O Brasil de Elizabeth Bishop
A carta reproduzida nesta página é dirigida a uma tradutora de sua obra para o italiano. Batida a máquina em Petrópolis, em julho de 1959, discute detalhes da tradução de seus poemas e diversos outros assuntos literários. Mas é no parágrafo da carta relativo ao lugar em que está vivendo que Bishop resume em sete linhas sua visão do Brasil:
Retratada no filme de Bruno Barreto, , Elizabeth Bishop é conhecida no Brasil por ter passado quatorze anos entre nós, de 1951 a 1965, durante os quais foi a companheira de Lota de Macedo Soares, idealizadora do Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro.
Nos Estados Unidos, Bishop sempre foi respeitada como poeta e é hoje tida como talvez a maior voz feminina da segunda metade do século XX.
Sua reputação só faz crescer, e também no Brasil recuperou-se nos últimos anos a memória do tempo que passou entre nós e da intensa história de amor que viveu com Lota.
Bishop foi sempre ambivalente com relação ao Brasil, fascinada por muitos de seus aspectos mais calorosos, mas horrorizada com a pobreza, com a injustiça e com o atraso.
Talvez poucas pessoas de seu tempo tivessem menos predisposição que Bishop para entender ou gostar do Brasil. Educada em colégio tradicional dos Estados Unidos, branquíssima, tímida e formal, era totalmente ignorante a respeito de nosso país quando aportou no Rio para uma breve estada que se prolongou, com idas e vindas, por um terço de sua vida adulta.
O final da história, como se sabe, é trágico. Termina com o suicídio de Lota em Nova Iorque, profundamente deprimida, aos 57 anos, em 1967.
Bishop sobreviveu por mais doze anos e morreu em 1979, cercada de admiração, mas ainda longe da posição inconteste de grande poeta americana da segunda metade do século.
A carta reproduzida nesta página é dirigida a uma tradutora de sua obra para o italiano. Batida a máquina em Petrópolis, em julho de 1959, discute detalhes da tradução de seus poemas e diversos outros assuntos literários. Mas é no parágrafo da carta relativo ao lugar em que está vivendo que Bishop resume em sete linhas sua visão do Brasil:
“Estou vivendo no Brasil há quase oito anos, a maior parte do tempo nas montanhas, perto de Petrópolis. Volto a Nova Iorque quando posso, mas aqui é meu verdadeiro lar agora. Como você sabe, é um país estranho, uma mistura dos séculos XVIII e XIX com rápida industrialização, terrível pobreza, luxo, preto e branco, o avançado e o primitivo – ainda estou surpresa de me ver vivendo aqui, mas vou ficando”.
As cartas de Bishop ao outro grande poeta americano de sua geração, seu grande amigo Robert Lowell, foram publicadas em 2008 e contem inúmeros comentários perplexos acerca do Brasil. Os originais dessas cartas a Lowell são hoje conservados na Universidade de Harvard, mas outras cartas dirigidas a pessoas menos intimas, sobretudo com menções tão extensas sobre nosso país, são muito raras. Esta que se acha reproduzida aqui revela bem a ambivalência com que a moça branca americana encarou o país mestiço onde o amor a prendeu por muito tempo.
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