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    INTERVENÇÃO EM FOTO DE DANILO VERPA/FOLHAPRESS

questões eleitorais

Nem Bolsonaro nem “politicamente correto” seguram Mourão

Presidenciável pediu duas vezes que seu vice tenha “cuidado” com controvérsias; general diz que não se arrepende do que falou

Fabio Victor | 26 set 2018_18h16
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Candidato a vice de Jair Bolsonaro e autor de frases que incomodaram a campanha do capitão reformado, o general da reserva Hamilton Mourão, do PRTB, diz que não se arrepende do que falou e se queixa de ter suas opiniões sufocadas pelo “politicamente correto” de uma corrida eleitoral. Em entrevista à piauí, Mourão contou que Bolsonaro pediu duas vezes para que ele baixasse o tom – mas o militar diz que, por não ser político, tem dificuldade em camuflar o que pensa.

O general ganhou notoriedade quando Bolsonaro sofreu um atentado em 6 de setembro e teve que abandonar a campanha de rua. Sob holofotes, o vice passou a expressar, como ele diz, seu pensamento “de forma sincera”. Cogitou uma intervenção militar em caso de “anarquia”, defendeu uma nova Constituinte sem participação popular (feita por um “conselho de notáveis” e só então submetida a plebiscito) e definiu como “fábrica de desajustados” famílias pobres lideradas por mães e avós.

Com a repercussão negativa das declarações de Mourão, integrantes da campanha de Bolsonaro passaram a pressionar o general para que submergisse. O militar rejeita a ideia de ser um fardo para a campanha e nega ter sido proibido de falar, mas conta que Bolsonaro já conversou com ele duas vezes sobre o assunto: “Ele disse para eu ter cuidado quando eu fosse me referir a determinados temas, porque acaba gerando essas controvérsias que, no frigir dos ovos, não são boas para a campanha.”

Mourão não foi o único da campanha do PSL a ser advertido por Bolsonaro para ficar calado. Depois de ter sido admoestado pelo candidato ao falar sobre impostos, o economista Paulo Guedes, por exemplo, cancelou todos os eventos públicos e mandou e-mail para a equipe que ajuda no programa de governo pedindo que não se manifestem publicamente.

À piauí, Mourão reiterou suas declarações, mas considera que elas foram descontextualizadas ou exageradas. “É aquela história, quando eu falava isso e não era candidato, ninguém nunca deu bola. Porque eu passei a ser candidato, aí tudo que a gente fala é uma casca de banana em que a gente pode escorregar.” Os desentendimentos acontecem, segundo ele, porque uma campanha política “exige” o politicamente correto. “Você fica asfixiado, parece que teu pensamento não pode ser expresso. Se expressa seu pensamento de forma sincera, você é condenado, então tem que ficar camuflando as coisas, como a maioria dos políticos faz. Eu acho isso muito ruim”, afirmou Mourão.

O general disse que repete há muito tempo, sem repercussão, declarações como as que provocaram incômodo à campanha de Bolsonaro. Sobre as “fábricas de desajustados”, disse que se referiu a um caso específico, “daquelas famílias dentro das favelas onde as mães têm de sair de casa e não têm creche nem escola integral para deixar o filho, às vezes pega uma menina um pouco mais velhinha que fica ali para tomar conta dessas crianças… então todos sujeitos à influência do narcotráfico que circunda aquilo ali. Aí fazem a generalização”. Com famílias ricas, disse Mourão, é diferente. “Você pega um lar gerido por uma mulher, uma advogada, que tem um salário bom, ela bota o filho numa boa escola, isso não tem nada a ver. Cada caso é um caso.”

Mourão, que nesta semana participou de eventos pelo Sul do país, disse apoiar a ideia de que Bolsonaro divulgue um manifesto se comprometendo com a democracia e que ajude a amenizar a oposição exibida em ações como o movimento #EleNão. Segundo o general, a iniciativa do manifesto partiu do núcleo da campanha “ligado a mercado e sindicatos patronais”. “Mas é uma decisão que vai ser só do Bolsonaro. Até agora que eu saiba ele não decidiu nada a respeito, talvez ele deixe para a semana que vem. Se for para pacificar espíritos – porque o pessoal está querendo se exaltar além da necessidade –, eu acho que seria muito bom.”

Chamado mais de uma vez por Ciro, candidato pelo PDT, de “jumento de carga”, Mourão respondeu: “O problema do Ciro é que ele é mal-educado. Eu não sou mal-educado. Eu falo as coisas com convicção e de forma a não ofender as pessoas. O Ciro parte para a ofensa pessoal. Já falei que não vou enveredar numa discussão desse nível com o Ciro.”



Aos 65, Antônio Hamilton Martins Mourão, foi convidado por Bolsonaro para ser vice depois que outras três opções deram errado – o senador Magno Malta, a advogada Janaina Paschoal e o general Augusto Heleno. Ele entrou para a reserva em fevereiro. Em seus últimos anos como general da ativa, provocou barulho e crises por suas declarações políticas.

Assim como Bolsonaro, considera o coronel Brilhante Ustra, que chefiou um dos principais centros de tortura da ditadura militar, um “herói”. Em setembro de 2015, quando chefiava o Comando Militar do Sul, criticou a “incompetência, má gestão e corrupção” do governo da então presidente Dilma Rousseff. As declarações, aliadas à conivência com subordinados que haviam feito homenagens a Ustra, lhe custaram o cargo – foi transferido para a Secretaria de Economia e Finanças do Exército, um cargo burocrático em Brasília.

Em 2017, durante palestra numa loja maçônica, Mourão defendeu a possibilidade de uma intervenção militar caso o Judiciário não punisse políticos corruptos. Apesar da pressão para que fosse exonerado, o comandante do Exército, general Villas Bôas, contemporizou e o manteve na função. Menos de três meses depois da fala na loja maçônica, Mourão, em nova palestra, disse que o governo Temer tentava chegar ao final do mandato “aos trancos e barrancos, (…) mediante um balcão de negócios”. O Palácio do Planalto não gostou, e Mourão foi exonerado.

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