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“O Bem Amado” – orquestração promocional

Em abril, quando “Chico Xavier” foi lançado, comentei (releia: Chico Xavier - o filme e Chico Xavier - promoção orquestrada II) o que mais parecia campanha promocional do que cobertura  jornalística, feita por emissoras de televisão associadas à produtora Globo Filmes.

| 23 jul 2010_14h15
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Em abril, quando “Chico Xavier” foi lançado, comentei (releia: Chico Xavier – o filme e Chico Xavier – promoção orquestrada II) o que mais parecia campanha promocional do que cobertura  jornalística, feita por emissoras de televisão associadas à produtora Globo Filmes.

Ainda que em menor grau, a mesma distorção se repete agora, no lançamento de “O Bem Amado”. Não haveria conflito ético entre assinar reportagem promocional e 5 dias depois, na véspera da estreia, fazer a crítica do filme?

Sábado passado (17 de julho), a primeira página do Segundo Caderno de “O Globo” foi dedicada inteira aos filmes brasileiros que teriam expectativa de serem vistos por mais de um milhão de espectadores. Entre eles, “O Bem Amado” aparece com destaque. A matéria, com a manchete “Candidatos ao milhão”, mencionando “uma safra de potenciais ‘blockbusters’”, é assinada por Rodrigo Fonseca.

Ontem (sexta-feira, 22 de julho), o mesmo repórter atribui ao filme a segunda maior cotação do jornal, sem a usual segunda opinião divergente que, por exemplo, “À prova de morte”, dirigido por Quentin Tarantino, mereceu na semana passada.

Agregando anúncio de meia página, publicado no primeiro caderno de “O Globo” de ontem, e mídia na TV Globo, que só filmes distribuídos pela Globo Filmes tem meios para ter, a campanha promocional e publicitária recorre à velha fórmula que busca obter benefícios da sinergia entre matérias jornalísticas, anúncios, comerciais, trailers etc.

Quanto a isso, nenhum reparo. O que cabe observar é que o cinema brasileiro não está sendo transformado apenas em subproduto da televisão, está se tornando um subproduto da TV Globo. Além disso, a credibilidade da crítica de cinema do Segundo Caderno de “O Globo” fica em frangalhos ao ser integrada a campanhas promocionais e publicitárias.

A matéria de página inteira do dia 17, “Candidatos ao milhão”, incluindo foto de cena de “O Bem Amado” em 5 colunas, procura induzir o leitor a acreditar que está para ser lançado um grande sucesso comercial. Uma ovação no CinePE, a marca da novela, além da confiança de exibidores e analistas do mercado são apresentadas como fundamento dessa expectativa. Ao leitor desavisado, só resta ir correndo ao cinema, aplaudir e confirmar o vaticínio.

Embora cauteloso, o analista de mercado entrevistado qualifica “O Bem Amado” de “filme muito engraçado com uma direção madura”, com potencial para ser sucesso comercial “se o primeiro fim de semana for forte”.

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Guel Arraes acredita haver “demanda por sátiras políticas”. Um comerciante é citado em apoio a essa tese. Outro, alheio à política, afirma estar interessado nas mudanças feitas no filme em relação à novela.

O filme até pode vir a ser um grande sucesso, mas não parecem frágeis esses argumentos para justificar a inclusão de “O Bem Amado” entre os “candidatos ao milhão”? Resumindo, só o que a matéria afirma é que se trata de um filme “muito engraçado” e com “direção madura”. Além disso não há nenhum argumento mais consistente que justifique tamanha expectativa.

Na crítica publicada ontem, em que o Bonequinho aplaude sentado, Rodrigo Fonseca afirma que “O Bem Amado” tem “(saudável) complexidade”, “faz um ensaio amargo sobre o coronelismo e outras formas de poder sem cabresto ético”, em que há amor, leveza e “luta de classes”. Para Rodrigo Fonseca, “Marx pousa feito abutre nas lápides do cemitério de Sucupira”.

Certos elogios comprometem tanto quem faz, quanto quem recebe. E mais parecem parte de uma orquestração promocional. Será assim que se tenta fabricar um sucesso?