nomes como o ex-governador do Paraná Beto Richa, que foi preso durante a campanha, mas deixou o cárcere a tempo de votar por decisão do ministro do STF Gilmar Mendes; e o ex-governador de Goiás Marconi Perillo, que teve projeção nacional nos últimos anos e terminou num amargo quinto lugar. Há oito anos, quando o mesmo número de vagas estava em disputa, o PSDB fez seis senadores – incluindo Aécio Neves (MG), que desistiu de concorrer à reeleição. Ao voltar dezesseis anos no tempo, para 2002, o contraste fica ainda maior: naquele ano foram oito eleitos, o dobro de agora. Em 1994, os tucanos conquistaram nove das 54 cadeiras em disputa.
MDB e PSDB têm origem comum. O primeiro surgiu nos anos 60 como partido único de oposição à ditadura militar. Em 1978, conseguiu sua primeira vitória expressiva na eleição geral, apesar de ainda não ter eleito a maioria na Câmara. No período, o MDB teve vitórias como a Lei de Anistia (1979) e a restauração do pluripartidarismo (1980). O PSDB, por sua vez, surgiu em 1988 criado por dissidentes do MDB, como Franco Montoro, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, entre outros. O partido ganhou protagonismo nos anos 90, quando FHC foi ministro da Fazenda de Itamar Franco.
No pleito deste domingo, os partidos perderam espaço para novos partidos e para velhos aliados. Entre as novas forças está o PSL, de Jair Bolsonaro, que elegeu a segunda maior bancada da Câmara, 52 deputados, quatro a menos que o líder PT. Na última eleição, antes da entrada de Bolsonaro à sigla, o PSL rumava para a extinção. Caso as regras da cláusula de barreira implementada neste ano já valessem há quatro anos, o partido, que na época recebeu 0,68% dos votos válidos (768 mil) e elegeu um único deputado, deixaria de ter acesso ao dinheiro público do fundo partidário e ao horário eleitoral.
Partidos que já haviam abocanhado espaço em eleições passadas voltaram a crescer. É o caso do PRB, sigla ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, que elegeu 30 deputados (nove a mais), e do DEM, que aumentou o número de eleitos de 21 para 29. Apesar disso, o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deverá enfrentar dificuldades para se reconduzir ao cargo agora que seus principais aliados, MDB e PSDB, perderam força.
Com a nova configuração, o Senado também deve passar por uma recalibração de forças. Sem Eunício para disputar a hegemonia do MDB, Renan Calheiros, que se reelegeu em Alagoas com a segunda melhor votação, pode buscar mais um mandato como presidente da Casa. Outro que almeja a presidência do Senado é o principal cacique do PP, Ciro Nogueira, eleito em primeiro lugar no Piauí.
Além da perda de relevância, a derrota a que foram submetidos lideranças como Jucá e o ex-presidente do partido Valdir Raupp representa a perda do direito a foro privilegiado. Em meio ao descontentamento da população de Roraima com a grave crise migratória na fronteira com a Venezuela, Jucá ficou colado à imagem do governo Temer – do qual desembarcou no fim de agosto – e perdeu a reeleição por uma diferença de 426 votos (0,09%). Jucá e Raupp são réus por corrupção e lavagem de dinheiro no Supremo Tribunal Federal e, sem foro privilegiado, devem responder a acusações na primeira instância.
Após o MDB chegar ao Executivo indiretamente pela terceira vez, há indícios de que sua decadência pode ser duradoura. Um deles é o péssimo resultado de três representantes de clãs emedebistas cariocas. Danielle Cunha, cujo pai está preso há dois anos, recebeu pouco mais de 13 mil votos e não conseguiu se eleger para a Casa em sua primeira tentativa. O mesmo ocorreu com o deputado Marco Antônio Cabral, detentor de pouco mais de 19 mil votos, que tentava sua primeira reeleição. Ex-ministro do Esporte no governo Temer, o deputado Leonardo Picciani recebeu 38 mil votos e ficou de fora pela primeira vez desde 2002. Presos na Lava Jato e com os filhos fora da Câmara, Eduardo Cunha, Sérgio Cabral e Jorge Picciani dispõem agora de menos alternativas para lobby na capital federal.
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Correção: versão anterior deste texto trazia informação errada sobre o estado do candidato emedebista José Fogaça. O político é do Rio Grande do Sul.
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