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“Melancolia” – visões do poeta e do pintor

Enquanto o bonequinho do “Globo” continua dormindo, Armando Freitas Filho escreve dizendo que foi num pé e voltou noutro depois de ver o filme que não estava a fim de ver. E completa, “aí, de repente, escrevi o comentário que vai anexo”.

| 15 ago 2011_12h06
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Enquanto o bonequinho do “Globo” continua dormindo, Armando Freitas Filho escreve dizendo que foi num pé e voltou noutro depois de ver o filme que não estava a fim de ver. E completa, “aí, de repente, escrevi o comentário que vai anexo”.

From: armando freitas filho
Date: Wed, 10 Aug 2011 23:45:39 -0300
To: Eduardo Escorel
Subject: MELANCOLIA

O clichê musical é um bom pano de fundo para essa melancolia com agá. Sendo de Tristão e Isolda e… Wagner, então nem se fala, com o esgar da sua beleza terrível, tóxica, nauseante. Será que Lars von Trier “compreende Hitler” a partir daí, com a percepção deformada por essa ânsia? O trailer incorporado ao filme em câmara lentíssima casa muito bem com a música espasmódica, narcótica, repetida tantas vezes como o dia depressivo que é sempre o mesmo, pastoso, hipnótico. O banho, antes impossível, se torna um êxtase, um apogeu impassível, sob a iluminação dormente. Afinal, na melancolia não cabe mais nada, além da aceitação. Mas na angústia, cabe, ao menos, o sobressalto doloroso. A Angústia propõe à Melancolia um vinho à luz de velas na hora H do cataclismo, e esta responde zombeteiramente sugerindo a inclusão da Nona de Beethoven, como música ambiente. Mas o aferidor cósmico feito pela mão de uma criança, a partir de um galho fincado no peito do observador (que talvez apure a batida do seu coração) ajusta, sem erro no seu aro de arame extremo, isento de dúvidas ou probabilidades como as do telescópio frio, a aproximação avassaladora da colisão. E se a Nona Sinfonia irrompesse com o seu coral vívido, de Alegria plena? A vida escaparia por um triz e o filme, seria outro, contrário, adverso mesmo a esse, e outro o seu autor, que não compreenderia Hitler?

No sábado passado (6/8), Sérgio Telles publicou “As duas melancolias de Trier” no “Estado de S.Paulo”. Embore considere que “Melancolia” é aquém de outras criações do diretor que integra sua “Santíssima Trindade cinematográfica”, Telles escreve que o filme “é uma parábola transparente e linear, onde tudo está exposto diretamente. Por isso mesmo talvez seja o filme onde o pessimismo desiludido do diretor se expressa de forma mais radical. Ao contrário dos outros filmes, nos quais a destrutividade e a loucura atingem apenas alguns personagens, ínfima fração da humanidade, em ‘Melancolia’ é a própria raça humana que está em vias de extinção.[…] É interessante que Trier represente o poder letal da melancolia, ou seja, da pulsão de morte, como algo que provém dos confins do espaço sideral, uma ameaça cósmica externa, quando, pelo contrário, ele está muito próximo, no íntimo de cada um.”

Enquanto isso, o bonequinho dorme.

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