Mulheres de Bukowski
Nos vinte e um anos que se passaram desde sua morte, a reputação do escritor americano Charles Bukowski só fez crescer. Era já extensa em 1994, quando morreu, aos 73 anos e muito antes a força de sua poesia havia sido exaltada por ninguém menos que Jean Paul Sartre e outros exigentes leitores em todo mundo.
Nos vinte e um anos que se passaram desde sua morte, a reputação do escritor americano Charles Bukowski só fez crescer. Era já extensa em 1994, quando morreu, aos 73 anos e muito antes a força de sua poesia havia sido exaltada por ninguém menos que Jean Paul Sartre e outros exigentes leitores em todo mundo. O alcoolismo permeou toda a difícil vida de Bukowski e pesou sobre sua obra (em larga parte uma catarse autobiográfica), considerada por longo tempo obscena nos Estados Unidos.
A desordem de sua vida pessoal, a liberdade de sua linguagem, as referências despudoradas a respeito de amigos e conhecidos vivos, e muitas outras características da personalidade destruidora de Bukowski lhe valeram em vida um sem-número de inimigos, mas na literatura um número muito maior de leitores e admiradores.
Fora dos Estados Unidos, o Brasil é um dos países onde a obra de Bukowski, com mais de vinte e cinco traduções, parece ter tido um impacto mais durável.
Em 1977, quando escreve a carta reproduzida nesta página, Bukowski é já um autor , famoso no mundo literário mas em torno do qual o atual “mito Bukowski” ainda não se havia solidificado. A carta é dirigida a seu editor francês, Raphaël Sorin, que o traduzia e publicava em Paris, nas suas Edições do Sagitário. Traz, como era costume de Bukowski nas cartas íntimas, um auto-retrato do escritor, montado a cavalo e fumando sob um céu escaldante. A carta é também notável por comentar um de seus livros mais famosos, Mulheres, que acabara de escrever:
“Mulheres’ está agora terminado: 433 páginas datilografadas, 99 capítulos. Mas John Martin, meu editor da Black Sparrow, vai provavelmente esperar um ano ou um ano e meio antes de publicá-lo, porque o Amor é um Cão dos Diabos acaba de sair. Mulheres é de longe o que escrevi de melhor até hoje e gostaria muito de vê-lo impresso, mas não posso esperar que J. Martin publique um novo livro logo após o outro. Ele diz que dá conta de mim, mas às vezes eu me pergunto. Mandei-lhe 35 novos poemas desde que acabei o livro, duas semanas atrás, e mais um conto. Estou trabalhando quase como um alucinado, bebendo duas ou três garrafas de vinho por noite, apostando nos cavalos durante o dia, e brigando o tempo todo com minha namorada. As coisas em mim explodem e pulam. Eu não sei de onde vem, mas enquanto vierem vou pegando.”
Datilografada e assinada “Buk”, como todas as cartas aos amigos, essa é particularmente interessante pelo apreço que Bukowski manifesta por seu livro mais recente e pelo desabafo das últimas linhas, resumo de sua vida de intensa criatividade literária, bebedeira e relações tumultuadas com inúmeras mulheres.
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