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    Ilustração de Isabela da Silveira sobre fotos de Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

questões de mídia e política

Nos ombros de Queiroz, a volta do Zero Um

Graças a escândalo envolvendo assessor, Flavio Bolsonaro termina o ano como o bolsonarista mais lembrado no Twitter

Luigi Mazza | 08 jan 2020_09h30
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O senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente da República, terminou o ano de 2019 do mesmo jeito que começou: enrolado com investigações. Em dezembro de 2018, seu ex-assessor Fabrício Queiroz foi citado em um relatório que apontava repasses suspeitos de dinheiro para funcionários do gabinete de Flavio, na época em que ele era deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Um ano depois, Queiroz e Flavio voltaram às manchetes por conta de novos desdobramentos da investigação. Mais uma vez, a repercussão negativa do caso fez com que Flavio disparasse em número de menções no Twitter: no último mês de dezembro, ele foi lembrado 1,8 milhão de vezes, mais do que qualquer outro membro do governo. Os dados foram compilados pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (Dapp-FGV) que, a pedido da piauí, monitora, desde janeiro de 2019, menções a figuras políticas ligadas ao governo Bolsonaro na rede social.

Esse foi o maior número de citações a Flavio Bolsonaro no ano passado, quando foram revelados detalhes do relatório do Coaf, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras – que depois mudou de nome e se tornou a Unidade de Inteligência Financeira (UIF). Veio à tona, nessa mesma época, a informação de que Queiroz movimentou 1,2 milhão de reais e fez uma série de depósitos em dinheiro na conta de Flavio. Os indícios apontavam, desde então, para uma possível prática da “rachadinha”, esquema ilegal que ocorre quando assessores de políticos transferem de volta para eles uma parte do salário que recebem.

Agora, as revelações que fizeram Flavio decolar no Twitter no mês passado são fruto da investigação aberta pelo Ministério Público do Rio. No último dia 18 de dezembro, a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Queiroz e outros ex-funcionários do gabinete. Nas redes sociais, as menções foram predominantemente negativas. O debate se concentrou em torno de figuras ligadas à esquerda, que aproveitaram o episódio para criticar o governo. Hashtags como #FlavioBolsonaroNaCadeia viralizaram. Mesmo antes da operação da polícia, alguns tuiteiros usaram a hashtag #ParabénsQueiroz, ironizando o fato de que as revelações sobre o ex-assessor completaram um ano.

 

Com o pico de citações a Flavio, essa foi a primeira vez, desde março de 2019, que um bolsonarista teve mais menções do que o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro. O ex-juiz é o membro do governo com o maior número de citações espontâneas no Twitter – isto é, seu engajamento não depende de crescimentos episódicos. Como é o ministro mais popular do governo e simboliza duas pautas caras ao eleitorado bolsonarista – a segurança pública e o combate à corrupção –, seu patamar está quase sempre acima de 1 milhão de menções na rede, e ele costuma liderar o ranking com folga. No último mês de dezembro, foi lembrado 1,7 milhão de vezes pelos tuiteiros.

Depois de Flavio e Moro, o bolsonarista mais citado no Twitter em dezembro foi o ministro da Educação, Abraham Weintraub, lembrado 905 mil vezes. Ele vinha num patamar alto desde novembro, quando, numa declaração à imprensa, afirmou que “há plantações extensivas de maconha” nas universidades brasileiras. Além disso, Weintraub tem bastante engajamento no seu próprio perfil na rede social, e costuma crescer graças a polêmicas e provocações feitas por ele – geralmente à esquerda e à imprensa. Ainda em novembro, o ministro filmou a si mesmo tocando músicas natalinas no saxofone e publicou o vídeo no Twitter, com uma legenda irônica: “Escândalo: ministro da Educação é flagrado dentro do MEC se preparando para o Natal!” A performance foi curtida por 29 mil perfis.

Outro fator que impulsionou as menções a Weintraub, mais recentemente, foram os rumores de que ele deixaria o comando do ministério. Essa possibilidade foi levantada, inicialmente, por uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. Um dos indícios da saída de Weintraub era o fato de que, pouco antes de o ministro entrar de férias, em dezembro, vários de seus funcionários foram exonerados da pasta – entre eles, alguns assessores de confiança. As informações davam conta de que, com o MEC esvaziado, Weintraub poderia não retornar à Esplanada após do recesso de fim de ano. No entanto, ele já retomou o trabalho este ano.

