minha conta a revista fazer logout faça seu login assinaturas a revista
piauí jogos

questões manuscritas

O Clube Beethoven

Um diploma concedido a um famoso compositor francês

| 22 abr 2016_16h44
A+ A- A

O ambiente literário e intelectual do Rio de Janeiro no final do século XIX podia até ser considerado fervilhante, mas não deixava de emanar, previsivelmente, ares provincianos. Era vivo o contraste entre, por um lado, a vida artística e intelectual dos grandes centros europeus e, por outro, a modesta e esforçada atmosfera cultural da capital do Brasil, alimentada por uma influência estrangeira avassaladora, sobretudo francesa.

O Clube Beethoven, que hoje talvez fosse identificado como um centro cultural, foi criado em 1882 por um grupo de intelectuais que, reunidos num antigo cassino, jogavam xadrez, conversavam e exerciam outras atividades ligadas a seus interesses. Durante quatorze anos, a associação abrigou saraus no distinto bairro da Glória, onde ficava sua sede.

O clube teve sócios ilustres como o caricaturista e ceramista português Raphael Bordallo Pinheiro, autor da gigantesca Jarra Beethoven em cerâmica branca. Admiradíssima na época, a peça foi oferecida como prêmio em um concurso e é hoje conservada no Museu de Belas Artes. De todos os membros do grêmio recreativo, o mais ilustre foi, sem dúvida, o sócio-bibliotecário, Joaquim Maria Machado de Assis.

Para dar-se certa importância, o clube resolveu outorgar diplomas de membros honorários ou membros correspondentes a grandes figuras das letras e das artes fora do Brasil.

O documento aqui reproduzido é o diploma concedido ao famoso compositor francês Charles Gounod, autor da ópera Faust, que ainda integra o repertório das maiores casas de espetáculo do mundo.

O diploma é encabeçado por uma bela gravura idealizada da cabeça de Beethoven, e traz as assinaturas dos diretores do clube, entre os quais Machado de Assis, o único que a posteridade poupou do esquecimento.

Gounod deve ter recebido o diploma mandado para Paris como apenas mais uma das inúmeras homenagens que constantemente lhe enviavam da França e de todo o mundo, famoso como era.

Não é possível precisar se o diploma foi conservado por seus descendentes ou sabe-se lá por quantas mãos terá passado nessas quatorze décadas. Seu atual detentor acabou por adquiri-lo há cinco anos, de um livreiro parisiense que teve o mérito de reconhecer a assinatura de nosso mais famoso escritor.

Assine nossa newsletter

Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí