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“Michelle, encolhi os ministros”

Bolsonaro se emancipa de seus tutores e mostra quem manda no governo

José Roberto de Toledo | 06 jul 2019_10h24
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Os tutores não tutelam mais. Nem Paulo Guedes, nem Sergio Moro, tampouco os generais. Jair Bolsonaro tomou posse em 1º de janeiro, mas só se emancipou como presidente em junho. Foram quase seis meses até que o empossado tomasse posse do Palácio e da Esplanada. 

O lento processo de emancipação culminou no mês passado. Foi numa noite de domingo, a do vazamento das conversas nas quais Moro rasga a toga e comanda os acusadores da Lava Jato, que o presidente começou a se livrar das últimas amarras. Avançou demitindo o general Santos Cruz da Secretaria de Governo e consolidou seu poder fritando em público o presidente do BNDES sem avisar o chefe da vítima, o ministro Guedes.

Desde então, Bolsonaro mostrou, repetidamente, quem manda. O capitão demitiu o general sem dar-lhe quaisquer explicações, atropelou o Posto Ipiranga na reforma da Previdência tentando emplacar uma exceção para os policiais e beneficiou-se do desgaste público de Moro, seu mais próximo concorrente em 2022. Bolsonaro cresceu enquanto seus pretensos tutores encolheram. Quem não era minion está ficando. Dentre os miniaturizados, a competição é dura para ver quem perdeu mais massa crítica, mas o general Augusto Heleno seria protagonista na versão brasiliense da comédia intitulada “Michelle, encolhi os ministros”. 

Quando não está fazendo papel de figurante em live presidencial pelo Facebook, o titular do Gabinete de Segurança Institucional, o GSI, perpetra frases que emulam o conhecimento aritmético do seu chefe: “Esses índices de desmatamento são manipulados. Se você somar os percentuais que já anunciaram até hoje de desmatamento na Amazônia, a Amazônia seria um deserto”. 

A frase soa especialmente chocante para quem acreditava que o ex-comandante das forças das Nações Unidas no Haiti fosse o cão de guarda plantado no Palácio do Planalto pelo generalato para corrigir rumos, não apenas palavras mal-pronunciadas pelo presidente. A convivência diária com Bolsonaro parece ter surtido mais efeitos em Heleno do que o contrário. A frase sobre o desmatamento amazônico pressupõe que o ministro somou taxas de crescimento como se fossem números absolutos, e concluiu, equivocadamente, que elas superavam 100% da floresta.

Pode ter sido blague, ou outra tentativa de desqualificar o que resta de técnico e científico no governo. Afinal, basta começar por “I” de instituto que o bolsonarismo transforma em alvo: Inpe, IBGE, Ibama. Até instituições privadas, como o Ibope, sofrem campanha permanente de descrédito. Fato é que o general não perde chance de demonstrar seu senso de humor peculiar. Quando um sargento da Aeronáutica foi preso pela polícia espanhola com 39kg de cocaína na mala que trouxera dentro de um avião da comitiva de Bolsonaro, Heleno eximiu-se de responsabilidade pela falha de segurança fazendo piada: “Só se fôssemos videntes, se o GSI tivesse bola de cristal”.

Fossem mesmo adivinhos, talvez os militares pensassem duas vezes antes de aderir ao governo Bolsonaro.

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