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O autógrafo de Tiradentes

O documento ilustrado nessa página é o único localizado até hoje em coleção privada que é de outra natureza: trata-se uma tabela das munições dos cavaleiros da Rainha no ano de 1783, seis anos antes da Inconfidência.

É intitulada “Mapa diário do municiamento dos cavaleiros de Sua Majestade em que estão montados os soldados furriel destacados no Caminho Novo, Porto de Meneses, no exercício das patrulhas de que é comandante o alferes Joaquim Jose da Silva Xavier”.

| 21 nov 2012_18h22
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Anônimo durante quase toda sua vida, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, que passou à posteridade sob a alcunha de Tiradentes, é hoje famoso como um dos maiores heróis de nossa História, e reverenciado como o “Mártir da Inconfidência”.

Todos sabem que Tiradentes foi o único dos participantes da Inconfidência Mineira, conspiração que visava tornar a colônia do Brasil independente de Portugal, a ser executado. O fato de seu corpo ter sido decepado em vários pedaços ? logo pendurados em postes para servir de exemplo à população, ? certamente marcou a imaginação das dezenas de milhões de alunos brasileiros que ouviram esse relato de seus professores ao longo dos últimos cem anos.

Se o Império já lhe reconhecia os méritos, a República fez de Tiradentes o herói maior e o congelou numa túnica branca, com longos cabelos e barba, como é sempre representado, dirigindo-se para a forca.

Mas Joaquim José da Silva Xavier foi também um personagem de carne e osso, militar com a patente de alferes (que exercia ocasionalmente a função de arrancador de dentes), a respeito do qual pouco se sabe. De um personagem tão pouco notado em vida, sobrevivem geralmente raríssimos ou nenhum papel, pois estes não eram conservados por seus contemporâneos.

No caso de Tiradentes, uma pilha de recibos assinados pelos seus soldos de alferes parece ter sido encontrada no final do século XIX ou no começo do século XX, pois vários destes passaram a fazer parte das coleções privadas de políticos ou homens notáveis desta época. É possível que lhes tenham sido presenteados por algum prefeito ou autoridade mineira, mas, em todo caso, eram conservados como preciosidades pelos seus detentores.

Nas gerações seguintes ocorreu o fenômeno inevitável do esquecimento e os descendentes dos presenteados já não sabiam que aquele papel antigo continha a assinatura de Tiradentes. É verdade que ela é difícil de identificar, pois o que se lê é “Joaq. José da Sa. Xer”, seguindo as abreviações usadas na época para “Joaquim José da Silva Xavier”.

Vários desses recibos assinados por Tiradentes devem ter se perdido ou sido jogados fora, pois não foram identificados como valiosos após a morte de seus primeiros donos. Outras foram conservadas em meio a outros papéis antigos, muitas vezes identificados erroneamente, mas pelo menos sobreviveram e foram reconhecidos mais tarde por aqueles que sabiam o formato da assinatura de Tiradentes.

Nos últimos 40 anos foram identificados em coleções privadas aproximadamente sete desses documentos, todos do mesmo tipo: recibos pelos serviços prestados como alferes, geralmente escritos por um amanuense e apenas assinados por Tiradentes.

O documento ilustrado nessa página é o único localizado até hoje em coleção privada que é de outra natureza: trata-se uma tabela das munições dos cavaleiros da Rainha no ano de 1783, seis anos antes da Inconfidência.

É intitulada “Mapa diário do municiamento dos cavaleiros de Sua Majestade em que estão montados os soldados furriel destacados no Caminho Novo, Porto de Meneses, no exercício das patrulhas de que é comandante o alferes Joaquim Jose da Silva Xavier”. A tabela não parece ser na letra de Tiradentes, mas este a assina “Joaq. José da Sa. Xer. Alf Cmd. do Camo. Novo” (alferes comandante do Caminho Novo).

Este documento pertenceu à coleção de um deputado (e mais tarde Presidente do Supremo Tribunal Federal), nascido em Minas no século XIX, que o deu ao seu irmão. Foi depois herdado pelos descendentes deste.

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