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Questões da Ciência

Novo fôlego

A disseminação das redes sociais e dos tablets tem ajudado a dar popularidade na internet a um gênero jornalístico que se consagrou no meio impresso: a grande reportagem. Estimulados pelo sucesso do formato, dois jornalistas britânicos resolveram lançar uma revista dedicada a textos de fôlego sobre grandes questões de ciência e tecnologia.

Bernardo Esteves | 29 fev 2012_19h29
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A disseminação das redes sociais e dos tem ajudado a dar popularidade na internet a um gênero jornalístico que se consagrou no meio impresso: a grande reportagem. Estimulados pelo sucesso do formato, dois jornalistas britânicos resolveram lançar uma revista dedicada a textos de fôlego sobre grandes questões de ciência e tecnologia.

A nova onda de popularidade das grandes reportagens se explica em parte pela facilidade de leitura nos dispositivos móveis. Textos longos que não se deixam ler com facilidade no computador agora podem ser salvos para serem lidos depois, com a ajuda de aplicativos como o Read it Later. Assim, podem ser apreciados nas circunstâncias de preferência do leitor – na cama, em sua poltrona favorita, numa viagem de avião.

O jornalista Lewis Dvorkin atribui o interesse crescente pelos textos de fôlego ao declínio dos grandes portais, que aconteceu em paralelo à ascensão das redes sociais. “Agora, as notícias digitais estão nas mãos de cada um, e não de uma elite restrita”, escreveu ele no site na Forbes. “O desenvolvimento de novas plataformas digitais e a fragmentação da audiência formam uma combinação que está mudando dramaticamente a natureza do conteúdo que está sendo distribuído através da web social.”

‘Recomendação’ é a palavra-chave da popularidade das grandes reportagens na internet. Têm feito sucesso na rede agregadores que reúnem textos de fôlego de várias publicações recomendados pelos leitores. O exemplo mais emblemático é o Longreads, criado em 2009 por Mark Armstrong. Sua motivação era preencher os 40 minutos diários de metrô que enfrentava entre casa e trabalho em Nova York, nos quais não conseguia acessar a internet pelo celular.

Com o objetivo de reunir sugestões de bons textos que ele pudesse armazenar para ler durante o trajeto, Armstrong lançou uma conta e o hashtag #longreads no Twitter – o perfil já tem quase 50 mil seguidores. Com o sucesso da iniciativa, um ano depois ele criou também o site do projeto, no qual as indicações dos leitores ficam arquivadas por tema, autor, tamanho do texto e tempo estimado de leitura.

Numa reportagem no site da revista The Economist, Armstrong definiu uma reportagem de fôlego como tendo entre 1.500 e 30 mil palavras (de 4 a 80 páginas A4 escritas em Times New Roman 12, espaço 1,5, aproximadamente). “Se for mais curto é um artigo; se for mais longo, você poderia muito bem chamar de livro.”

Matter
No exterior, grandes reportagens de ciência e tecnologia são publicadas rotineiramente em revistas como a New Yorker, a Wired ou a Slate. Mas não havia ainda uma publicação destinada exclusivamente a textos de fôlego sobre o tema.

A lacuna será preenchida pela revista Matter (‘Matéria’, em tradução imperfeita), cujo lançamento foi anunciado no fim de fevereiro. Seus fundadores são os jornalistas Jim Giles, com passagem pelas revistas Nature, The Atlantic, The Economist e New Scientist, e Bobbie Johnson, ex-repórter do Guardian e colaborador de várias outras publicações.

Com a promessa de mobilizar “repórteres investigativos extraordinários” para fazer “o melhor jornalismo sobre o futuro”, Giles e Johnson não foram nada modestos ao apresentar os objetivos da revista: “Matter vai se concentrar em fazer excepcionalmente bem uma única coisa. A cada semana, publicaremos uma reportagem de fôlego sobre grandes temas de ciência e tecnologia. Nada de resenhas baratas, artigos de opinião sarcásticos ou listas dos dez mais. Apenas uma matéria imperdível.”

Matter será uma revista eletrônica com versões para web e dispositivos móveis Apple e Android. O conteúdo será pago – provavelmente 99 centavos de dólar por matéria, segundo a previsão dos editores (“fazer bom jornalismo não é barato”, justificaram-se).

Eles aproveitaram para passar o chapéu junto aos leitores. E o resultado do crowdfunding foi surpreendente: em uma semana, conseguiram cerca de 85 mil dólares de quase 1.200 doadores, que investiram cotas que iam de 10 a 3 mil dólares. Os leitores que contribuíram com pelo menos 25 dólares poderão ajudar a pautar a publicação; quem deu mil dólares será considerado editor convidado e poderá participar da formatação de matérias desde o esboço da pauta.

Se os editores honrarem suas promessas, Matter será uma experiência única no jornalismo de ciência. Boa sorte a eles na empreitada.

Foto: Randal J. (RJFerret) – CC 2.5 BY-SA 

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