O próprio ministro foi ao Twitter ironizar a notícia. Seus seguidores viralizaram a hashtag #WeintraubFica, e membros do governo saíram em sua defesa. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) afirmou, no Twitter, que este é “o melhor MEC dos últimos tempos, disparado”, e disse que os rumores não passavam de intrigas plantadas pela imprensa. No plenário da Câmara dos Deputados, Eduardo fez ainda um discurso exaltando Weintraub. Segundo ele, o ministro é um dos defensores mais aguerridos da pauta cultural no governo Bolsonaro.

 

 

Os dados de engajamento no Twitter permitem traçar o quadro do que foi o primeiro ano de governo Bolsonaro e quem protagonizou as discussões políticas nesse período. Depois do próprio presidente, o ator político mais relevante do bolsonarismo foi o ministro Sergio Moro. Em seguida, vem a família Bolsonaro, nas figuras de Flavio, Carlos e Eduardo. Os três irmãos estiveram constantemente no topo da lista dos mais citados na rede social, em 2019. Nesse aspecto, eles têm mais relevância política do que quase todos os ministros do governo.

No acumulado do ano, Moro foi mencionado 34 milhões de vezes. Somados, Flavio, Carlos e Eduardo Bolsonaro tiveram 33 milhões de menções. Enquanto isso, os treze ministros e ex-ministros do governo mais citados na rede tiveram, juntos, 29 milhões de citações.

Dos três filhos de Bolsonaro, Eduardo, o caçula, é o que tem maior engajamento ativo no Twitter, e de forma mais estável. Sua conta funciona como uma espécie de porta-voz do governo, aglutinando debates e posições que depois são replicadas por outras figuras do bolsonarismo. O irmão do meio, Carlos, é um tuiteiro voraz que costuma crescer em cima de brigas e ataques a rivais políticos, mas não exerce papel de polo aglutinador na rede. Já o irmão mais velho, Flavio, é o menos tuiteiro dos três, mas tem um índice alto de menções orgânicas – já que, de certo modo, ele se tornou um flanco no bolsonarismo onde se concentram boa parte das críticas ao governo. Quando Flavio surge nos trending topics, é de forma passiva, não ativa. Por isso, em geral, tem menos menções que seus irmãos, com exceções episódicas. No ano passado, as duas exceções se deveram a Queiroz.

Em dezembro, no entanto, enquanto Flavio crescia, os outros dois irmãos diminuíam em número de menções. No caso de Eduardo, as citações caíram à metade, passando de 1,8 milhão para 706 mil. Isso se deve, em parte, ao fato de que Eduardo vinha num patamar mais alto que o normal nos últimos meses. Entre outubro e novembro, ele ficou em evidência por uma série de questões, como a disputa pela liderança do PSL na Câmara e a declaração que deu sobre a possibilidade de o governo decretar um novo AI-5.

Eduardo foi menos mencionado que sua rival, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), citada 882 mil vezes na rede em dezembro. Os dois se engalfinham desde outubro por conta da crise interna do PSL e continuam protagonizando uma rixa pública. Desta vez, o que mais impulsionou as menções a Hasselmann foi a sua participação na CPMI das Fake News, no Congresso, na primeira semana de dezembro. Na ocasião, ela fez uma apresentação de PowerPoint em que atribuiu a Eduardo a coordenação de “milícias virtuais” que, segundo a deputada, promoveram ataques a ela e a outros desafetos do bolsonarismo.

O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), por sua vez, saiu de cena por outras razões. Ele desativou seu Twitter no dia 12 de novembro – pouco depois de o presidente Jair Bolsonaro ser citado nas investigações do assassinato de Marielle Franco – e só reativou a conta em 8 de dezembro. Com isso, ele viu as citações a seu nome despencarem de 1,2 milhão em novembro para 602 mil em dezembro. Foi o seu menor patamar na rede social desde abril.

O mesmo mal acomete o vice-presidente da República, Hamilton Mourão. O general da reserva, que já chegou a ter uma média de 300 mil citações por mês no Twitter, encolheu para apenas 75 mil em dezembro. É o seu ponto mais baixo em 2019.

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