O contrato de Debret

Jean-Baptiste Debret é geralmente considerado, juntamente com Johann Moritz Rugendas, o maior dos artistas viajantes estrangeiros que pintaram o Brasil no século XIX.

A fama de ambos deve-se muito ao fato de seus desenhos terem sido transpostos para elaboradas gravuras, inseridas em álbuns luxuosos que os artistas editaram em Paris, coincidentemente na mesma época, 1834 e 1835.

A grande divulgação que conheceram essas gravuras – executadas na técnica da litografia ? contribuiu para tornar o nome dos dois artistas familiar aos brasileiros das gerações seguintes, ainda que o objetivo inicial dos livros tenha sido mostrar pela primeira vez imagens originais do país para o público europeu.

Debret acompanhou de perto, e participou com bastante intensidade, do preparo do grande livro ilustrado que o imortalizou, intitulado .

O editor de sua obra era ninguém menos que Firmin Didot, hoje considerado o tipógrafo mais criativo assim como o impressor mais importante da França no século XIX.

Debret era amigo do famoso Didot, cuja firma “Firmin-Didot e Irmãos”, levou cinco anos para imprimir toda sua obra, publicada inicialmente em fascículos, que comporta um total de mais de cem magníficas pranchas em litografia.

As imagens de Debret estão presentes na retina de todos os brasileiros que se interessam por nossa história. Suas cenas são deliciosos e detalhados registros do dia a dia do Rio de Janeiro no período imediatamente anterior à invenção da fotografia.

Poucas cidades tiveram uma reportagem do seu cotidiano e de seus costumes tão ampla e tão precisa quanto a que Debret realiza nas primeiras décadas do século XIX, e a ele devemos muito da documentação visual mais importante do final do período colonial.

O documento aqui reproduzido é o contrato original assinado entre Firmin Didot e Debret para a confecção do Viagem Pitoresca, assinado por ambos em Paris em 30 de outubro de 1833, em papel carimbado com o timbre real.

clique na imagem para ampliá-la

O documento estipula que:

“Entre o senhor J. B. Debret, pintor de história, e os senhores Firmin-Didot & Irmãos, impressores-livreiros, convenciona-se o que segue: o senhor Debret, autor de uma Viagem ao Brasil, compromete-se a entregar aos senhores Didot o manuscrito e as pedras litográficas desta obra, que deve formar cerca de três volumes e ser publicada em fascículos de seis páginas de texto e seis pranchas litografadas em formato fólio e papel grande velino.

Os senhores Didot se encarregarão de todas as despesas de impressão do texto e das pranchas litografadas, assim como do custo do papel, tanto para as pranchas quanto para o texto e se comprometem a publicar um fascículo a cada quinze dias, contanto que não haja atraso por parte do senhor Debret. […]

Quando as despesas de venda tiverem sido cobertas, os lucros serão divididos pela metade entre o senhor Debret e os senhores Firmin-Didot & Irmãos e para esse efeito a contabilidade será apresentada a cada três meses”.

Este contrato singelo, (do qual só se omitiu nesta transcrição o parágrafo referente aos preços) mostra o nível de confiança que existia entre o artista e seu editor. A relação não foi tão fácil, com o que estava previsto para ocorrer em menos de um ano levando mais de cinco, pois a morte de Didot, ocorrida em 1836, contribuiu para o atraso e outras complicações.

Este contrato manuscrito original, redigido em dois exemplares, permaneceu até hoje desconhecido de todos os estudiosos. Este exemplar, provavelmente o que foi conservado por Didot, teve uma trajetória desconhecida até ser oferecido em leilão no Ebay francês há dois anos, quando foi adquirido pela oferta mínima por seu atual detentor.